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Warren Buffett ‘britânico’ antecipa descalabro dos mercados bolsistas

Considerado a homólogo britânico de Warren Buffett, o gestor de fundos com mais de 25 mil milhões em ativos está à espera de que o mercado entre em colapso. Por isso, a sua carteira é muito conservadora.
16 Agosto 2018, 15h43

Embora pouco conhecido fora dos círculos financeiros no Reino Unido, Jonathan Ruffer (nascido em Londres em 1951) é talvez o investidor britânico mais próximo de representar para o Reino Unido aquilo que Warren Buffett representa nos Estados Unidos. Fundador e presidente da Ruffer Investments, uma empresa que administra fundos 25.300 milhões de euros em ativos, o seu principal objetivo é preservar o capital dos seus clientes, sacrificando algumas vezes grandes retornos em troca de uma carteira mais conservadora: o seu lema é “nunca perder dinheiro”, qualquer que seja a trajetória dos mercados.

Nos últimos meses, a Ruffer posicionou os seus fundos em antecipação a um ‘apocalipse’ total dos mercados, revela o ‘Expansión’. Na sua opinião, o mercado acionista acumula 36 anos de otimismo (marcado por solavancos ocasionais dos quais recupera), graças ao contínuo declínio nas taxas de juros.

Mas essa trajetória pode mudar por causa da confluência de vários fatores. Na sua opinião, o retorno da inflação aos países ocidentais causará um rápido aumento nas taxas e um colapso nos preços de ações e títulos.

Um dos perigos que Ruffer encontra para antecipar o colapso dos mercados é a situação política nos Estados Unidos e na Europa: a onda de populismo que está a crescer dos dois lados do Atlântico entre os cidadãos que vêm os seus empregos e padrões de vida ameaçados pela globalização e pelas novas tecnologias.

Ruffer compara a situação a um pastor. “Na maioria das vezes, os pastores – fracos e em minoria – conseguem controlar o gado, mas fenómenos podem surgir quando o gado é capaz de dominar quem o supervisiona: quando esse ponto de viragem é superado, há uma mudança de regime. No mundo estamos a chegar mais perto desse ponto: diz-se que os votos no Brexit e em Donald Trump foram impulsionados pelos que querem mudanças a todo custo”, disse.

Pode duvidar-se da necessidade da imagem da pastorícia, mas a a conclusão é clara: a consequência será um modelo econômico mais protecionista: “quando o gado é controlado, as sociedades estão protegidas, embora sejam também mais pobres”. Tudo isto será negativo para as bolsas de valores e aumentará a inflação, prevê Ruffer.

Perante essa expectativa, grande parte da carteira da empresa controlada por Ruffer está ‘atrelada’ a títulos indexados à taxa de inflação (os seus lucros aumentam se o índice de preços ao consumidor subir). Ruffer também comprou no final do ano passado um grande número de derivativos financeiros, cujos preços sobem se a volatilidade nos mercados aumentar.

Graças a esses produtos, a Ruffer e os seus clientes desfrutaram de um bom mês em fevereiro, quando houve um episódio de forte volatilidade no mercado de ações norte-americano. “Acreditamos que haverá um terremoto e estou confiante de que isso acontecerá nos próximos meses”, diz o analista numa das suas últimas cartas aos clientes.

Quanto aos títulos preferenciais, o principal fundo, o Ruffer Investments, está aparentemente apostada em empresas consideradas defensivas e conservadoras em termos de mercado de capitais: a cadeia de supermercados britânica Tesco, o banco japonês Mitsubishi e Sumitomo Kitsui, Sony, Disney e ExxonMobil, por exemplo.

O interesse nas instituições financeiras japonesas é explicado pela possibilidade de uma recuperação da inflação no Japão. No que diz respeito ao Ruffer Total Return Fund, 35% da carteira está em obrigações indexadas à inflação, 15% no mercado acionista japonês, 12% na bolsa britânica, 9% no mercado de ações dos Estados Unidos e apenas 3% nas bolsas europeias.

Jonathan Ruffer admite que poderia ter conseguido um melhor retorno nos últimos anos, investindo mais dinheiro em ações de tecnológicas, como Faang (Facebook, Amazon, Apple, Netflix e Google), mas o seu objetivo é não ser apanhado se essas ‘blue chips’ quando elas perderem o brilho, como aconteceu no final de julho com algumas delas. Que se saiba, os clientes não se queixam!

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