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Daniela Braga: a portuguesa que faz negócios com as maiores empresas do mundo

Daniela Braga fundou em Seattle, nos Estados Unidos, a DefinedCrowd, uma startup especializada em dados para Inteligência Artificial. A Amazon, a IBM e a EDP fazem parte da lista de investidores ou clientes.
24 Novembro 2018, 12h30

Licenciada em Línguas e Literaturas Modernas, o lado rigoroso do uso da língua como ferramenta de comunicação não podia ter mais afinidades com o negócio que criou. “Lidamos diariamente com dados em 46 línguas, para as quais são necessários conhecimentos desde o nível de falantes nativos ao científico, por linguistas ou especialistas em Ciências da Linguagem”, diz Daniela Braga, fundadora da DefinedCrowd, ao Jornal Económico. Após a licenciatura e o mestrado em Portugal, fez investigação na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto e deu aulas na Universidade da Corunha durante dois anos, até que entrou para a Microsoft (nesta empresa trabalhou em Portugal, China e Estados Unidos). Deixou a empresa fundada por Bill Gates em 2013 e transferiu-se para a também norte-americana Voicebox. Simultaneamente, foi convidada para dar aulas de Data e Crowdsourcing para Speech Tecnologies na Universidade de Washington. Nesse momento, percebeu que havia uma grande oportunidade de mercado na área da Inteligência Artificial e decidiu criar a sua própria empresa. Despediu-se de um emprego bem pago, não tinha capitais próprios, nem pediu dinheiro emprestado ao banco. Reuniu-se com investidores em Seattle, nos Estados Unidos, apresentou a empresa num powerpoint e conseguiu sair com o primeiro cheque: 200 mil dólares de financiamento para arrancar o negócio. Em agosto de 2015, nascia a DefinedCrowd, uma startup especializada em dados para Inteligência Artificial (AI).

Em julho deste ano, a empresa fechou outra ronda de investimento, no valor de dez milhões de euros (cerca de 11,8 milhões de dólares). A liderar a ronda esteve a Evolution Equity Partners, acompanhada da Kibo, da Mastercard e da EDP Ventures. O valor foi também reforçado pela Sony, pela gestora de capital de risco pública Portugal Ventures, pelo Amazon Alexa Fund e pela Busy Angels. “A Evolution Equity Partners sente-se honrada por liderar esta ronda Series A focada no crescimento da empresa, e que surge num ponto de inflexão para a DefinedCrowd gerir a sua atual trajetória de receitas, com taxas anuais de crescimento de três dígitos, e o seu onboarding de clientes globalmente”, refere Dennis Smith, fundador e sócio administrador da Evolution Equity Partners. “A plataforma SaaS da DefinedCrowd posicionou rapidamente a companhia como líder inovadora, que apresenta solução para um dos maiores problemas da Inteligência Artificial e da Aprendizagem Automática: a necessidade contínua de dados de treino precisos e em larga escala”, sublinha Dennis Smith, que irá também integrar o conselho de administração da companhia. O capital investido vai ser usado para desenvolver a oferta da DefinedCrowd, aumentar a equipa e expandir a quota de mercado a nível global.

“Este é um marco muito importante para qualquer startup. Sinto-me bastante honrada pela nossa validação de mercado nos ter preparado para esta Series A em menos de três anos”, referiu na altura Daniela Braga. “Com este financiamento, vamos continuar a expandir os nossos produtos, quer o portal Enterprise, quer o Neevo; vamos continuar a executar o nosso roadmap de machine learning, que nos torna únicos; e vamos continuar a expandir a nossa equipa de vendas mundial para servir melhor os nossos clientes globais,” acrescentou.

Em 2016, alguns destes investidores, incluindo a Portugal Ventures, já tinham participado numa ronda de investimento mais pequena, em que a empresa conseguira 1,1 milhões de dólares. A startup tem ainda uma linha de crédito nos Estados Unidos, que nunca foi tocada, de 1,5 milhões de dólares. Para este ano, está prevista uma receita entre os quatro e os sete milhões de dólares (entre 3,5 e seis milhões de euros).

A tecnológica de Daniela Braga tem neste momento 15 colaboradores em Seattle, 30 entre Lisboa e o Porto e um em Tóquio. O objetivo é multiplicar estes números em seis meses. “É importante levantar capital se queremos ir rápido, sobretudo na área tecnológica”, diz a empreendedora, que até ao momento conseguiu financiar-se em 13,1 milhões de dólares (11,3 milhões de euros). Uma boa fatia do dinheiro será aplicada no reforço das equipas de marketing, developers e customer success os responsáveis pela felicidade do cliente. Os investidores e os clientes agradecem esta atenção. A EDP, a Mastercard, a Amazon e a Sony fazem parte do primeiro grupo. A IBM, a BMW, a Nikon, o Yahoo Japan e o Softbank são alguns dos principais clientes. Recentemente, foi assinada uma parceria com a IBM – a Amazon e a Microsoft também são parceiras. Com a integração do sistema da DefinedCrowd, os utilizadores da IBM Watson Studio poderão recolher, estruturar e enriquecer dados de treino diretamente da plataforma, sempre com garantia de alta qualidade. Isto é possível porque a tecnológica portuguesa criou um interface próprio para a plataforma da IBM. Além de simplificar o trabalho de programadores e cientistas de dados, reduz-se o tempo de tratamento destes mesmos dados.

Estima-se que 90% dos dados gerados em todo o mundo não estejam devidamente estruturados. Onde quer que esteja, Estados Unidos, Europa ou Austrália, quem lidera uma empresa no setor da Inteligência Artificial não tem horas para dormir: as notificações do WhatsApp estão sempre a cair no telemóvel e a fundadora da DefinedCrowd nunca deixa uma mensagem por responder.

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