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Carlos Costa: “A autonomia financeira do setor têxtil é inferior à da indústria transformadora”

Carlos Costa traçou os desafios para um crescimento económico sustentável no XIX Fórum da Indústria Têxtil.
  • Cristina Bernardo
4 Dezembro 2017, 07h30

O Governador do Banco de Portugal Carlos Costa foi orador no XIX Fórum da Indústria Têxtil, no passado dia 29, e falou dos “desafios para um crescimento económico sustentável”. O Fórum da Indústria Têxtil, promovido pela ATP, é a mais importante conferência do Setor Têxtil e Vestuário português, e é realizada anualmente. Este ano decorreu no Auditório do CITEVE, em Famalicão.

Carlos Costa disse que as empresas portuguesas encontram-se entre as mais alavancadas da
Europa. “A autonomia financeira do setor têxtil é inferior à da indústria transformadora, mas registou um maior aumento face a 2012”, explicou. O Governador do Banco de Portugal revelou que em 2016, 24% das empresas do setor apresentavam capitais próprios negativos.

“É necessário o aumento do autofinanciamento das empresas; a conversão de dívida em capital ou quase-capital; e o reforço dos capitais próprios (através de aumento de capital pelos atuais acionistas e/ou entrada de novos acionistas)”, disse Carlos Costa.

Para libertar recursos e aumentar o investimento é essencial, segundo o responsável pelo Banco Central, “prosseguir com a redução dos níveis de endividamento dos agentes públicos e privados que permanecem muito elevados; aumentar a taxa de poupança da economia; captar Investimento Direto Estrangeiro”.

Carlos Costa lembra que a economia portuguesa enfrenta atualmente dois problemas, o baixo crescimento do produto potencial; e o baixo nível de poupança. E defende o reforço do grau de abertura por via do aumento do peso das exportações no PIB.

O governador do BdP chamou a atenção para o facto de “não haver desenvolvimento económico sem industria”, já que os serviços, com excepção feita ao turismo, são apêndices da indústria, e que a competitividade do setor produtor de bens transaccionáveis está intimamente dependente da eficiência dos não transaccionáveis.

O Governador salienta que é necessário regenerar o tecido produtivo português a partir do
tecido produtivo existente. Fala da necessária evolução para patamares superiores da cadeia de valor; do imperativo de tirar partido dos novos modelos de distribuição e de acesso aos mercados; da necessidade de melhorar as práticas de gestão; e de incorporar conhecimento e tirar partido da evolução tecnológica.

“É necessário antecipar e preparar os desafios que decorrem do progresso tecnológico, designadamente o surgimento de novos materiais e a automação”, diz Carlos Costa.

O orador defendeu que “o sucesso do setor transacionável é fundamental para permitir progressos sustentados da economia portuguesa em termos de: Desafios para um crescimento económico sustentável; em termos de rendimento per capita; de emprego; e de dimensão do setor não transacionável”.

Carlos Costa citou os resultados de vários estudos económicos que indicam que o crescimento da produtividade é um fator determinante do crescimento económico no longo prazo.

Em segundo lugar o crescimento da produtividade é função do esforço de investimento, da intensidade e natureza da inovação e da qualidade da gestão.

“O retorno e o investimento em inovação dependem da existência de um amplo conjunto de condições: capital físico e humano, custo de fazer negócios, regime de comércio, ambiente concorrencial, desenvolvimento do mercados de capitais, direitos de propriedade intelectual” adiantou.

“As práticas de gestão e de organização são um fator complementar fundamental da inovação”, disse lembrando que “a qualidade da gestão das empresas depende da qualificação dos gestores e do ambiente concorrencial”.

“Para além disso, empresas com capital disperso tendem a ser mais bem geridas do que empresas familiares e empresas públicas”, constata.

Carlos Costa reconheceu que “o sector têxtil soube reconverter-se após o forte choque da concorrência asiática, num cenário de desarmamento alfandegário europeu”.

“São vários os exemplos de sucesso em termos de ascensão na cadeia de valor, incorporação tecnológica e boa gestão”, disse.

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