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Respostas Rápidas. Tudo o que precisa de saber sobre o Plano Geral de Drenagem de Lisboa

A autarquia chama-lhe “a obra invisível que prepara a cidade para o futuro”. Dois túneis vão atravessar Lisboa e escoar as águas até ao rio, mas não antes de 2025, confirma Carlos Moedas. Até lá, “paciência”, pede. A obra herculana já segue com atraso e custará até 250 milhões de euros. O Jornal Económico explica-lhe.
8 Dezembro 2022, 17h19

O fenómeno meteorológico extremo registado esta quarta-feira de madrugada veio evidenciar, pela terceira vez em três meses, que a cidade de Lisboa não aparenta ter infraestrutura para lidar com grandes volumes de precipitação. As fortes chuvas, acompanhadas de trovoada e rajadas de vento, provocaram estragos generalizados na maioria da Área Metropolitana de Lisboa e também a sul. Registou-se para já uma vítima mortal, em Algés.

À luz deste e de recentes fenómenos semelhantes, a Câmara Municipal de Lisboa (CML) tem remetido responsabilidades para as alterações climáticas e, quanto a respostas, parece haver só uma: o Plano Geral de Drenagem de Lisboa (PGDL), cujas obras, segundo o presidente da autarquia, arrancam em março.

Mas, afinal, o que é o PGDL e por que tem Carlos Moedas insistido no mesmo? Quando podem os lisboetas esperar ver concluídas as obras? O Jornal Económico explica-lhe.

O que é o Plano Geral de Drenagem de Lisboa?

O badalado PGDL, segundo o site oficial disponibilizado pela CML, “traduz-se num conjunto de ações que visam proteger Lisboa das cheias e inundações associadas a fenómenos extremos de precipitação, preparando-a para os desafios do futuro”.

O objetivo, além de evitar situações como as que se registaram em outubro, novembro e esta quarta-feira, passa por melhorar e reforçar a rede de saneamento e construir bacias de retenção. Isto é, ‘mini-barragens’ que aguentem o forte volume de água em tempo útil de forma a escoar gradualmente para o rio Tejo.

O maior destaque da obra, que foi apelidada da maior obra pública da cidade até hoje, serão dois túneis que atravessam a cidade e que farão o transvase dessas bacias. O primeiro de cinco quilómetros, entre Campolide e Santa Apolónia, e o segundo de um quilómetro, entre Chelas e Beato.

Porque é que Marcelo Rebelo de Sousa diz que esta “é uma obra estrutural”?

A concretizar-se, o conjunto de obras será a maior empreitada de sempre na cidade de Lisboa. Os trabalhos de preparação decorrem desde 2016, mas a ideia de atravessar túneis gigantes pela cidade não é de agora. O primeiro plano data de 2004 e, entretanto, vários concursos públicos internacionais ficaram desertos.

“Fala-se desta obra há 20 anos”, explicou Carlos Moedas, em declarações aos jornalistas, durante a madrugada de ontem.

Se, por um lado, as cheias causam transtorno e estragos elevados, por outro, a fatura desses estragos é cada vez maior. A CML diz que o plano foi concebido para dar resposta a caudais excessivos apelidados de “chuvas de 100 anos”, isto é, eventos que em média ocorrem uma vez por século. Mas só nos últimos três meses, aconteceram três vezes.

Quanto vai custar a obra?

A obra para a construção dos túneis foi adjudicada há dois anos a um consórcio composto pela Mota Engil e pela SPIE Batignolles Internacional. O valor previsto para estes dois projetos é de 133 milhões de euros.

Contudo, o PGDL contempla uma série de outras ações interventivas a decorrer ao longo de 15 anos, até 2030 – com o valor total do plano estimado em 250 milhões de euros, parte desse valor financiado pelo BEI.

Quando começam as obras e o que já foi feito?

Na verdade, os trabalhos já começaram. Apesar dos túneis serem o ex libris da empreitada, o trabalho de preparação que envolve a construção das bacias já arrancou. Nos quatro pontos limite – Campolide/Monsanto, Santa Apolónia, Chelas e Beato – os estaleiros estão a ser erguidos desde setembro deste ano, mês em que, por fim, os contratos foram celebrados. A previsão é de que os estaleiros de obras estejam concluídos até fevereiro do próximo ano para que a tuneladora entre em funções.

Essa mesma tuneladora H2OLi a ser usada (na imagem em destaque) já chegou a Lisboa.

Quando estarão concluídos os túneis?

O PGDL tem um plano de ação até 2030, mas esta quarta-feira Carlos Moedas assegurou que os dois túneis estarão operacionais em 2025.

Como funcionam os túneis?

Os dois principais coletores de drenagem serão os túneis Monsanto-Santa Apolónia (TMSA) e Chelas-Beato (TCB). Ambos têm 5,5 metros de diâmetro interno e serão construídos em profundidade, com a maior parte do traçado “muito abaixo das edificações da cidade e das infraestruturas existentes”, garante a CML. Essa profundidade só será diminuída nas zonas de vale da cidade.

Os túneis irão captar a água recolhida em dois pontos altos da cidade, bem como noutras bocas de entrada adicionais ao longo do percurso – Avenida da Liberdade, Rua de Santa Marta, Avenida Almirante Reis – e conduzem esse volume de água até ao rio Tejo.

Estima-se que os túneis poderão estar operacionais durante 100 anos.

Quais serão os locais mais condicionados pelas obras?

Os pontos de início e fim dos túneis, bem como os pontos adicionais de coleta pela cidade estarão condicionados ao longo dos próximos anos, motivo que levou o presidente da CML a pedir “paciência” aos lisboetas. Verifique aqui quais são esses locais.

Chove assim tanto em Lisboa? Os túneis são suficientes?

Apesar de ter fama de ser uma cidade soalheira, a chuva intensa não é nenhuma novidade em Lisboa. Na História, não faltam registos de cheias rápidas e intensas na cidade, tendo as mais graves de sempre ocorrido em 1967 e provocado a morte de cerca de 700 pessoas (número oficial, que na realidade deverá ter sido mais elevado).

Dada a topografia da cidade, é fácil perceber como é que grandes volumes de água se concentram nas zonas baixas.

Contudo, os túneis poderão não chegar para conter um problema que a autarquia reconhece ser recorrente. Carlos Moedas diz que os dois túneis permitirão “escoar toda esta água”, mas o especialista Carlos Mineiro Aires, em declarações à CNN Portugal, diz que apesar da obra “evitar que as água afluam para as zonas mais baixas (…) se olharmos para a quantidade de água que correu ontem, rapidamente ficariam cheios”.

“Criar nos cidadãos a ideia de que isto resolve o problema para toda a vida – não resolve”, destaca o mesmo.

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