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Fiasco da reunião entre Trump e Xi Jinping pode pressionar a Fed a baixar as taxas de juro já em julho

O encontro entre Donald Trump e Xi Jinping, durante a cimeira do G20, que se realiza em Osaka, entre os dias 28 e 29, poderá ser determinante para o acordo comercial entre os EUA e a China. Caso o encontro seja positivo, esperam-se novos máximos históricos para os mercados bolsistas. Mas se o encontro comprometer o acordo, os analistas contatados pelo JE revelam que os impactos não serão assim tão negativos, com a Reserva Federal note-americana a poder cortar as taxas de juro já no próximo mês.
  • Presidente chinês, Xi Jinping, e governante norte-americano, Donald Trump, conversam durante evento em Pequim, em 2017
26 Junho 2019, 07h47

Acordo ou não acordo? Eis a questão que vai estar no olhar atento dos mercados quanto ao encontro entre o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e da China, Xi Jinping, durante a cimeira do G20 que se vai realizar no final desta semana, em Osaka, no Japão.

Independentemente do desfecho da reunião entre os dois líderes das duas maiores economias do mundo, as repercussões irão certamente fazer-se sentir.

Os analistas consultados pelo Jornal Económico antecipam novos máximos históricos para os mercados bolsistas caso Donald Trump e Xi Jinping alcancem uma plataforma de entendimento. Caso contrário, os especialistas defendem que o Reserva Federal norte-americana poderá mitigar os efeitos negativos. Jerome Powell, o presidente da Fed, poderá cortar as taxas de juro já no próximo mês, medida que oferece proteção aos investidores.

“Perante a guerra comercial entre os Estados Unidos e a China, a discussão sobre o protecionismo versus livre mercado será o grande foco do encontro entre os líderes das 20 maiores economias”, referiu Nuno Caetano, global trader da Infinox, uma corretora.

A reunião entre Trump e Jinping não se afigura fácil. Ao histórico das retaliações económicas entre as duas maiores economias do mundo, junta-se agora “a postura da China mais dura”, algo que poderá “acentuar o clima de tensão entre as duas partes”, salientou Ricardo Evangelista, analista sénior da ActivTrades, uma corretora. Esperam-se “obstáculos na resolução dos diferendos”, reforçou.

Ainda assim, há quem seja um pouco mais otimista e considere como sinal positivo a continuação das negociações . “Espera-se, pelo menos, uma estabilização nas relações entre os dois países, e que pelo menos exista sinal que as equipas irão continuar os esforços para um entendimento entre as duas maiores economias do mundo”, disse Pedro Lino, economista da plataforma de trading Dif Broker.

Cenário de acordo versus cenário de não-acordo

Sobre o desfecho da reunião entre Trump e Jinping, Nuno Caetano relembrou que o secretário de Estado do Comércio norte-americano, Wilbur Ross, “indicou que os EUA e a China não vão anunciar um tratado comercial”, sendo, no entanto, possível “chegar a um entendimento”.

Mas o global trader da Infinox disse que a recente subida dos mercados poderá continuar, “o que poderá perspectivar que se espera um desfecho bem-sucedido no acordo comercial”.

“Caso esta situação se venha a confirmar, poderemos atingir novos máximos históricos nos mercados bolsistas”, frisou Nuno Caetano.

Questionado sobre a possibilidade de um acordo a breve trecho, Ricardo Evangelista disse que “suportaria um crescimento da economia global e seria positivo para muitas das empresas cotadas em bolsa”. “Neste cenário, novos máximos históricos não surpreenderiam”, frisou.

Pedro Lino partilhou desta opinião, e referiu ainda que “as bolsas chinesas [poderiam] recuperar substancialmente”, especialmente “se dentro do acordo for incluída a questão da proteção da propriedade intelectual, a transferência de tecnologia e a questão da Huawei”.

No caso de o acordo comercial entre a China e EUA ficar comprometido depois da reunião entre Xi Jinping e Donald Trump, Pedro Lino e Ricardo Evangelista não descuram um cenário negativo para as bolsas, ainda que atenuado pelas políticas monetárias dos bancos centrais, como se servissem de travão às perdas dos mercados bolsistas.

“Teremos uma reação negativa, mas limitada pelas ações dos bancos centrais”, referiu Pedro Lino. “Neste cenário [de não-acordo], é provável que a Fed reduza as suas taxas de juro já em julho, eliminado a incerteza e receios dos investidores”, disse.

Por sua vez, Ricardo Evangelista considerou que “o cenário [de não-acordo] poderá não ser tão negativo para as bolsas (…) sobretudo nos EUA”. Isto porque, argumentou, “um agravar do clima de tensão entre as duas potências tornaria ainda mais plausíveis os cortes nas taxas de juro pela Fed, enquanto resposta à ameaça ao crescimento económico”.

E prosseguiu: “esta dinâmica, muito provavelmente, levaria a uma maior procura de ativos bolsistas, sobretudo nos chamados setores defensivos, como os das telecomunicações e dos bens de consumo diário”.

O acordo que escapa há 16 meses

Em dezembro de 2018, depois da cimeira do G20 que se realizou em Buenos Aires, a capital da Argentina,  Donald Trump, disse ter tido uma reunião “incrível” e “muito produtiva” com  Xi Jinping.

Depois dessa reunião, já a guerra comercial ia em nove meses, saíram “inúmeras possibilidades para os Estados Unidos e a China”, revelou Donald Trump. Com efeito, os ânimos acalmaram depois de ter sido anunciado um período de tréguas de 90 dias, até ao dia 1 de março, data até a qual as duas maiores economias mundiais deveriam chegar a um acordo comercial.

O presidente norte-americano adiava, assim, a ameaça de impor novos aumentos às tarifas de importações chinesas, de 10% para 25%, no valor de 200 milhões de dólares.

Certo é que, a dois dias do próximo encontro entre os dois chefes de Estado o acordo comercial entre os EUA e a China ainda não foi selado. Os dois países não conseguiram chegar a um entendimento sobre as questões da proteção da propriedade intelectual e da transferência da tecnologia, pontos no acordo que nenhum das contra-partes quer abdicar.

Donald Trump e Xi Jinping vão encontrar-se depois de o aumento das tensões comerciais entre os dois países. No passado dia 10 de maio, Donald Trump executou a ameaça e os EUA aumentaram as tarifas às importações de produtos chineses. Poucos dias depois, a China retaliou, com Pequim a dar indicações para aumentar as tarifas às importações de produtos norte-americanos, no valor de 60 mil milhões de dólares, a partir de 1 de junho.

São “práticas que contrariam as regras da livre concorrência defendidas pela Organização Mundial do Comércio”, lembrou Nuno Caetano, global trader da Infinox.

Pelo meio, Washington centrou-se na gigante de telecomunicações chinesa, a Huawei, alegando que a atribuição de contratos relativos à infraestrutura da rede 5G à empresa sediada, em Shenzhen, poderia pôr em causa a segurança dos países que com ela celebrem acordos para infraestrutua da rede 5G.

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