O que está em causa com a demissão de David Davis?
Fundamentalmente, duas visões muito diferentes do que pode ser o Brexit: uma saída que mantenha o Reino Unido na órbita da União Europeia e confirme o agregado como o principal parceiro comercial dos britânicos, a saída suave; ou uma saída mais agressiva, que tente quebrar a maioria dos laços económicos entre os britânicos e a União Europeia e permita ao Reino Unido procurar alianças (comerciais, mas também de outra ordem) noutras regiões do globo?
E com a demissão de Boris Johnson?
A crise aprofunda-se e se o peso político de Davis não seria muito, já com Boris Johnson as coisas são diferentes: é uma baixa muito pesada para a primeira-ministra, que se encontra numa posição muito delicada. Nenhum analista ficará por certo surpreendido se o governo cair a qualquer instante.
Qual é a saída mais fácil?
A primeira, desde logo porque as ligações entre o Reino Unido e a União Europeia são tão extensas, que uma saída agressiva será sempre mais difícil – mesmo em termos monetários. Por outro lado, os eurocéticos, que defendem a saída agressiva, escudam-se numa futura plataforma de entendimento privilegiado entre o Reino Unido e os Estados Unidos – mas já todos os analistas perceberam que o protecionismo importo pelo presidente norte-americano, Donald Trump, não é a melhor forma de ‘receber’ os britânicos.
Que saída prefere Bruxelas?
Supostamente a saída suave, que não criará tantas desconfianças entre os antigos parceiros. Mas também porque muitos países – nomeadamente a Alemanha – têm vultuosos interesses instalados no Reino Unido, que não deixariam de ser afetados por uma saída tempestuosa. Seja como for, a montanha de problemas que Theresa May, a primeira-ministra britânica, está a enfrentar, são uma boa notícia para Bruxelas – na circunstância em que desmotivam qualquer país que quisesse seguir os passos do Reino Unido. Aliás, a necessidade de Bruxelas ter mão pesada com o Reino Unido era uma evidência desde a primeira hora das negociações.
Qual é o plano de Theresa May?
O plano tem 12 ‘princípios-chave’, dos quais se destacam a data (29 de março de 2019), o controlo das fronteiras, o abandono da jurisdição do Tribunal de Justiça Europeu, a manutenção da fronteira aberta entre a Irlanda do Norte e a República da Irlanda e também entre a Irlanda do Norte e o resto do Reino Unido. Mas foi o “regulamento comum” com a UE que acirrou a ala mais eurocética do Partido Conservador, que logo alertou que o país ficaria sujeito às regras de Bruxelas, o que causaria dificuldades em negociar acordos de comércio com terceiros.
O que vai fazer agora a primeira-ministra?
Perante a evidência de que o seu partido está profundamente dividido em relação à saída – não só no governo como também no parlamento – a primeira-ministra tem de escolher um caminho e ‘deixar-se de democracias’. Mas muito dificilmente deixará de ter de marcar eleições antecipadas para pouco tempo depois do dia 29 de março. Isto, claro, se conseguir sobreviver politicamente até lá – o que não é certo.
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