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Respostas Rápidas. O que são os CoCos e porque perderam tudo no Credit Suisse?

O acordo para a compra do Credit Suisse pelo UBS implicou perdas históricas para os detentores de títulos do banco de elevada subordinação (Additional Tier 1, AT1 ou CoCos). Que dívida é esta e que perdas estão em causa? O JE explica.
22 Março 2023, 09h44

As autoridades suíças conseguiram um acordo, durante o fim de semana passado, para garantir a venda do Credit Suisse e conter uma crise de confiança no sector bancário. No entanto, este acordo implicou também perdas históricas para os detentores de títulos do banco de elevada subordinação (Additional Tier 1, AT1 ou CoCos).

Esta decisão obrigou as entidades europeias, nomeadamente o Banco Central Europeu, a demarcar-se da posição assumida pela Suíça e a afirmar que estas obrigações “são e continuarão a ser uma componente importante da estrutura de capital dos bancos europeus”, numa tentativa de acalmar os mercados.

Mas, afinal, o que são os chamados CoCos e porque estão no olho do furacão no Credit Suisse? O Jornal Económico explica em cinco respostas rápidas.

O que aconteceu no Credit Suisse?

As autoridades suíças aceleraram os esforços durante o último fim de semana para travar uma crise de confiança no sector bancário. A missão? Vender o Credit Suisse antes da abertura dos mercados na segunda-feira. Acabaram por chegar a acordo com o UBS, naquele que foi, segundo o governo do país, uma solução “absolutamente necessária” com o objetivo de restabelecer a confiança dos mercados.

O UBS lançou uma Oferta Pública de Aquisição sobre o Credit Suisse Group, pagando três mil milhões de francos suíços. Já o Governo deu uma garantia estatal de nove mil milhões de francos suíços para cobrir perdas potenciais com os ativos do Credit Suisse.

Mas este acordo implicou uma medida polémica ao desencadear perdas históricas para os detentores de títulos do banco de elevada subordinação (Additional Tier 1, AT1 ou CoCos), a fim de recapitalizar o Credit Suisse. Em causa estão 16 mil milhões de francos suíços.

Afinal, o que são os títulos Additional Tier 1 ou CoCos?

Os chamados CoCos são títulos de dívida equiparados a capital, emitidos pelos bancos para serem utilizados como para choques perante crises. Começaram a ser emitidos em 2008, na sequência da crise financeira, para reforçar o capital das instituições financeiras.

Por que é que a decisão suíça agitou os mercados?

No seguimento do acordo com o UBS, o regulador financeiro suíço FINMA afirmou, num comunicado, que haveria uma “redução completa” dos títulos Additional Tier 1, AT1 ou CoCos do banco, a fim de aumentar o capital principal do Credit Suisse. Enquanto isso, os acionistas do banco devem receber o equivalente a três mil milhões de francos suíços.

Num cenário típico de resolução bancária (bail-in), os acionistas são os primeiros a sofrer perdas antes das obrigações AT1 serem declaradas não pagas pelo emitente. Foi por isso que a decisão de anular a dívida mais arriscada do banco – e não o capital dos seus acionistas – provocou uma resposta furiosa por parte de alguns dos detentores de obrigações AT1 do do Credit Suisse, agitando os mercados.

“Isto não faz sentido”, disse Patrik Kauffmann, um gestor de carteiras da Aquila Asset Management AG, à “Bloomberg”, frisando que “isto será um golpe total para o mercado AT1″, avaliado em 275 mil milhões de dólares na Europa.

“Esta decisão causará alguma deslocação no mercado AT1, especialmente para nomes mais arriscados no sector. Esta foi uma decisão da FINMA (Autoridade Suíça de Supervisão dos Mercados Financeiros) e não faz parte da oferta do UBS. Fala da pressão a que o negócio Credit Suisse estava sujeito”, diz, por outro lado, Justin Bisseker, analista da Schroders, numa nota publicada esta quarta-feira.

O que é que os reguladores fizeram para acalmar os receios? 

As entidades europeias apressaram-se a acalmar os receios. Num comunicado conjunto, o Banco Central Europeu e a Autoridade Bancária Europeia afirmaram que, ao contrário do que acontece na Suíça, “o quadro de resolução implementando na União Europeia e as reformas recomendadas pelo Conselho de Estabilidade Financeira (após a Grande Crise Financeira), vieram estabelecer, entre outras coisas, a ordem segundo a qual os acionistas e credores de um banco em dificuldades devem suportar perdas”.

“Em particular, os instrumentos de capital comum são os primeiros a absorver perdas e só depois da sua plena utilização se exigiria que os instrumentos adicionais de nível 1 fossem anotados. Esta abordagem tem sido aplicada de forma consistente em casos passados e continuará a orientar as ações do Conselho Único de Resolução (SRB) e da supervisão bancária do BCE em intervenções de crise”, disseram, numa crítica ao facto de as autoridades suíças terem decretado a “redução completa” dos títulos Additional Tier 1 ou AT1 do Credit Suisse.

As autoridades europeias esclareceram ainda que as obrigações altamente subordinadas Additional Tier 1 “são e continuarão a ser uma componente importante da estrutura de capital dos bancos europeus”.

Esta decisão poderá criar um precedente na Europa? 

“A decisão de impor perdas mais elevadas aos detentores de dívida AT1 do que aos acionistas não vai estabelecer um precedente na Europa, Reino Unido ou Canadá”, afirma Maria Rivas, num comunicado divulgado esta quarta-feira.

A responsável da DBRS nota que os “regimes de resolução aplicados são claros e as autoridades vieram esclarecer que as obrigações AT1 são sempre sénior face ao acionistas”.

Artigo atualizado às 11:43

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