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FMI: Desenvolvimento tecnológico requer repensar os sistemas de prestações sociais

Alterações no mundo do trabalho provocadas pelo desenvolvimento tecnológico vão obrigar a uma alteração dos sistemas fiscais e de prestações, de forma a minimizar as lacunas de cobertura, que incidem particularmente no sexo feminino, explica o FMI.
9 Outubro 2018, 05h00

O desenvolvimento tecnológico e as novas formas de trabalho conduzem à necessidade de pensar a proteção social do trabalho, para proteger os trabalhadores temporários, nomeadamente as mulheres, segundo um estudo publicado pelo Fundo Monetário Internacional (FMI).

O estudo “Gender, Technology and the future of work”, divulgado pelo FMI esta terça-feira, dia 9, defende que o aumento do emprego flexível e não padronizado irá pressionar as formas tradicionais de proteção social.

“A elegibilidade para o seguro social – que inclui benefícios de pensão e desemprego – tem sido tradicionalmente condicionada a registos acumulados de contribuições. Os trabalhadores não-padronizados e, portanto, muitas mulheres, provavelmente estarão em desvantagem em relação aos contratos-padrão de trabalho”, explica o FMI, acrescentando que “os sistemas fiscais e de prestações irá precisar de se reinventar para colmatar as lacunas de cobertura, particularmente para as mulheres”.

Esta alteração pretende ainda proteger os trabalhadores com contratos flexíveis quando mudam de emprego. “Vários países estão a testar garantias de rendimento básico ligadas à tecnologia e quadros não contributivos”, explica o estudo da instituição liderada por Christine Lagarde.

O estudo defende ainda que os benefícios da diversidade de género são “significativamente mais elevados” nas áreas que se prevê terem um grande impacto no futuro: a high-tech e setores de conhecimento intensivo.

“A incapacidade de reter talentos femininos na hierarquia do trabalho e criar condições equitativas tem consequências importantes para o risco de automação”, salienta, e recorda que embora as mulheres tenham, em média, maiores níveis de escolaridade do que os homens, na maioria das economias avançadas, a probabilidade de ascenderem a posições de liderança é apenas 28% das dos homens.

“É provável que as novas tecnologias sejam disruptivas para os outcomes do mercado laboral feminino. Alguns empregos serão deslocalizados ou irão mudar a sua natureza, e as mulheres estão claramente em alto risco de serem automatizadas, mas muitos novos empregos serão também criados”, adverte.

Salienta que a melhor política para responder aos desafios de género colocado pelas mudanças no mundo do trabalho, irá variar de país para país, consoante o grau de desenvolvimento económico e do grau de impacto das novas tecnologias.

“As políticas devem concentrar-se em diminuir as barreiras que as mulheres enfrentam no local de trabalho e promover a paridade de género na educação e no acesso às novas tecnologias”, pode ler-se no estudo, que acrescenta que “a inclusão de mais mulheres na força de trabalho e na redução de ganhos e desequilíbrios ocupacionais continua a ser uma prioridade em muitas economias avançadas e emergentes”.

Mulheres com menos probabilidades de participar em formações
Já sobre as competências futuras desejadas, sublinha que a procura por competências específicas para cada trabalho está a diminuir, aumentando, por outro lado, a procura por competências cognitivas, tais como o pensamento crítico e a resolução de problemas, assim como competências ao nível da criatividade e adaptação esta a crescer.

Defende assim “uma necessidade urgente de adaptar e reformar os sistemas educacionais e a formação da força de trabalho” com o intuito de “diminuir as incompatibilidades de competência.

Neste sentido, alerta que “as mulheres, que estão mais expostas ao risco de automação, geralmente trabalham em ocupações com oportunidades de aprendizagem no trabalho potencialmente mais baixas”, sendo também “menos propensas a participar em formações”.

Para colmatar este quadro identifica instrumentos de política fiscal, tais como vouchers subsidiados publicamente para facilitar o acesso à educação formal ou empréstimos preferenciais e deduções fiscais – como na Holanda- como forma de incentivo para a aprendizagem ao longo da vida.

“Incentivar o setor privado a incentivar investimentos em capital humano através de benefícios fiscais e outros incentivos (por exemplo, impostos sobre os salários dedicados a subsidiar oportunidades de formação, subsídios públicos para subsidiar formação) também poderiam ser considerados”, diz, acrescentando que “há também mérito em direcionar os incentivos fiscais para novos setores em que as mulheres continuam a enfrentar grandes lacunas de habilidades em relação aos homens”.

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