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Business Roundtable Portugal quer empresas a combater fuga de talento

A Business Roundtable Portugal (BRP) lançou um conjunto de medidas que visam reter o talento nas empresas e travar a fuga de quadros para o estrangeiro. Portugal continua a perder entre 15 mil a 20 mil jovens qualificados por ano. “As empresas têm um papel relevante para a alteração desta situação”, afirma Vasco de Mello, presidente da BRP, mas não só. “É absolutamente essencial adequar as políticas públicas às necessidades do país”, adianta.
25 Março 2024, 07h30

Portugal tem atualmente uns 26% da população a residir fora do território nacional e continua a perder entre 15 mil a 20 jovens por ano para a emigração, o que a prazo coloca em causa a sustentabilidade das empresas e do país.

Para travar o fenómeno, a Associação Business Roundtable Portugal (BRP) apresentou um conjunto de medidas e soluções práticas, algumas das quais já testadas e implementadas com sucesso. E apela à ação das empresas. O documento “Mais e Melhores Oportunidades – O que estão as empresas a fazer para valorizar e atrair o talento?” compila o trabalho de 36 quadros especializados de 21 associadas e dos parceiros Deloitte e Mind Alliance, em grupos de trabalho focados em cinco áreas: Cultura Organizacional, Organizações Ágeis, Liderança, Carreiras e Benefícios. 

Mafalda Brilhante é o exemplo daquilo que dá a conhecer. Ao longo dos 12 anos que leva no Pestana Group Hotel passou por vários lugares e funções até àquela que ocupa hoje: diretora de Recursos Humanos. A sua carreira em “zig zag” é prática corrente no maior grupo hoteleiro português e um dos exemplos que poderá vir a ser replicado noutras empresas para melhorarem a retenção dos colaboradores. 

Para incentivar as Carreiras, o grupo dinamiza programas internos de desenvolvimento e crescimento, a maioria das vagas são abertas internamente e na reunião de feedback anual, durante o processo de avaliação de desempenho, o colaborador pode informar a liderança sobre as suas motivações, tendo em conta as suas necessidades de desenvolvimento e situação profissional. “O envolvimento de todos é fundamental para que o processo funcione”, afirma Mafalda Brilhante. 

A Cultura empresarial é outra vertente de atuação. Quanto mais vocacionada estiver para a meritocracia e for suportada por uma avaliação de desempenho transparente, mais eficaz será. O Banco Santander, por exemplo, abandonou o velho modelo baseado na avaliação qualitativa de oito comportamentos e adotou um novo modelo que privilegia a relação entre avaliado e manager num ambiente de feedback contínuo, foco nos resultados e desenvolvimento do colaborador, explicou Miguel Teixeira Santos, Chief of Staff to the CEO do Santander. 

O responsável do Santander revelou também que todas “as pessoas são avaliadas pelos mesmos comportamentos em todas as geografias” onde o banco opera, o que permite comparar resultados.

A Fidelidade foi o case study apresentado na vertente Organizações Ágeis. Tomás Samuel, Office for Business Agility da seguradora, destacou a importância da agilidade das organizações para atrair e reter talento. “Agilidade funciona como catalisador das organizações, em que as pessoas se sentem parte do propósito”, em que “vestem a camisola”. Na seguradora com 200 anos de história, a agilidade é palavra de ordem nos projetos, nos processos e nas equipas – “um salto em profundidade” num novo mundo que deixa para trás as típicas direções de Recurso Humanos. 

A Liderança abarca não apenas a forma de exercer a liderança, mas também a forma de seleção dos líderes. Luís Wissmann, diretor de Pessoas e Gestão de Talento do Grupo José de Mello, situa-o o líder ideal no centro de três eixos: inspirador, capaz de antecipar o futuro e de entregar resultados de excelência. “O gap entre os resultados dos assessments e o perfil definido, permitiu desenhar um programa de desenvolvimento de liderança para os quadros dirigentes”, adiantou.

“Os temas associados ao propósito e aos valores são críticos”, afirmou Luís Wissmann, salientando que “as gerações mais jovens dão prioridade às organizações que as desenvolvem e que as valorizam perante o mercado de trabalho. 

 A quinta dimensão – Benefícios – para inspirar outras empresas a empreender um caminho mais favorável à atração e retenção de talento foi protagonizada por Paula Arriscado, diretora da Divisão Corporativa Pessoas, Marca e Comunicação do grupo Salvador Caetano.

Paula Arriscado disse que o Employee Value Proposition (EVP), sistema de agregação de benefícios colocados à disposição dos colaboradores vai muito além dos salários e retribuições materiais. Explicou que o grupo “revisitou os benefícios e trabalhou-os de forma integrada, juntando ao muito que já existia , novos benefícios e uma nova estratégia de comunicação”. E está agora a lançar o portal dos benefícios.

Cinquenta anos depois do 25 de Abril e da democratização do ensino, Portugal não está a captar todo o potencial saídos das escolas, das universidades e dos politécnicos para a população ativa, salienta Vasco de Mello. Segundo dados apresentados pela Associação Business Roundtable Portugal, “só na última década, 370 mil diplomados integraram a população empregada, mas o aumento potencial era superior a 530 mil, por isso desaproveitámos mais de 160 mil licenciados”.

“Numa altura em que o país dispõe das gerações mais qualificadas de sempre, torna-se evidente que não estamos a conseguir atrair e reter talento e a transformar o seu potencial em riqueza. A comparação do nosso mercado laboral e das nossas empresas mostra a necessidade de mudança”, afirma o presidente da Associação BRP. “As empresas têm um papel relevante para a alteração desta situação, mas é absolutamente essencial adequar as políticas públicas às necessidades do país. Sem pessoas felizes e realizadas não temos empresas de sucesso, nem conseguimos ter um país mais competitivo, justo e sustentável”.

Na apresentação do documento, Vasco de Mello foi perentório: “Se não agirmos como rapidez, na próxima década podemos ter menos 200 mil licenciados, um número perturbador. Estamos a comprometer a realização das pessoas, mas também a sustentabilidade das empresas”. rematou: “Temos de ser muito mais exigentes com o Estado para termos políticas públicas adequadas. Esta deve ser uma prioridade máxima independentemente de quem seja o Governo”.

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