[weglot_switcher]

A sombra de uma elevada dívida paira sobre a economia mundial

“Os EUA é o único país em que a proporção da dívida pública em relação ao PIB deve subir de 108% em 2017 para 117% em 2023”, disse Vitor Gaspar, diretor do departamento de Assuntos Fiscais do Fundo, aos jornalistas, citado pelo El Economista.
  • Bogdan Cristel/Reuters
30 Abril 2018, 08h28

A dívida global, impulsionada pela China e pelos EUA, está em níveis recordes e causará “desafios que serão inevitáveis no futuro”, especialmente se a Federal Reserve (Fed) dos EUA for forçada a acelerar o seu ritmo de ajuste monetário para combater um aumento súbito da inflação nos EUA, escreve o El Economista/agência EFE.

Na sua reunião da primavera na semana passada, o Fundo Monetário Internacional (FMI) alertou que a dívida global somava 164 mil milhões de dólares, representando 225% do PIB, e pediu para conter esta tendência, mediante a consolidação fiscal.

O número da dívida é 12 pontos percentuais acima do recorde anterior de 2009, observou o Fundo, quando os governos estavam no meio de um enorme ciclo de despesa pública para combater a crise financeira.

Por essa razão, os analistas viram com espanto a decisão do governo do presidente Donald Trump de lançar um enorme estímulo fiscal numa altura de aumento dos gastos e cortes de impostos significativos para as empresas e, em menor escala, para os trabalhadores, e alertaram sobre um possível aumento da inflação.

“Os EUA é o único país em que a proporção da dívida pública em relação ao PIB deve subir de 108% em 2017 para 117% em 2023”, disse Vitor Gaspar, diretor do departamento de Assuntos Fiscais do Fundo, aos jornalistas.

De acordo com os últimos cálculos do Congressional Budget Office (CBO), os EUA verão mais uma vez o aumento do déficit federal acima de um trilião de dólares em 2020, impulsionado pela expansão fiscal de Trump e alimentando ainda mais a espiral da dívida.

Tudo isso num contexto incomum, já que o desemprego nos EUA deve cair para 3,5%, um rácio que não se via há cinco décadas, e para o qual Maurice Obstfeld, economista-chefe do Fundo, reconheceu que “não ou há uma boa referência da dinâmica da inflação que pode ocorrer nesses níveis próximos do pleno emprego”.

“Há opções para a inflação aumentar acentuadamente, provocando um aumento maior do que o esperado nas taxas de juros nos EUA”, afirmou o economista, referindo-se ao ritmo do ajustamento da Fed, cujas taxas estão atualmente entre 1,5%. e 1,75%.

O problema, para Obstfeld, é que “a isto soma-se o fato de que a dívida global ser muito alta e uma boa parte está denominada em dólares, de modo que poderá adicionar tensões às instituições financeiras soberanas dos países”.

O Fed prevê dois aumentos adicionais das taxas em 2018, depois do anunciado aumento em março, mas os mercados já começaram a falar de um terceiro aumento se as pressões inflacionistas forem consolidadas.

“Com os novos dados que apoiam as previsões básicas, provavelmente a Fed vai continuar a elevar as taxas de juro a em cada trimestre, até um total de quatro aumentos este ano”, disse ele à Efe Tim Duy, professor Economia da Universidade de Oregon, segundo o El Economista.

Como se isso não bastasse, o rendimento do título de 10 anos do Tesouro dos EUA ultrapassou 3%, pela primeira vez em mais de quatro anos, o que aumenta a pressão sobre os devedores (detentores de dívida).

Os investidores agora parecem apostar que a subida dos preços irá corroer o valor da dívida pública, o que aumenta o rendimento (yields) dos títulos.

Na verdade, a Fed começou a alertar que a inflação parece acelerar o seu curso. E já se  espera que permaneça acima da meta anual de 2% do PIB ditada pelo banco central, pelo menos “por um par de anos”. Além disso, o aumento nos últimos meses do preço do petróleo, elevou o custo da gasolina e gasóleo, contribui para isso.

A taxa de inflação interanual nos EUA foi de 2,4% em março, a maior em um ano.

Copyright © Jornal Económico. Todos os direitos reservados.