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Apoios públicos à TAP vão depender “do que as grandes companhias conseguirem negociar com a UE”, diz fonte do sector

Os apoios que a TAP possa receber para enfrentar a crise do Covid-19 dependem do sucesso das negociações da Lufthansa e da Air-France-KLM – entre outras grandes transportadoras aéreas – com as autoridades da União Europeia, explica ao JE uma fonte conhecedora do sector.
16 Março 2020, 16h06

A TAP ainda não recebeu indicações sobre o teor de eventuais apoios públicos que lhe possam ser atribuídos para enfrentar o efeito negativo da crise do Covid-19 – confirma ao Jornal Económico (JE) fonte da empresa –, enquanto o Ministério das Infraestruturas e da Habitação diz que o único comentário que faz sobre este assunto é que “o Governo continua a acompanhar a situação da TAP com muita preocupação”

O JE sabe que os eventuais apoios que venham a ser concedidos à TAP deverão surgir na sequência das negociações que a União Europeia vai desenvolver com o sector da aviação civil, onde pesam sobretudo as situações vividas pelos grupos Lufthansa e Air France-KLM. “Isso significa que a TAP dependerá do que a União Europeia decidir e do que as grandes companhias aéreas conseguirem negociar”, admitiu ao JE uma fonte conhecedora do sector.

“Esta é a crise mais séria da história transporte aéreo. Não existem outras semelhantes, nem com a epidemia de 1920, que não foi tão grave porque o transporte aéreo não estava globalizado como está hoje”, comentou ao JE a mesma fonte, garantindo que, “mesmo somando todas as crises passadas, não conseguimos chegar ao impacto que esta crise tem, que é muito violento”.

As expectativas mais razoáveis e menos dramáticas projetam o início de uma retoma de atividade no final de maio, admite a mesma fonte, considerando que isso “permitiria o regresso gradual aos voos numa conjuntura já mais normalizada a partir de junho”. Mas diz que ainda é muito cedo para ter indicações certas sobre o rumo a seguir pelas companhias aéreas.

“Precisamos de ver como se comportam os mercados de Espanha e da Itália, que são muito importantes no Verão europeu, e temos de acompanhar a situação das companhias alemãs, pelo peso que têm no sector. Depois há as incógnitas dos mercados dos EUA e do Brasil, que também ninguém sabem como se poderão comportar nos meses de junho a agosto”, adianta.

“É significativo que a United tenha pedido financiamentos de dois mil milhões de dólares, que não lhe foram atribuídos pela Administração dos EUA, mas pelo sistema financeiro”, comenta a mesma fonte. “A sustentabilidade financeira deste problema depende do tempo que durar esta crise, porque se for prolongada além do período que tem vindo a ser referido – com o pico na Europa no final de abril –, torna-se irremediavelmente insustentável. Se confirmarmos que a crise vai até maio, então as companhias aéreas poderão programar a sua atividade com o apoio de empréstimos-ponte para ultrapassarem os problemas de tesouraria que vão ter durante os próximos tempos”, considera.

Quase 50% das frotas estão no chão

“A situação é muito grave. Quase 50% das frotas de aviões estão no chão. No caso da TAP, só terá acesso a apoios públicos se outras companhias europeias tiverem acesso a processos semelhantes. Isso significa que a TAP dependerá do que a União Europeia decidir e do que as grandes companhias aéreas conseguirem negociar. Mas, provavelmente, todos os financiamentos a que terá acesso serão posteriormente amortizados, embora ainda ninguém saiba como é que tudo isso pode ser executado”, adianta a fonte.

Por enquanto, os voos continuam a ser cancelados em todos os países, desde os EUA à China, com a Europa a ser agora a zona geográfica mais crítica. As companhias de transporte aéreo tentar cortar custos fixos para minimizar os impactos da crise do coronavírus.

A IATA – Associação Internacional de Transporte Aéreo, que já tinha comunicado a previsão de perdas das companhias aéreas nos bilhetes que já não vão vender em 2020 – em cerca de 113 mil milhões de dólares–, solicitou aos Governos que preparem reforços significativos das linhas de crédito utilizáveis pelo sector da aviação civil, tendo avançado igualmente com planos de cortes de custos de infraestruturas e abordado estratégias de redução de impostos e de taxas aplicadas às companhias aéreas. Note-se que esta crise não se confina às companhias de aviação asiáticas, nem às europeias, afectando bastante as maiores transportadoras mundiais norte-americanas.

As três maiores companhias dos EUA têm trabalhado com o Congresso e com a Casa Branca no sentido das suas empresas e também do sector da aviação civil norte-americano obterem apoios para enfrentarem a atual crise. O chairman e presidente executivo (CEO) da AAL – American Airlines, Doug Parker, os responsáveis da UAL – United Airlines, Oscar Muñoz e Scott Kirby, e o CEO da DAL – Delta Air Lines, Ed Bastian, têm mantido reuniões de trabalho com a Administração Trump com o objetivo de lhes serem atribuídas linhas de assistência financeira.

A United é entre as três grandes companhias aéreas de aviação norte-americanas, aquela que enfrenta a crise do coronavírus provavelmente na pior altura da sua vida corporativa. Terá que gerir a crise do Covid-19 num dos momentos mais delicados da sua estrutura orgânica, porque tinha programado até maio de 2020 assegurar a transição da Presidência e do CEO.

A actual chairwoman da United, Jane Garvey, entra em fase de aposentação e dá lugar ao novo chairman, que será Oscar Muñoz, atual responsável executivo (CEO) da companhia, que, por sua vez, terá de passar o testemunho a Scott Kirby, que vai ser o próximo presidente executivo da United. A companhia ainda terá um diretor do Conselho de Administração, que será Ted Philip. É no meio deste processo que a United enfrenta a turbulência da crise do coronavírus.

Segundo outras fontes do sector, Oscar Muñoz participou em reuniões com a Administração Trump, enquanto Scott Kirby manteve contactos com instituições financeiras e bancos. E Donald Trump já disse publicamente que quer “ajudar a indústria da aviação” para tornar as companhias norte-americanas “muito fortes”.

Também o CEO da Delta, Ed Bastian, admitiu publicamente que aguardava, do Congresso e da Casa Branca, ajudas para a sua companhia. O sector da aviação civil considera que a Delta deverá reduzir cerca de 40% da sua estrutura, sobretudo através da supressão de voos para a Europa, do cancelamento de investimentos e de encomendas de novos aviões, além do parqueamento de mais de 300 aviões.

CEO da Lufthansa tenta minimizar perdas

No entanto, na Europa, o CEO da Lufthansa, Carsten Spohr, já mantém contactos de trabalho com as autoridades da União Europeia e com os governos da Alemanha, Áustria, Bélgica e Suíça sobre um plano de redução de encargos no setor da aviação, admitindo um pedido de ajuda dos governos dos países onde tem atividade. A equipa de Carsten Spohr tenta minimizar as perdas da Lufthansa, mantendo níveis satisfatórios de liquidez, sabendo que se aproxima um tempo em que as insolvências no sector da aviação civil serão inevitáveis.

A Chanceler Angela Merkel defende um plano que possa mitigar os efeitos da crise do Covid-19, prevendo um investimento adicional de 12,4 mil milhões de euros (cerca de 14,1 mil milhões de dólares) entre 2021 e 2024 e o desenvolvimento de iniciativas que ajudem empresas e trabalhadores afetados pela pandemia, como o programa “Kurzarbeit” e a agilização do “trabalho de curto-prazo”.

Também o Governo francês assumiu publicamente que está preparado para ajudar a Air France, comprometendo-se a apresentar um novo calendário de obrigações fiscais que adia o pagamento de impostos. O ministro das Finanças francês, Bruno Le Maire, explicou que manteve contactos com o presidente executivo do Grupo Air-France-KLM, Bem Smith, garantindo que o Governo francês dispõe dos meios necessários para ajudar este grupo.

O CEO da companhia Norwegian Air, Jacob Schram, pediu ajuda financeira, mas ainda não obteve resposta oficial. Antes do pedido, o Governo norueguês já tinha avançado com algumas medidas de apoio, designadamente a suspensão de todos os impostos e as taxas aeroportuárias no primeiro semestre, a suspensão do imposto por passageiros durante 10 meses e o apoio do Governo às empresas que avançam com layoffs, sabe o JE. No mesmo sentido, a transportadora escandinava SAS admitiu estar em conversações com os governos sueco e dinamarquês sobre medidas de apoio.

O Governo espanhol já anunciou uma série de incentivos fiscais e outras medidas, como a linha de crédito de 400 milhões de euros para ajudar empresas do setor do turismo, transporte e hotelaria, a flexibilização das regras dos slots aéreos, o adiamento da dívida fiscal à administração pública de pequenas e médicas empresas durante seis meses e sem juros. No entanto, as companhias aéreas espanholas mostraram-se insatisfeitas e solicitaram mais apoios.

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