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Um mês depois: Juan Guaidó e Nicolás Maduro em confronto anunciado

Faz este sábado um mês que Juan Guaidó se autoproclamou presidente interino da Venezuela. Para assinalar esse facto, o líder da oposição quer ‘inundar’ o país com a ajuda humanitária. Maduro convocou os apoiantes para “defender a dignidade do país”.
  • Juan Guaidó
22 Fevereiro 2019, 08h23

A oposição venezuelana ao regime de Nicolás Maduro ganhou um novo e inesperado alento há precisamente um mês, 23 de janeiro, quando Juan Guaidó, presidente da Assembleia Nacional se autoproclamou presidente interino, clamando que o regime não passava de uma usurpação.

Há claramente um antes e um depois de 23 de janeiro: de então para cá, a oposição ganhou alento e o regime foi ‘encostado às cordas’: perdeu parte substancial do apoio internacional, viu mais de três dezenas de países – entre os quais Portugal – retirar a Nicolás Maduro qualquer réstia de representatividade e embrenhou-se numa espécie de fuga para a frente, na tentativa de salvar um governo que parece ter cada vez menos aderência à realidade.

Para de alguma forma assinalar esse primeiro mês como presidente interino – e enquanto continua a trabalhar no seu projeto mais ambicioso: marcar eleições presidenciais antecipadas – Juan Guaidó fez saber que este sábado, 23 de fevereiro, será o dia em que tudo fará para que a ajuda humanitária que se encontra do outro lado da fronteira entre na Venezuela.

O regime, como seria de esperar, não ficou parado: Maduro convocou os venezuelanos para uma mobilização para o sábado, para “defender a dignidade da nação”. “No sábado, 23 de fevereiro, estamos a apelar para grandes manifestações e chamo todas as pessoas para uma marcha Bolivariana para a dignidade, para mostrar onde a está força é o poder”, disse Maduro.

Face à recusa de Maduro em aceitar esta ‘invasão’ – enquanto gasta as divisas que tem e que não tem a comprar essa ajuda nos poucos países ‘amigos’ que ainda lhe restam – ninguém sabe se esta decisão de Guaidó será ou não coroada de êxito.

O principal centro de coleta de ajuda está situado na cidade colombiana de Cúcuta, na fronteira com a localidade venezuelana de Táchira – a que se juntam dois pontos: Roraima (na fronteira do Brasil com Estado venezuelano de Bolívar) e a ilha caribenha de Curaçao.

Está previsto que uma série de voluntários irão organizar caravanas para se deslocarem para estes pontos fronteiriços (entre outros menos significativos, como Puerto Cabello e La Guaira), mas as forças governamentais estão a envidar todos os esforços para atrapalhar a iniciativa. Por exemplo, o governo suspendeu voos comerciais e privados para Curaçao desde a passada terça-feira, bem como a navegação a partir de todos os portos venezuelanos, num embargo que só será levantado no domingo, 24 de fevereiro. Paralelamente, o governo de Maduro fornecerá dias de assistência médica gratuita na fronteira e a distribuição de 20 mil caixas de comida aos moradores de Cúcuta.

O método para a entrada do auxílio é desconhecido. Guaidó disse que chegará “por terra e por mar”, mas aquelas infraestruturas estão bloqueadas. Uma possibilidade de que parte da ajuda seja introduzida na Venezuela por estradas ilegais ou trilhos, mas isso seria por certo penosamente difícil e pouco eficaz.

E, claro, não é certo como é que as Forças Armadas venezuelanas, que para já continuam leais a Maduro, poderão (ou não) prevenir ou controlar a entrada da ajuda através da fronteira colombiana-venezuelana, considerada muito porosa e de difícil observação.

Para todos os efeitos, este sábado 23 de fevereiro será, na Venezuela, um dia de grande tensão. Principalmente se se confirmar que o regime está a deslocar armamento para a fronteira. Mas nem mesmo essa evidência fez recuar a oposição: Guaidó já disse que estará na fronteira.

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