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Energias eólicas offshore valem 60 mil milhões em Portugal até 2030

Estudo do Ministério do Mar conclui que a energia eólica oceânica poderá suprir 25% das necessidades de consumo de eletricidade em Portugal. A energia das ondas ainda se encontra numa fase incipiente.
24 Março 2017, 13h35

O mercado potencial para Portugal que decorre da aposta nas energias eólicas em alto mar (offshore) está avaliado em 59 mil milhões de euros até 2030, de acordo com um estudo recentemente apresentado em público pela ministra do Mar, Ana Paula Vitorino. Segundo esse documento, a que o Jornal Económico teve acesso, o mercado de exportação neste domínio é vastíssimo, nomeadamente na Europa, que vai corresponder a mais de 80% deste negócio a nível global até 2030, em particular no Reino Unido e em França.

O ritmo de crescimento deste mercado a nível mundial é exponencial, em especial no continente europeu. Em 2013, havia cerca de 6 GW (gigawatts) e 22 GW offshore licenciados no mundo. Para 2030, estima-se que esses números disparem para 65 GW, mais de 10 vezes acima. Admitindo um custo médio de 3,5 milhões de euros por MW (megawatt) instalado, o valor do mercado correspondente a 65 GW é de 227 mil milhões de euros.

Outra conclusão importante é que a energia eólica oceânica poderá suprir 25% do consumo anual de eletricidade em Portugal. Para este cálculo não entrou o potencial da energia das ondas, que se encontra ainda numa fase muito incipiente.
De acordo com o referido documento elaborado pelo Ministério do Mar, “a indústria portuguesa, nos setores onde tem estado mais ativa, tem um mercado potencial até 2030 de cerca de 59 mil milhões de euros”, dos quais cerca de 39 mil milhões poderão ser faturados na produção de torres, peças de transição e fundações, enquanto os restantes 20 mil milhões de euros deverão ser assegurados exclusivamente pelo mercado das pás dos moinhos eólicos. Se os diversos setores da indústria portuguesa mais diretamente ativos neste setor conseguirem atingir estas metas, isso equivaleria a aumentar 10 vezes a dimensão do mercado e do emprego atuais.

O mesmo estudo defende que de senvolver novas tecnologias energéticas oceânicas, equivale a criar novos empregos e aumentar as exportações industriais. Por isso mesmo, o desejado arranque do cluster industrial das energias renováveis oceânicas deve focar-se na exportação. O documento em causa adianta que, no cenário mais conservador, estima-se que em 2020, a atividade industrial exportadora das energias renováveis oceânicas a partir de Portugal irá gerar um montante de 280 milhões de euros valor acrescentado bruto (VAB) e de 254 milhões de euros de investimento. O efeito daí resultante será a criação de 1.500 novos postos de trabalho diretos, com uma contribuição para o crescimento da balança comercial em 118 milhões de euros.
Isto significaria duplicar o VAB da indústria naval portuguesa, que seria a fornecedora das tecnologias para a energia offshore, que atualmente, segundo os últimos dados da conta-satélite do Mar do INE – Instituto Nacional de Estatística, se situa nos 119 milhões de euros. O estudo ressalva que para atingir estes resultados na fase de arranque do cluster das energias renováveis offshore, o investimento será maioritariamente privado.

Segundo Ana Paula Vitorino destacou na conferência sobre Energias Renováveis Oceânicas, que se realizou na Gare Marítima de Alcântara, em Lisboa, no início do  mês, este setor tem de ser encarado de uma perspetiva industrial e exportadora. No seu entender, existe um elevado potencial de exportação tecnológica para a indústria portuguesa na energia eólica offshore, sendo necessário desenvolver este setor, não só para exportar essa tecnologia, mas também ir subindo na cadeia de valor. As novas tendências apontam para o desenvolvimento de maiores turbinas, novas fundações para águas mais profundas, porque os operadores pretendem reduzir os custos de operação e manutenção. Para a ministra do Mar, existe um “potencial de criação de uma nova fileira tecnológica de elevado valor acrescentado num mercado de futuro crescimento em grande escala”, desde que os industriais que já estão ou que apostem no setor ganhem competências de concepção no desenvolvimento da tecnologia das novas turbinas, assumindo-se como fornecedores desta indústria e entrando em concorrência com os players atuais. Nas fundações para águas profundas e operação e manutenção, há oportunidades de inovação para Portugal explorar, desde a engenharia à utilização de novos materiais, passando pela monitorização estrutural ou pelos métodos de operação e manutenção, por exemplo.

Na energia eólica offshore, as zonas estratégicas para Portugal conquistar na cadeia de valor foram apontadas: planeamento do projeto (estudos preparatórios); turbinas (design e engenharia, fabrico da turbina, das pás e das torres, instalação); plataformas (design e engenharia, fabrico da plataforma, das amarrações e de cabos inter-array, montagem da plataforma); instalação (de amarrações e de cabos, reboque e instalação da plataforma); e operação e manutenção (das turbinas e das plataformas). Nestes diversos segmentos da cadeia de valor, o estudo identifica diversas empresas a operar em Portugal que têm capacidade de incorporação nacional: Enercon, RIA Blades (Sevion), ASM Energia, Tegopi, Martifer Energy Systems, Grupo AMAL, Lankhorst Euronete, Oliveira & Sá, Solidal e Cabelte.

Energia das ondas requer investidores em I&D
No capítulo da energia das ondas, este estudo do Ministério do Mar avança que será necessário atrair investidores em Investigação & Desenvolvimento (I&D). “Como não há ainda atividade comercial e pré-comercial, é uma oportunidade para o surgimento de novas start-ups em todas as fases da cadeia da valor”, defende o referido documento, acrescentando que é fundamental “maximizar as vantagens competitivas de Portugal como laboratório de prototipagem para a energia das ondas”.
Neste domínio, uma das maiores dificuldades para os operadores é a agressividade do meio marítimo, que dificulta a aplicação de tecnologia e a própria investigação científica, para se poderem controlar os sistemas de energia das ondas e melhor poder aproveitá-la. E  isso é crucial para aumentar a produtividade da energia com esta origem sem que se verifique um crescimento significativo dos custos.

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