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Confinamento adia crescimento mais forte para o próximo ano

Principais instituições reviram em baixa as estimativas de crescimento da economia portuguesa para este ano, mas esperam agora uma maior aceleração em 2022 e antecipam que se alcance o nível pre-pandemia até ao final do próximo ano.
9 Abril 2021, 13h42

O segundo confinamento generalizado em que Portugal mergulhou para tentar controlar a evolução da pandemia de Covid-19 é o principal culpado pela revisão em baixa das estimativas de crescimento da economia portuguesa para este ano. Não é, porém, o único, porque a derrapagem no processo de vacinação na União Europeia e o atraso relativo na concretização dos estímulos económicos também ensombram as perspetivas de evolução económica. No entanto, se as principais instituições portuguesas e internacionais esperam, agora, uma progressão com um passo mais lento em 2021, pelo contrário, acreditam num ritmo de expansão mais robusto no próximo ano, num adiamento do processo de recuperação, em direção ao melhor resultado deste século, a que aludiu o ministro das Finanças.

O segundo confinamento generalizado em Portugal iniciou-se a 15 de janeiro, com teletrabalho obrigatório, deslocações limitadas e encerramento de restaurantes, bares e cafés, assim como do comércio não-alimentar, estabelecimentos culturais e ginásios. Uma semana depois, os estabelecimentos de ensino também encerraram. Este travão à atividade económica tem consequências, com a generalidade das instituições a anteverem uma contração do produto interno bruto (PIB) no primeiro trimestre, face a igual período de 2020, ainda mais sabendo-se que a comparação beneficia o ano passado, pois que os primeiros casos de infeção são só registados nos primeiros dias de março.

Em fevereiro, a Comissão Europeia, que era das instituições mais otimistas, foi a primeira a rever em baixa de 1,3 pontos percentuais a taxa de crescimento do PIB português em 2021, para 4,1%. “Com a introdução de um lockdown mais rígido em meados de janeiro de 2021, projeta-se que o PIB caia novamente no primeiro trimestre de 2021, antes de começar a recuperar a partir do segundo trimestre do ano, com a principal recuperação nos meses de verão”, explicou o executivo comunitário, assinalando, no entanto, que este cenário “acarreta expectativas de uma recuperação notável do turismo no verão, especialmente nas viagens intra-União Europeia e uma recuperação mais gradual daí para a frente”.

No final de março, o Banco de Portugal, que já era o mais pessimista entre as instituições de referência, manteve a mesma estimativa de um crescimento de 3,9%, apesar do novo confinamento, esperando um padrão de desenvolvimento idêntico ao antecipado por Bruxelas. O passo previsto pela instituição liderada por Mário Centeno é o mesmo, agora, estimado pelo Fundo Monetário Internacional (FM), que reduziu o anterior valor em 2,6 pontos percentuais, o corte mais profundo entre as revisões feitas pelas principais instituições. Este crescimento português de 3,9% em 2021 é 0,5 pontos percentuais inferior à expansão que projeta para o conjunto da zona euro.

O Conselho das Finanças Públicas (CFP) também reviu em baixa de 1,5 pontos percentuais a sua estimativa de crescimento, para 3,3%, tornando-se a mais pessimista das instituições, se excetuamos a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Económicos (OCDE), que em dezembro apontou para uma taxa de crescimento do PIB de apenas 1,7%.

Refere o CFP que o segundo confinamento imposto resulta numa contração homóloga e em cadeia do PIB de dimensão significativa no primeiro trimestre, ainda que “com uma expressão bastante inferior à verificada no segundo trimestre” do ano passado, com o primeiro confinamento. No entanto, a economia deverá recuperar nos trimestres seguintes, para crescer, no conjunto do ano.

O Governo será o próximo a rever as perspetivas de evolução da economia, tendo já o ministro das Finanças, João Leão, assinalado uma redução da estimativa de crescimento do PIB este ano em mais de um ponto percentual, dos atuais 5,4%, o o que se traduziria em valores, provavelmente, abaixo de 4,5%, refletindo o período de confinamento. Em fevereiro, já tinha adiantado que a estimativa que estava a ser trabalhada “não se afasta muito daquilo que a Comissão está a prever”, ou seja, de 4,1%.

Recuperar em 2022 para o pré-pandemia
As dificuldades no controlo da pandemia e o atraso no processo de vacinação adiaram o previsível crescimento económico pós-pandemia para o próximo ano. O ministro das Finanças, João Leão, da mesma forma que assinalou a revisão em baixa da estimativa de evolução da economia este ano, apontou também para um crescimento sem precedente no próximo. Em outubro, aquando da apresentação do orçamento do Estado para 2021, o Governo previa uma taxa de crescimento de 3,4% em 2022, a mais alta desde o ano 2000, quando a economia portuguesa cresceu 3,82%. Ritmos de crescimento acima de 4% não são verificados desde os anos de 1997 e 1998.

O PIB português esteve três anos consecutivos em queda, entre 2011 e 2013, sofrendo 10 trimestres consecutivos de contração da atividade económica, em cadeia, em consequência da crise financeira e económica, reforçada, depois, pela chamada crise da dívida soberana. A economia portuguesa retomou o crescimento em 2014 e tem registada uma expansão de 2,2% em 2019, antes de eclodir a crise pandémica, que levou a uma profunda queda, de 7,6%, a mais profunda registada.

Para o próximo ano, o Banco de Portugal tem a projeção mais otimista, de 5,2%, no cenário central, a que atribui maior probabilidade, e que representa uma revisão em alta de 0,7 pontos percentuais face à anterior previsão e o mais alto ritmo de expansão em mais de 30 anos.

A instituição liderada por Mário Centeno espera que, depois do confinamento, a recuperação seja “robusta” e que, apesar dos riscos, e dos percursos desiguais entre sectores, o nível de atividade económica pré-pandemia seja alcançado em meados de 2022, ainda que exista “uma perda face ao que se teria verificado na ausência da pandemia”.

No entanto, face à incerteza quanto á evolução e consequências da crise pandémica, o Banco de Portugal aponta dois cenários alternativos: um, mais favorável, que prevê o melhor controlo das infeções e o levantamento mais rápido das medidas de contenção, permitindo à economia crescer 4,7% em 2021 e 5,4% em 2022, atingindo logo no início de 2022 o valor pré-pandemia; outro, mais adverso, que assume uma disseminação mais gradual da vacina e o aparecimento de novas variantes que se podem traduzir em novos períodos de confinamento e restrições, no qual a economia cresce apenas 1,6% este ano e 3,2% no próximo.

Tanto o FMI como o CFP projetam crescimentos próximos de 5% para a economia portuguesa em 2022, de 4,8% no primeiro caso, de 4,9% no segundo, mas no caso da instituição portuguesa este valor representa uma revisão em alta de 2,1 pontos percentuais face à anterior expectativa, enquanto no caso da instituição de Bretton Woods se manteve inalterado.

No relatório “Perspetivas Económicas e Orçamentais 2021-2025”, o organismo liderado por Nazaré Costa Cabral refere que, num cenário de políticas invariantes, que não incluem o impacto do Next Generation, a economia portuguesa recupera em 2022 o nível do PIB pré-pandemia, antecipando que no médio prazo, na ausência de medidas adicionais às consideradas, o crescimento da atividade económica deverá convergir para valores em torno do crescimento do produto potencial, de 1,7%.

A Comissão Europeia também reviu em alta a sua previsão de crescimento para a economia portuguesa, de 3,5% para 4,3%, e antevê “um retorno aos níveis pré-pandémicos” no final de 2022, empurrada pela “procura reprimida do consumidor e o aumento esperado no sentimento de negócios”.

No entanto, alerta que os riscos continuam elevados, não só no que se refere ao controlo da pandemia, como, especialmente no caso de Portugal, no que respeita à recuperação do sector do turismo.

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