[weglot_switcher]

Debate final entre candidatos ao PSD marcado por crítica a Miguel Relvas

No último debate, esta quinta-feira na ‘TSF’, entre os dois candidatos à liderança do partido, Rui Rio e Pedro Santana Lopes, voltaram ao combate com mais ideias, mas ainda a ressuscitar muitos fantasmas do passado.
  • Mário Cruz/Lusa
11 Janeiro 2018, 12h23

Faltam apenas dois dias para as diretas que vão eleger o próximo líder do Partido Social Democrata (PSD). Com mais ideias e menos troca de acusações, o ex-autarca do Porto afirmou à ‘TSF’ que vai apostar numa reforma do Estado com vista a uma “descentralização e desconcentração”, caso vença as eleições de sábado, enquanto o ex-provedor da Santa Casa da Misericórdia considera premente “dar força e músculo ao tecido empresarial”.

“A descentralização e as assimetrias territoriais em Portugal é o assunto que mais me colocam”, considerou Rui Rio. “É essencial fazer uma reforma do estado que leve a uma descentralização e uma desconcentração. Esse processo tem de sair de um grande debate público”, entende o ex-autarca do Porto.

Por sua vez, Pedro Santana Lopes, indica que “há preconceito para dar força e músculo ao tecido empresarial”. Se vier a ganhar estas eleições e vir a ser primeiro-ministro (novamente), o ex-provedor promete reverter essa tendência. “O facto de não apoiar a capitalização das empresas, de não autorizar que o lucro das empresas tenha isenção fiscal”, aponta.

Rui Rio recordou as palavras do número 2 do PSD e apoiante de Santana, Miguel Relvas, que em entrevista ao jornal ‘Público’, considerou que o partido vai ter um líder para dois anos: “se ganhar as eleições continua, se não ganhar será posto em causa”.

O ex-autarca do Porto questiona “que clima é este” e critica quem quer “passar rasteiras” e “aparecer com truques ainda antes da eleição do novo líder”. “Se eu ganhar vamos mesmo estar muito mal”, avisa Rui Rio, sobre a futura relação com Relvas. Pedro Santana Lopes disse apenas que não leu a entrevista e não ia comentar o assunto.

Num tom mais conciliador, Rui Rio afirmou que caso venha a perder as eleições, o rival Pedro Santana Lopes terá o seu apoio. Já o antigo provedor da Santa Casa da Misericórdia foge à pergunta e diz que “não trabalha com cenários negativos”.

Ainda assim, Santana Lopes não nega a eventualidade de vir a convidar Rui Rio para seu ministro, caso vença as eleições diretas. “Primeiro tenho de ganhar as eleições, logo se verá”, afirma. “O que está em causa é o partido. Os bons militantes e as pessoas sérias e com capacidade têm de ser convidados. Naturalmente que não posso dizer para qual a função [convidaria o Rui Rio]… Unir o partido é uma tarefa extraordinária”, sublinhou.

“Uma geringonça um pouco mais à direita”

A maioria absoluta é, para Rui Rio, o primeiro cenário preferencial em eleições, sozinho ou com o CDS, se necessário. Caso não seja possível, Rui Rio parte para a maioria relativa e, no pior dos cenários, afastar a esquerda é prioridade.

“Preferia que o PS ficasse livre e mais condicionado ao PSD do que com um acordo, como o que existe, com o BE e o PCP. O que prefiro retirar é o PCP e o Bloco de Esquerda da esfera do poder e pôr esse Governo minoritário a responder por toda a Assembleia”, afirmou, não descartando a possibilidade de vir a viabilizar um Governo liderado pelos socialistas, caso não consiga vencer as legislativas. Seria, nas suas palavras, “uma geringonça um pouco mais à direita”.

Já Santana Lopes voltou a considerar que não vai viabilizar um Governo minoritário do PS. “Eu não viabilizo governos minoritários do PS. Sempre fui contra bloco central”, afirmou. “Temos uma tradição de generosidade que o PS não tem connosco”, acrescentou, relembrando a moção de censura apresentada pelo PS contra o Governo minoritário de Passos Coelho em 2015.

A derrota das autárquicas e o ataque aos apoios de Rio

Sobre o desaire das autárquicas, que levou ao anúncio da saída de Pedro Passos Coelho da liderança do PSD, Santana Lopes diz estar de consciência limpa, depois de ter rejeitado a corrida a Lisboa, que se traduziu no pior resultado do PSD na capital. “Não quis trocar Lisboa por Lisboa”, afirmou.

Rui Rio considerou também que não tem “nenhuma responsabilidade” no período que se seguiu à sua liderança da autarquia do Porto. “A fidelidade era aos portuenses. Eu não poderia estar de acordo com tudo aquilo que iria destruir o que eu construí”, afirmou.

O tema serviu de arma a Santana Lopes para lançar o ataque a Rui Rio. Em retroespetiva, o ex-provedor considerou “inaceitável” que o ex-autarca do Porto tenha apoiado o candidato independente Rui Moreira, em 2005, contra o PSD nas autárquicas no Porto.

“O partido proibiu-me de concorrer, ou não apoiar, quando tinha ganho em 2001. O partido preferiu apoiar Carmona Rodrigues. Dizer que não concorda é uma coisa, outra questão é apoiar um candidato independente contra o nosso partido. Isso não acho aceitável”, defendeu Santana Lopes.

O ex-presidente da Câmara do Porto contra-atacou, acusando Santana Lopes de se “meter no Porto em prejuízo do PSD”, ao apoiar o independente Álvaro Almeida, pelas listas do PSD.

“Em política é preciso um apuradíssimo killer instinct

Sobre os feitios, que foram apontados como a maior diferença entre os dois candidatos, Rui Rio refere deixar a análise para outros, mas salienta que sua “coerência, a estabilidade e a capacidade de fazer”. Já Santana Lopes diz que a sua maior virtude é a capacidade de “estar junto das pessoas, de as ouvir, de decidir e de concretizar”.

Em relação aos defeitos que melhor caracterizam os candidatos, Rui Rio elege uma “limitação”, considerando uma certa “flexibilidade”: “Dar um passo atrás para dar, estrategicamente, dois à frente”, explica. Já o ‘calcanhar de Aquiles’ de Santana Lopes é “a generosidade”, explicando que em política é preciso um apuradíssimo killer instinct“.

Copyright © Jornal Económico. Todos os direitos reservados.