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Espanha à espera de novas surpresas da Catalunha

Com os independentistas em fuga para a frente, os espanhóis estão suspensos por um texto escrito pelo líder da Esquerra Republicana, que fala sobre decisões que têm de ser tomadas, por muito que possam ser difíceis de entender.
30 Outubro 2017, 06h50

Depois da aparatosa manifestação ontem realizada de repúdio pela independência da Catalunha ao longo das principais artérias de Barcelona – que veio enfraquecer ainda mais a posição política de Carles Puigdemont – a dúvida, hoje, é se o ex- presidente da Generalitat irá ou não ao parlamento catalão. E principalmente em que circunstância irá – ou seja, se se apresentará como líder da República da Catalunha, arriscando por isso ser preso e acusado de rebelião, com uma moldura penal que pode ir até aos 30 anos de prisão; ou se irá apenas para prestar esclarecimentos sobre o complexo momento político que se vive na região.

A Espanha está preparada para qualquer surpresa – principalmente depois de, este fim-de-semana, Oriol Junqueras, dirigente da Esquerra Republicana (um dos partidos do Juntos pelo Sim) e ex-vice-presidente da Generalitat, ter escrito um artigo de opinião onde afirma que “os independentistas terão de tomar decisões difíceis que não serão fáceis de entender”. Junqueras não esclarece o que quer dizer com o que escreveu, mas alguns analistas citados pelos meios de comunicação espanhóis são de opinião que a coligação Juntos pelo Sim vai tentar passar por cima das decisões de Madrid – que impuseram o artigo 155, destituíram o governo da Catalunha e marcaram eleições para 21 de Dezembro próximo – impondo a independência.

Os mais cáusticos consideram que, se assim for, a Catalunha independente está a entreabrir as portas da violência, numa deriva de consequências imprevisíveis. Mas, e principalmente depois da manifestação de ontem, alguns analistas consideram que o Juntos pelo Sim perdeu terreno e já não tem posição política para impor o que quer que seja. Até porque as clivagens dentro da coligação são imensas – desde logo da parte da Candidatura de Unidade Popular (CUP), que, segundo os jornais, já se está a preparar para as eleições de 21 de dezembro.

É esse, alias, o sentido das declarações do Partido Socialista da Catalunha e do Ciudadanos – que ontem estiveram juntos, coisa rara, na manifestação nas ruas de Barcelona. Ou seja, a Catalunha está profundamente dividida entre os que querem e os que não querem eleições. Para o governo central, isso já não é um problema: a Generalitat foi destituída, o poder na autonomia está nas mãos da vice-presidente do governo de Espanha, Soraya Sáenz de Santamaria – que tem como principal função preparar as eleições de dezembro – e Puigdemont é passado.

Mas, acreditar-se que tudo se passará como o planeado pelo governo de Mariano Rajoy – apesar do apoio do PSOE e do Ciudadanos e da fraca oposição do Podemos – pode ser um excesso de otimismo. É que os independentistas já deram mostras de que pouco mais lhes resta que a fuga para a frente e isso pode tornar-se num enorme problema para a região.

Entretanto – e apesar de Puigdemont ter tido a preocupação de falar frente às bandeiras das Catalunha e da União Europeia (tendo excluído apenas a de Espanha) – e como estava absolutamente evidente, nenhum país da Europa reconheceu a independência proclamada – o que mostra o grau de isolamento internacional do independentismo catalão.

A única reação sobre a matéria veio da Bélgica – onde o independentismo é tão forte como na Catalunha – que ofereceu asilo político a Puigdemont.

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