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‘Hacker’ Rui Pinto tem acesso à internet em casa? Ministério Público húngaro não responde

O português Rui Pinto, acusado de crimes de pirataria informática, encontra-se em prisão domiciliária desde janeiro. Mas será que tem acesso à internet a partir de casa? As autoridades húngaras estão em silêncio sobre esta questão.
  • REUTERS/Kacper Pempel
15 Fevereiro 2019, 13h01

Perante os crimes de natureza informática de que é acusado, terá o ‘hacker’ Rui Pinto acesso à internet na sua residência? Esta foi precisamente a pergunta que o Jornal Económico fez ao Ministério Público húngaro, depois do tribunal de segunda instância de Budapeste ter decidido manter o ‘hacker’ em prisão domiciliária.

No entanto, a resposta dada  por esta entidade não foi esclarecedora: “Neste momento, não há a possibilidade para responder à questão”, disse fonte oficial do Ministério Público da Hungria ao Jornal Económico.

No passado mês de janeiro, Rui Pinto foi detido em Budapeste, na Hungria, a pedido do Ministério Público português, no âmbito da operação Cyberduna, e encontra-se em prisão domiciliária desde então

Apesar de os seus equipamentos terem sido apreendidos, estando à guarda do tribunal húngaro, não existem garantias que Rui Pinto não tenha adquirido novos equipamentos, apurou o Jornal Económico.

A decisão do tribunal não inclui nenhuma medida de restrição de internet, dado que isto não foi pedido pelo Ministério Público português no mandato de captura, porque Portugal pedia o encarceramento de Rui Pinto num estabelecimento prisional, sabe o JE. Contudo, o tribunal húngaro optou por uma medida mais leve, a prisão domiciliária.

O Económico sabe que, para já, as autoridades portuguesas não tencionam pedir nova medida de restrição, como do uso de internet, por considerarem que o ‘hacker’ poderá aceder à internet de outra forma. Uma fonte das autoridades portuguesas contactadas pelo Jornal Económico, ilustra esta situação com a expressão: “A internet está aí no éter”, ou seja, é relativamente fácil de apanhar, assim o ‘hacker’ em prisão domiciliária o queira.

 

De que é acusado o ‘hacker’?

O português é acusado de vários crimes de pirataria informática, entre eles acesso ilegítimo, ofensa a pessoa coletiva, violação de segredo e extorsão qualificada. Apesar do pedido do Ministério Publico húngaro para transferir Rui Pinto para uma prisão local, o tribunal de recurso húngaro manteve a decisão de deixar o português em prisão domiciliária, até que a juíza que está encarregue do caso aceite ou recuse a sua extradição para Portugal.

Como escreveu o Jornal Económico a 18 de janeiro, a divulgação de dados relativos a processos judiciais ligados ao ‘super-espião’ Jorge Silva Carvalho, no blogue “Mercado de Benfica”, precipitou a detenção do pirata informático que é suspeito pelas sucessivas divulgações de “e-mails” intercetados a partir dos servidores da SAD do Sport Lisboa e Benfica. O Jornal Económico sabe que em causa está a violação do segredo de Estado com a divulgação de dados confidenciais relativos à atividade do Serviço de Informações de Segurança (SIS). A exposição de informações consideradas “sensíveis” sobre as secretas é um crime público que força o Ministério Público a agir.

Rui Pinto tem 30 anos e foi considerado, segundo a revista Sábado, um “génio da informática mercenário” que age motivado por dinheiro, sem qualquer ligação a clubes. Este ‘hacker’ poderá esta associado ao desvio de dados sobre os processos do Sporting com a Doyen em 2015, sendo apontado como um dos principais indivíduos que fez várias publicações no polémico blogue “Football Leaks”, que divulgava documentos e informações oficiais no mundo do futebol português, especialmente transferências.

 

“Não terei um julgamento justo em Portugal”

A 1 de fevereiro, uma semana depois do seu advogado William Bourdon ter confirmado que Rui Pinto é o “John” — o responsável por detrás de 70 milhões de documentos do Football Leaks, o português deu a sua primeira entrevista à revista alemã “Der Spiegel”, ao “Mediapart” e ao canal público alemão “NRD”.

A conversa aconteceu em sua casa na cidade de Budapeste, na Hungria, onde se encontra em prisão domiciliária. O jornal “Expresso” divulgou nessa altura parte da entrevista, na qual o ‘hacker’ assumia o receio em ser extraditado para Portugal.

“Tenho quase a certeza que não terei um julgamento justo em Portugal. O sistema judicial português não é inteiramente independente; existem muitos interesses escondidos”, sublinhando que “a máfia do futebol está em todo o lado”, e que a mensagem que pretendem passar é de que “ninguém se deve meter com eles”.

Questionado com as suspeitas de ter entregue e-mails incriminatórios do Benfica, ao rival Futebol Clube do Porto, o português referiu que nunca leu “nenhuma declaração das autoridades sobre uma relação entre mim e o escândalo do Benfica”.

No entanto, essas suspeitas mudaram a vida de Rui Pinto. “A minha fotografia estava nas primeiras páginas dos jornais por todo o país. A minha conta de Facebook e o meu e-mail foram inundados com ameaças de morte”, afirma.

Confrontado sobre como teria conseguido 70 milhões de documentos oficiais, alguns deles bastante delicados da indústria internacional de futebol, Rui Pinto afirmou não ser o “único envolvido” já que “ao longo do tempo, mais e novas fontes de informação foram aparecendo e partilhando material comigo e a base de dados foi crescendo”.

Nessa entrevista, Rui Pinto assumiu que recebeu “várias” ofertas para revelar os dados que possui. “Uma vez recebi um e-mail anónimo em que me era oferecido mais de meio milhão de euros. Recusei todas as ofertas, porque nunca agi com o propósito de ganhar dinheiro, mas sim com base no interesse público”, referiu.

O português é também suspeito de desviar 264 mil euros do Caledonian Bank, um banco situado nas ilhas Caimão. O eventual ataque terá acontecido em 2013 e, com os dados roubados, houve um acesso às contas de dois clientes, de onde foram feitas duas transferências para Rui Pinto.

 

https://jornaleconomico.pt/noticias/violacao-do-segredo-de-estado-acelerou-detencao-de-hacker-399848

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