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Sonae: aumento dos lucros abranda depois do pico de 2022

Para um volume de negócios que evoluiu positivamente mais de 9%, o aumento dos lucros não foi além dos 6,4%. Mas os investimentos não pararam e a dívida voltou a descer, o que, diz a Sonae, são “excelentes indicadores”.
14 Março 2024, 07h30

No auge do impacto da inflação, os lucros da Sonae dispararam quase 28% em 2022 face ao ano anterior, mas o regresso do controlo do aumento dos preços em Portugal fez também regressar alguma ‘normalidade’ ao balanço do grupo: os lucros cresceram em 2023, mas apenas 6,4%, para os 357 milhões de euros. O aumento dos custos financeiros e dos impostos, o investimento na expansão e digitalização dos negócios – mas também na diversificação do portefólio do grupo – tiveram impacto direto, apesar de “serem mais do que compensados por ganhos de eficiência e mais-valias realizadas com alienação de ativos”, refere o grupo em comunicado enviado à CMVM.

Mesmo assim, o grupo tem cerca de 1,3 milhões de euros a pagar no âmbito da chamada contribuição de solidariedade temporária, mas o administrador financeiro, João Dolores, disse – na conferência de imprensa de apresentação dos resultados – que o a Sonae “não reconhece esse conceito e vai contestar o pagamento deste montante”. Possivelmente em seu favor, o aumento dos lucros do grupo tem estado, nos anos mais recentes, sempre na casa dos dois dígitos.

Para a ‘contenção’ dos lucros em 2023 contribuiu o facto de, no caso específico do retalho alimentar – que chegou a ser conhecido como ‘o banco da Sonae’ – a margem líquida ter baixado para 2,6%, depois de se ter fixado nos 2,7% em 2022 e nos 3% no exercício anterior. A dona do Continente vai continuar a “conter os preços” para manter a liderança na grande distribuição – tal como, disse, se manteve ao longo do ano de 2023. É, como explicava a CEO do grupo, Cláudia Azevedo, uma forma de o grupo combater a inflação e “ajudar as famílias” a suportar o aumento dos preços dos bens de primeiro consumo. A Sonae coloca a hipótese de alguns desses bens virem a descer de preço, mas com certeza não até aos níveis verificados antes do pico de inflação que se registou pouco depois do início da invasão da Ucrânia por parte da Rússia – e que despoletou um movimento inflacionista que a Europa não conhecia há décadas, tendo com epicentro as energias.

Por outro lado, e ainda no que tem a ver com o balanço, o volume de negócios consolidado ascendeu a 8,4 mil milhões de euros em 2023, aumentando 9,2% “principalmente devido ao crescimento da MC, que num exigente contexto competitivo reforçou a sua posição de liderança de mercado, e ao forte investimento na expansão dos negócios”, segundo o comunicado enviado à CMVM.

O EBITDA ascendeu a cerca de mil milhões de euros, “com a rentabilidade pressionada pelos esforços para absorver parte da pressão inflacionista, sobretudo nos formatos de retalho alimentar.

Investimento consolidado totalizou 665 milhões de euros (M€), aumentando 5% com expansão orgânica dos negócios e aquisições. A divida líquida diminuiu 3% para 526M€, “reforçando a já forte posição financeira do Grupo, sendo que 83% das linhas de crédito de longo prazo já estão indexadas a critérios de sustentabilidade, green ou ESG.

Em termos de negócios, a Sonae destaca a OPA sobre a Musti – entretanto encerrada com sucesso – concretizou a parceria com o Bankinter Consumer Finance no Universo, concluiu a alienação da sua participação na ISRG, por 300M€, e estabeleceu um acordo para a combinação da Druni e Arenal, além de ter investido em oito empresas tecnológicas, passado a deter 100% da Sierra e anunciado a criação da Sparkfood, após um investimento de 110M€ em empresas inovadoras dedicadas ao desenvolvimento de soluções alimentares sustentáveis e saudáveis.

A proposta de dividendo de é 5,639 cêntimos de euro por ação, o que corresponde a um dividend yield de 6,2% e a um payout ratio de 25% do resultado direto consolidado.

No retalho alimentar, a MC continuou a cumprir ativamente o seu papel, garantindo aos clientes a qualidade da oferta com soluções acessíveis, tanto nas lojas como no canal online. Adicionalmente, a empresa continuou a implementação do seu plano de expansão da rede de lojas em vários formatos e insígnias, com destaque para a abertura de 21 novas lojas de retalho alimentar, das quais 19 lojas Continente Bom Dia (formato de proximidade). Neste contexto operacional desafiante, a MC conseguiu consolidar a sua posição de liderança no mercado português de retalho alimentar. O volume de negócios aumentou 10,5% em termos homólogos, para 6,6 mil milhões de euros (Like for Like de +8,9%), impulsionado quer pelo formato de retalho alimentar, quer pelo segmento de saúde, bem-estar e beleza que apresentou resultados notáveis com um crescimento LfL de dois dígitos.

No retalho de eletrónica, a Worten conseguiu reforçar a sua posição de mercado, tanto em Portugal como nas Canárias, bem como online e offline. O volume de negócios total da Worten atingiu 1,3 mil milhões de euros em 2023, +4,9% face ao ano passado e um LfL de +4,3%. Tanto os segmentos principais (eletrónica e eletrodomésticos), como as novas categorias, alavancadas pelo marketplace, e os serviços adjacentes, continuaram a apresentar um desempenho positivo. O canal online continuou a ser um importante contributo positivo, com as vendas a aumentarem 6% em termos homólogos no ano e a representarem 16% das vendas totais em 2023. Em termos de investimento, a Worten alocou 59M€ essencialmente para avançar no seu programa de transformação digital e abrir 18 novas lojas próprias, das quais 14 lojas iServices.

No setor imobiliário, o sólido desempenho da Sierra em todas as áreas de negócio, conduziu a um Resultado Direto de 63M€ e a um Resultado Líquido de 89M€ (+58M€ em termos homólogos). O desempenho do portefólio europeu de centros comerciais ultrapassou as expectativas, com as vendas dos lojistas a registarem níveis recorde de crescimento LfL de dois dígitos quando comparadas com o ano passado e com o período prépandemia. O aumento do número de visitantes e as taxas de ocupação elevadas (98%) impulsionaram também os resultados. A área de serviços continuou a apresentar um forte dinamismo, com um crescimento de dois dígitos do volume de negócios. No final de 2023, a exposição da Sierra a ativos sem serem centros comerciais era superior a 20% do total de ativos sob gestão.

Nas tecnologias, a Bright Pixel continuou a explorar oportunidades de expansão do seu portefólio ativo, que já inclui 43 empresas em todo o mundo, através de investimentos em novas empresas e reforço de participações em algumas empresas do seu portefólio. No 4T23, a empresa participou em duas rondas de financiamento, o que, juntamente com seis novas empresas no portefólio (incluindo Seldon, Picnic, Harmonya e Sekoia.io) nos trimestres anteriores e o reforço de participações, conduziu a um investimento de 53M€ no ano.

Nas telecomunicações, a NOS apresentou um forte desempenho operacional e financeiro. Nas contas consolidadas da Sonae, o contributo da NOS pelo método de equivalência patrimonial atingiu 63M€ no ano (face a 61M€ em 2022), devido ao impacto positivo do aumento da participação na NOS, que foi mais do que mitigado pelo efeito da mais-valia da venda de torres registada no ano passado.

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