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A pandemia mudou os bancos (e a forma como interagimos com eles)

O impacto do novo coronavírus no setor bancário esteve em discussão num webinar promovido pela Deloitte. O futuro passa por uma sociedade cashless — e não está tão longe quanto se pensa. Conheça as perspetivas de diferentes países.
29 Maio 2020, 07h45

 

O objetivo era simples: entender o impacto que a pandemia do novo coronavírus teve e continuará a ter nas instituições financeiras e nos comportamentos dos consumidores. O distanciamento social, as regras de segurança sanitária e as portas abertas pela inovação tecnológica pintaram um retrato da adaptação e transformação que foi acelerada pelo contexto pandémico, mas que não surgiu com ele. Pelo menos, é o que nos dizem os Partners da Deloitte, com insights de quatro países diferentes: João Fonseca (Portugal), Tony Wood (Hong Kong), Grzegorz Cimochowski (Polónia) e Gerard Sanz (Espanha).

A sessão arrancou com uma premissa simples: para entendermos as mudanças em vigor nos comportamentos dos consumidores e nas estratégias das instituições financeiras, temos de entender que todos os governos locais adotaram medidas de combate à pandemia ajustadas à sua realidade e contexto.

Em Portugal, as medidas que inicialmente muitos consideravam demasiado rígidas deram resultados. Por um lado, no combate à crise de saúde pública e, por outro, na prevenção de uma crise económica (ou pelo menos numa preparação cuidadosa para a enfrentar sem ruir o tecido empresarial). Todas estas medidas, trabalhadas em conjunto, impulsionaram uma mudança na forma como clientes e bancos interagem entre si e permitem-nos antever mudanças estruturais no comportamento, sustento e operação das instituições financeiras. No nosso país, as medidas de contenção da Covid-19 forçaram um abrandamento de vários setores económicos e, como resultado, da atividade bancária.

Registou-se, por exemplo, um decréscimo em todos os tipos de créditos face ao período homólogo de cerca de 11% e, face ao mês de fevereiro, de 15%. Houve também um decréscimo significativo de movimentos de cartões: os levantamentos tiveram uma quebra de 40% face a 2019 e, como João Fonseca referiu, “é preciso recuar muito no tempo para equiparar este valor à realidade”. Também as compras sofreram uma quebra acentuada e os cheques, por serem manuseados, foram o meio de pagamento com maior quebra de uso (cerca de -47%).

Com quase todos os setores a registar uma queda no volume de negócio, há dados curiosos e pertinentes, nomeadamente de setores que registaram subidas: eletrodomésticos, eletrónica e equipamentos associados ao teletrabalho.

Quanto ao setor bancário, em Portugal, de 2008 a 2018 assistimos ao encerramento de 33% dos balcões físicos. Por esta altura, 77% dos indivíduos no nosso país já tinham utilizado a internet uma vez que fosse; um dado pertinente para entender o porquê da penetração do digital no setor estar abaixo da média europeia.

Da Europa para Hong Kong, onde Tony Wood nos fez entender que a continuidade económica depende do sucesso da penetração tecnológica. “É o núcleo do entendimento de como a economia recuperou nuns sítios e não noutros”, referiu o Partner da Deloitte. O especialista explicou que quando os cidadãos têm acesso facilitado à tecnologia, e neste caso ao 5G como é o caso da China, o pagamento virtual é um hábito fácil de integrar – e vem com vantagens fiscais (dificuldade de evasão ou branqueamento) além das vantagens práticas.

A realidade chinesa é diferente da realidade europeia, reforçou Wood, que prevê um futuro com o fim dos pagamentos em dinheiro e da evolução para uma sociedade completamente cashless.

Grzegorz Cimochowski, a partir da Polónia, nota a acelerada evolução do ecommerce, que quase duplicou na Polónia no período pandémico. Não deixou de notar, contudo, que a aplicação mais popular para pagamentos virtuais no país é detida pelos 6 principais bancos polacos (um contexto muito semelhante à solução existente em Portugal). Também na Polónia, como cá, a moratória foi uma medida de sucesso com quase 1 milhão de clientes a concorrer por condições especiais no pagamento de créditos. Num país onde os empréstimos em dinheiro são tão frequentes, registou-se um decréscimo de 72% nesta atividade. Cimochowski refere que os banqueiros polacos devem colocar os olhos no exemplo português e “aprender a sobreviver com taxas de juro próximas de 0%”.

Já em Espanha, o contexto pandémico é inteiramente diferente, com números assustadores em termos de crise de saúde pública. Gerard Sanz abordou a reação do governo espanhol à crise e não deixou de notar a postura de apoio prestada pelos bancos espanhóis, apoiada pelo governo. Quanto à transição digital do setor bancário, reforçou que a “Covid-19 é apenas um fator de aceleramento, não uma causa” e que deve ser uma oportunidade para “antecipar uma mudança” há muito desejada. Para o Partner espanhol, estamos perante um “leap frog effect” que alterou o comportamento do consumidor com anos de antecedência.

Tony Wood interveio no Q&A interativo com a audiência para lembrar que as “empresas construídas durante uma crise costumam acabar por ser as maiores e mais poderosas” e que não há receios quanto ao futuro das fintechs no contexto pós-pandémico: “irão triunfar”.

No fim, ficamos com uma ideia geral: a Ásia está anos-luz à frente do resto do mundo no que diz respeito a atingir uma sociedade cashless e que para mudar paradigmas e realidades há que implementar políticas públicas que o permitam.

 

 

Este conteúdo patrocinado foi produzido em colaboração com a Deloitte.

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