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Miguel Gouveia: “Vejo muitas pessoas a discutir lugares e pouca gente a discutir a Madeira do futuro”

O antigo presidente da Câmara do Funchal mostra-se disponível para uma solução governativa, liderada pelo PS, na Madeira, mas diz que mais do que falar em lugares é preciso criar uma planificação daquilo que se pretende para a Madeira, ter uma abertura grande à sociedade civil, auscultar todos os sectores, e encontrar propostas robustas e consensuais.
26 Setembro 2022, 07h45

O antigo presidente da Câmara do Funchal, Miguel Gouveia, diz, ao Económico Madeira, que gostava de contribuir para uma solução governativa, liderada pelo PS, alertando que é preciso criar uma planificação daquilo que se pretende para a Madeira, ter uma abertura grande à sociedade civil, auscultar todos os sectores, e encontrar propostas robustas e consensuais.

Miguel Gouveia, quando questionado sobre se integraria um executivo, liderado pelo PS, na Madeira, diz que vê “demasiadas pessoas, preocupadas com lugares, com cargos, se vão para diretor regional, se para administrador, se para secretário, se para deputado, e pouca gente a pensar a Madeira do futuro, e a realidade é que a Madeira neste momento não é uma região competitiva para que as empresas se estabeleçam cá”.

As eleições autárquicas ditaram a perda do poder da Coligação Confiança na Câmara do Funchal. Acabou por assumir o lugar de vereador na oposição, após as eleições autárquicas, quando noutros casos, como o de Fernando Medina, em Lisboa, foi feita renúncia ao mandato. A questão do coletivo acabou por se sobrepor ao individual?

Ainda que individualmente aquele primeiro impulso seria de renunciar acho que a responsabilidade falou mais alto, e não deixar a meio um compromisso que assumi com aqueles que acreditaram que o nosso projeto seria o melhor para a cidade.

E até final do mandato autárquico o que prevê fazer? Quais são os planos?

Até ao final deste mandato o nosso objetivo é continuar a apresentar propostas. Temos apresentado algumas. Nestes primeiro ano temos apresentamos propostas na área da educação, por exemplo com os manuais escolares até ao 12º ano, que era algo que estava previsto no nosso programa, e que infelizmente foi chumbado pela atual maioria PSD na Câmara do Funchal.

Temos outra aprovação que foi as bolsas de estudo para o ensino superior para poder ser alargado aos cursos de Técnicos Superiores Profissionais (CTeSP). Temos agora em carteira propostas para a criação de um gabinete jurídico, de literacia para séniores. Procurar sempre, pela positiva, encontrar propostas que a Câmara possa implementar e que melhorem a qualidade de vida de quem aqui vive, de quem nos visita, e de quem aqui trabalha. Até final do mandato é isso a que nos propomos sempre mantendo as nossas linhas orientadoras que levamos a eleições.

Até lá continuaremos a escrutinar o executivo. E sempre que for identificado algo passível de ser ilegal informar as entidades responsáveis como temos feito. Comissão Europeia, Tribunal de Contas e afins.

Na eventualidade do PS vir a assumir a governação da região vê-se mais útil no papel de secretário regional do que no de deputado?

Não é uma questão de ser secretário regional, ou ser deputado, ou ser diretor regional.

Ou pelo menos integrar o executivo?

Gostava de poder contribuir.

Não tem de ser como secretário regional. Gostava de poder contribuir. Mas a montante disso ainda. A montante. Mais do que falar em lugares e distribuir lugares. Isso parece uma lógica de negociação entre PSD e CDS-PP. Ninguém discute política só discutem lugares. Mais do que discutir isso a montante é preciso criar uma planificação daquilo que se pretende para a Madeira. A realidade de há três/quatro anos não é a mesma de agora. Nós passamos por uma pandemia desde há quatro anos. Estamos neste momento num cenário de quase hiperinflação, temos uma guerra pelo meio, temos um Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), temos provavelmente o último quadro comunitário de apoio que está aí a chegar, que vem para a Madeira pelo programa Madeira 20-30, é preciso colocar tudo isto em cima da mesa.

Recontextualizar todas as medidas, reavaliar se fazem sentido ou não, e perceber para onde é que caminhamos. O que vejo é muitas, demasiadas pessoas, preocupadas com lugares, com cargos, se vão para diretor regional, se para administrador, se para secretário, se para deputado, e pouca gente a pensar a Madeira do futuro, e a realidade é que a Madeira neste momento não é uma região competitiva para que as empresas se estabeleçam cá.

Não é uma região onde os nossos filhos queiram regressar, e ficar aqui, e regressar para viver, porque o trabalho aqui também na verdade não garante uma remuneração que seja bastante atrativa. Estamos do ponto de vista turístico a viver um boom conjuntural, e fazemos de conta que isto é um boom estrutural. E claramente as fragilidades vão sendo expostas. Saturação de muitos percursos, incapacidade de garantir a qualidade que o destino Madeira sempre teve. Tudo isto é preciso ser analisado e só se consegue isto com uma abertura grande à sociedade civil. Auscultando todos os sectores e encontrando propostas robustas e consensuais.

Edição do Económico Madeira de 2 de setembro.

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