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Luís Augusto: “A sustentabilidade é o grande desafio do financiamento especializado”

Os sectores do leasing, factoring e renting estão a crescer acima da economia e da média europeia, mas já estão focados na transição energética e transição digital, que o recém-reeleito presidente da ALF, Luís Augusto, considera serem os principais desafios a enfrentar. Para o financiamento especializado e para a economia.
  • Luís Augusto, reeleito presidente da ALF
18 Abril 2024, 07h30

O sector do leasing, factoring e renting cresceu acima da média europeia, no ano passado, e nos dados que a Associação Portuguesa de Leasing, Factoring e Renting (ALF) tem de 2024 indicam que o ano está a começar bem. Em entrevista ao Jornal Económico, o recém-reeleito presidente da ALF, Luís Augusto, diz que o foco do sector é, agora, responder aos desafios colocados pela transição energética e pela mobilidade, mas também pela transição digital.
Os grandes desafios do sector acabam por ser os desafios também do tecido empresarial português e das famílias”, diz.
Que balanço faz deste mandato que agora terminou?

É um balanço bastante positivo. A associação está cá para defender os interesses dos seus associados e dos sectores que representamos no financiamento especializado, no leasing, factoring e renting. E, portanto, quando olhamos para os três últimos anos que representa esse mandato, o crescimento inequívoco dos três sectores é bastante relevante.
Em que sentido?
Depois da pandemia, quando olhamos para 2021, 2022 e 2023 são três anos com o crescimento consolidado do leasing, factoring e renting. Também nesses três anos, registamos o aumento da notoriedade dos produtos que representamos e a maior procura, tanto do factoring, como do leasing e do renting, não só em volume, mas também em quantidade.
E claro, como representamos associados, o inquérito de satisfação dos associados também é importante para nós. Portanto, temos aqui um Net Promoter Score bastante elevado, portanto, o feedback bastante positivo dos nossos associados e, é claro, toda a diligência que é feita pela ALF em prol do sector nos últimos anos, não só a intervenção local que fazemos com as várias entidades, Banco de Portugal, Banco de Fomento, Infraestruturas de Portugal, AICEP, todas as entidades que são importantes para o financiamento especializado.
Também temos representação a nível europeu, estamos na Leaseurope, que é a associação europeia de leasing e renting. Estamos ainda na presentes na European Factoring Association (EUF), que é a representante europeia do factoring. De relevar que a ALF foi recentemente reconduzida no cargo de vice presidência da associação.
A literacia financeira é outra vertente em que participamos também.
Portanto, é um mandato bastante positivo e eu acho que é o culminar também de três anos de muito trabalho da equipa da ALF, dos associados também e vem culminar com a recondução ao cargo desta direção.
Como foi a evolução em Portugal nos três sectores? 

Olhando para Portugal, no leasing o total de investimento atingiu os 2,6 mil milhões de euros no ano passado. Estamos a falar de um crescimento de 8,4%, é bastante relevante.
Tem duas vertentes diferentes, a componente mobiliária (equipamentos e veículos), que cresce 21%. Portanto, com grande apoio a formação bruta de capital fixo ao investimento produtivo das empresas portuguesas. Depois, na imobiliária houve uma ligeira diminuição, de 15%, tendo em conta o contexto imobiliário em Portugal atual. Mas, no total, crescimento de 8,4%.
O factoring também cresceu. No ano passado, cresceu 5% no total de créditos tomados. Estamos a falar de 44,2 mil milhões de euros, que representam cerca de 20% do PIB nacional.
De resto, Portugal é um dos países com maior nível de penetração do factoring na Europa, já aqui fazendo uma ponte para os dados europeus, o factoring representa cerca de 5,3% das exportações nacionais. 
No renting houve também um crescimento bastante bastante grande. O número de viaturas novas adquiridas em renting cresceu 37,3%. É um valor bastante considerável. Também cresceu o preço médio das viaturas, entre 20% a 30%.

Como é que estes dados se comparam os indicadores respetivos dos outros países da zona euro?
O factoring representa cerca de 20% do PIB nacional, o que quer dizer que Portugal é o segundo ou terceiro país com maior nível de penetração a nível europeu. Nós não temos os dados finais de 2023 da Convenção da Federação Europeia de Factoring, mas posso dizer que no final do primeiro semestre estávamos a crescer acima da média europeia.
Depois, tanto no leasing quanto no renting crescemos acima da média europeia. São valores bastante positivos. 

Neste contexto, quais são os objetivos do novo mandato?

Os objetivos são, mais uma vez, apoiar os nossos associados nas diversas frentes que nós temos. Continuar o contacto habitual com as diversas entidades oficiais em representação do leasing, factoring e renting, a desenvolver contatos com o Banco de Portugal, Autoridade Nacional de Segurança, Rodoviária, IAPMEI e o próprio Governo. Nós temos sempre reuniões com os principais grupos parlamentares e depois com a composição do governo, com os secretários de Estado e ministros em diversas áreas de interesse para os nossos associados.

Continuar também a participar nos vários fóruns que existes a nível nacional. A ALF participa na Comissão de Acompanhamento do Plano Nacional de Informação Financeira, uma iniciativa do Banco de Portugal, da CMVM e da Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões e também continuar a melhorar aqui o nosso sistema estatístico. A realização de estudos. Este ano estamos a preparar um novo estudo de tendência dos sectores, que deverá sair em meados do ano. E, portanto, é continuar a aqui a apoiar os nossos associados, apoiar o financiamento especializado e tentar fomentar a utilização do financiamento especializado em Portugal.
A componente de literacia financeira, que expliquei, é muito importante, não só para as empresas, mas também a componente das famílias e é uma uma área importante, que a ALF preza e quer continuar a apoiar neste novo mandato.

E quais são as principais, os principais desafios ou as principais barreiras neste momento para estes sectores? Há pouco falou da situação do imobiliário, é um dos fatores a ter em consideração?

No leasing imobiliário tem havido algum impacto negativo. O leasing imobiliário é utilizado em Portugal mais focado na componente empresarial e não tanto no particular. A ALF criou recentemente um grupo de trabalho com os nossos associados mais focados no leasing imobiliário para tentar descortinar aqui algumas ações que podemos fazer para fomentar a utilização do produto. 
Os grandes desafios do sector acabam por ser os desafios também do tecido empresarial português e das famílias, nomeadamente em relação à sustentabilidade, à transição energética, à mobilidade.
Por exemplo, no leasing, o grande desafio tem sido financiar a transição energética, os equipamentos considerados verdes. A própria economia circular, garantir que a reutilização dos equipamentos acontece no final do ciclo de vida do equipamento e que o equipamento não é simplesmente abandonado, mas sim reutilizado.
No caso da mobilidade, a renovação do parque automóvel em Portugal, nomeadamente para veículos com emissão zero e nesse aspecto, tanto o leasing quanto o renting tem tido um trabalho bastante relevante, uma componente bastante relevante. E o próprio factoring, ao existirem já operações em Portugal linkadas a objetivos de sustentabilidade das empresas.
Acho que a sustentabilidade é o grande desafio do financiamento especializado se adaptar e criar produtos competitivos que vão de encontro às necessidades das empresas.
Outra componente importante e um grande desafio também, que a própria ALF incorporou e tem criado uma série de fóruns de debate para os nossos associados, que é a digitalização. Portanto, nomeadamente agora penso no factoring, por exemplo, com a faturação eletrónica e tivemos recentemente um fórum com a Espap bastante interessante, com a presença dos nossos associados. A própria digitalização e a facilidade de contatos entre associados e os nossos os nossos clientes. Por exemplo, também no caso do factoring, a utilização da base de dados da Autoridade Tributária em termos de autenticação das faturas para evitar evitar fraudes.
É um contacto também que temos feito ao nível do Governo para tentar achar soluções nesse aspeto. Acho que [são os maiores desafios] a sustentabilidade, digitalização e em terceiro lugar eu diria o acesso ao financiamento.
Portugal não é dos países mais mais complicados, mas numa numa altura de um crescimento, digamos assim, mais restrito na Europa e em Portugal, com o PIB a crescer abaixo de 1%, conseguir que os nossos associados garantam o acesso ao financiamento, seja através de equipamentos, seja através de tesouraria no factoring, seja através da mobilidade no renting é muito importante.
Garantir esse financiamento, continuar a apoiar as famílias e empresas portuguesas. E aqui, claro, temos o historial de 40 anos que completamos esse ano da ALF com o apoio à economia nacional e penso que mesmo com essa turbulência a nível económico vamos continuar.

Quantos associados tem a ALF e  qual o peso que têm no mercado?
Temos 26 associados. O número é estável ao longo dos anos, porque também esses 26 associados representam em média cerca de 90% do volume total dos nossos sectores. Tem-se mantido estável ao longo dos anos. Às vezes entra um, sai um. Às vezes há também fusões no mercado e dois dos concorrentes acabam por se tornar um. Portanto, o número de associados diminui, mas o importante para nós é a representatividade em termos de volume. E isso tem tem sido bastante estável. E estamos a falar aqui de cerca de 90% do volume total dos sectores.
 
E t2024? Tem uma ideia de como é que os sectores vão evoluir?

Para 2024 ainda não temos estatísticas claras. Podemos tentar aqui fazer uma extrapolação do número de viaturas. No caso do renting, fazendo uma ligação aqui da representatividade do renting e do leasing no total do número de viaturas, e olhando para os dados da ACAP, vemos que o sector está a crescer e podemos fazer uma extrapolação de que o ano, pelo menos está a iniciar bem. No factoring será mais difícil [fazer as contas].
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