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EDP rejeita preço da OPA com apoio dos fundos americanos

EDP recorre ao UBS para resposta à OPA dos chineses. Mercado antecipa revisão em alta do preço e possível oferta concorrente. Mas, para ter sucesso, uma oferta rival terá de convencer o estado chinês a vender os seus 28%, o que não será fácil.
15 Maio 2018, 07h33

A Oferta Pública de Aquisição (OPA) da China Three Gorges sobre a EDP promete aquecer o verão. A seu favor, a CTG tem o apoio do Governo português, que vê com bons olhos a promessa de preservar a identidade da EDP e a sua importância na economia portuguesa. Mas os chineses têm contra si o facto de a oferta de 3,26 euros por ação ser considerada demasiado baixa, abrindo caminho a uma rejeição do preço da OPA por parte da administração liderada por António Mexia, com o apoio dos fundos americanos e de outros investidores institucionais.

A administração da EDP só deverá pronunciar-se formalmente sobre a oferta da CTG no próximo mês, quando o registo da operação estiver concluído e o prospeto for aprovado pela CMVM. Mas a administração liderada por António Mexia já deixou claro, numa nota divulgada esta madrugada, que o valor oferecido pelos chineses fica aquém do desejado.

“O Conselho de Administração Executivo considera que o preço oferecido não reflecte adequadamente o valor da EDP e que o prémio implícito na oferta é baixo considerando a prática seguida no mercado Europeu das ‘utilities’ nas situações onde existiu aquisição de controlo pelo oferente”, refere um comunicado divulgado poucos minutos depois da meia-noite. Esta posição foi anunciada poucas horas depois de a agência Bloomberg ter noticiado que a EDP contratou o banco de investimento UBS para a assessorar perante a OPA da CTG.

Ao que o Jornal Económico apurou, António Mexia tem o apoio do fundo americano Capital Group e de outros investidores institucionais internacionais que, em conjunto, controlam cerca de 25% do capital da EDP e vão tentar forçar uma subida do preço.

Se estes acionistas formarem uma “minoria de bloqueio” eficaz, eventualmente com o apoio de outros investidores – como a argelina Sonatrach (2,38%), o fundo soberano do Qatar (2,27%) e o Norges Bank (2,75%) -, a CTG terá muita dificuldade em fazer passar a desblindagem dos estatutos da empresa, que é uma das condições de sucesso da OPA e necessita de ser aprovada em assembleia-geral, com os votos de dois terços do capital presente. As estrelas alinham-se, assim, no sentido de uma crescente pressão sobre os chineses para que estes aumentem o valor da oferta. E o mercado já antecipa essa revisão em alta: esta segunda-feira, as ações da EDP dispararam 9,3% para 2,4 euros, aumentando o valor da empresa em 1,1 mil milhões de euros, num só dia.

Questionada pelo Jornal Económico, fonte oficial do Capital Group, que tem 12% da EDP, recusou fazer comentários. “Não fazemos comentários sobre os nossos investimentos”, disse uma porta-voz do fundo americano. Também a EDP, igualmente questionada, recusou comentar, bem como a espanhola Oppidum (7%) e o fundo americano Blackrock (5%).

Uma OPA pouco hostil

Mas se por um lado a EDP argumenta que o preço da OPA é demasiado baixo, por outro terá muita dificuldade em dizer o mesmo a respeito da oportunidade da oferta. Mais do que acionista da EDP, a CTG é parceira da empresa portuguesa em vários projetos conjuntos, tendo desenvolvido uma relação de proximidade que supera a de qualquer outro acionista de referência.

“A CTG preparou o caminho ao longo destes cinco anos, ajudou a EDP a reduzir a sua dívida e, recentemente, apoiou a recondução de António Mexia, numa altura em que o CEO está sobre pressão por causa da investigação judicial. A EDP terá muita dificuldade em considerar hostil esta OPA”, defendeu uma fonte próxima de um dos principais acionistas da EDP, ouvida pelo Jornal Económico.

O comunicado ontem divulgado pela EDP é, de resto, cuidadoso neste ponto, frisando que a administração irá pronunciar-se “em devido tempo sobre os demais termos da oferta”, nomeadamente sobre o projeto industrial que os chineses pretendem implementar na EDP.

OPA concorrente seria “caríssima” e não seria fácil

Os chineses não são, porém, os únicos interessados na EDP. Nos últimos meses, surgiram notícias sobre o possível interesse da francesa Engie e de outras energéticas europeias. O movimento chinês pode ser visto, inclusivamente, como uma jogada de antecipação.

Os analistas do Caixa BI concordam que existe a “possibilidade de surgirem outras ofertas”, segundo uma nota ontem divulgada. “Na nossa opinião o preço da oferta é demasiado baixo para que a mesma possa ter sucesso”, referiram ainda. O banco de investimento considera que a OPA da China Three Gorges pretende “marcar uma posição relativamente a outras companhias que tentaram abordagens junto da EDP. É uma primeira movimentação para uma potencial revisão em alta do preço, tendo em conta a reação do mercado”.

Se surgir uma OPA concorrente, a lei determina que terá de ter um preço superior em pelo menos 2% face à primeira Oferta. Mas o que fará a CTG se isto acontecer? A maioria das fontes contatadas pelo Jornal Económico acreditam que poderá ter início uma disputa pelo controlo da EDP, entre compradores rivais, levando a uma subida do preço, com aumentos sucessivos de 2%.

Há também quem antecipe que a estratégia dos chineses seja mais complexa do que parece à primeira vista. “A CTG pode querer fazer uma de duas coisas: comprar muito barato ou vender muito caro”, disse uma fonte do setor energético ouvida pelo Jornal Económico. E este “muito caro” faz com que qualquer OPA concorrente tenha o caminho muito dificultado, pois teria de convencer a República Popular da China a vender os 28% que detém na EDP e, além disso, de conseguir a desblindagem dos estatutos em assembleia-geral.

“Uma OPA concorrente seria caríssima”, conclui uma fonte do núcleo acionista da EDP.

 

 

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