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Indústria de fintech deverá atingir os 1,5 biliões de dólares até 2030, segundo BCG

Os bancos e neobancos, plataformas de empréstimo, credores hipotecários e cooperativas de crédito sentirão dificuldades em aumentar a rentabilidade e terão de começar a conceder empréstimos com base no seu próprio balanço, enquanto acedem simultaneamente a fundos de custo mais baixo, defende o estudo da BCG.
8 Maio 2023, 12h45

As receitas do setor fintech deverão crescer cerca de seis vezes até 2030, passando de 245 mil milhões de dólares para 1,5 biliões de dólares, de acordo com o “Fintech Report 2023: Reimagining the Future of Finance”, desenvolvido pela Boston Consulting Group (BCG) e pela QED Investors.

O estudo da Boston Consulting Group (BCG) e da QED Investors estima que o setor cresça cerca de seis vezes até ao final da década e que nos próximos sete anos, a região Ásia-Pacífico deverá ultrapassar os EUA, tornando-se o maior mercado fintech do mundo.

Pagamentos lideraram a última era de crescimento, mas perderão tração para os modelos B2B2X

Enquanto os pagamentos lideraram a última era de crescimento do setor, os modelos de negócio B2B2X (B2B to any end-user) e B2b (Business-to-business, ou seja, comércio entre empresas) liderarão a próxima era. Já que até 2030, espera-se que estes modelos cresçam por ano, respetivamente, 25%, atingindo os 440 mil milhões de dólares em receitas anuais, e 32%, alcançado os 285 mil milhões de dólares em receitas anuais.

A primeira parte da jornada de crescimento das fintech foi liderada por soluções de pagamentos, correspondendo a cerca de 25% do financiamento cumulativo de capital (120 mil milhões de dólares) desde 2000. O estudo da BCG e da QED Investors diz que este setor crescerá cinco vezes para 520 mil milhões, impulsionado por pagamentos transfronteiriços, por modelos “payment-plus” (isto é, pagamento de faturas e aplicações de pagamento que oferecem serviços adjacentes, como de wallet) e pela proliferação de use-cases de pagamentos em tempo real.

“Mas, se os pagamentos lideraram a última era, os modelos B2B2X – que englobam as soluções B2B2C (que permitem que outros players sirvam melhor os consumidores), B2B2B (que permitem que outros players sirvam melhor as empresas) e de infraestrutura financeira – e B2b (que servem pequenas empresas) liderarão a próxima”, lê-se no comunicado.

Fintechs bancárias vão constituir quase 25% de todas as avaliações bancárias globais até 2030

Em 2022, as fintechs perderam, em média, mais de metade do seu valor de mercado, mas esta queda foi apenas uma correção de curto prazo, não alterando a trajetória positiva de longo prazo, refere o estudo. a BCG estima que este setor, que atualmente representa aproximadamente 2% dos 12,5 biliões de dólares em receita global de serviços financeiros, venha a crescer até 7%, e que as fintechs bancárias constituam quase 25% de todas as avaliações bancárias globais até 2030.

Juntos, o Reino Unido e a União Europeia representam o terceiro maior mercado fintech, o qual deverá aumentar cerca de cinco vezes face a 2021, largamente impulsionado pelo setor dos pagamentos, conclui o estudo que diz ainda que o mercado da América Latina, liderado pelo Brasil e México, deverão apresentar um crescimento anual das receitas de 29% no mesmo período, enquanto o continente africano deverá verificar um aumento de 32%, tendo como principais mercados a África do Sul, Nigéria, Egito e Quénia.

A região Ásia-Pacífico, que é, historicamente, um mercado pouco penetrado, com cerca de 4 biliões de dólares em receitas de serviços financeiros, encontra-se prestes a ultrapassar os Estados Unidos e a tornar-se o maior mercado fintech do mundo até 2030, com um crescimento médio anual previsto de 27%, ainda segundo a mesma análise.

Este impulso deve-se principalmente a países emergentes como a China, a Índia e a Indonésia, onde se encontram as maiores fintechs, uma elevada parte da população sem banco nem serviços alternativos, um elevado volume de pequenas e médias empresas e uma crescente população jovem e classe média cada vez mais sofisticadas tecnologicamente.

Ainda segundo a mesma análise, a América do Norte, que possui atualmente a maior indústria de serviços financeiros do mundo, continuará a ser um hub de inovação e um mercado crítico, prevendo-se que cresça até quatro vezes, para 520 mil milhões de dólares em 2030, com os EUA a representarem 32% do crescimento esperado das receitas globais do setor (um crescimento anual de 17%).

Bancos e neobancos irão ter dificuldade em aumentar rentabilidade

Os bancos e neobancos, plataformas de empréstimo, credores hipotecários e cooperativas de crédito sentirão dificuldades em aumentar a sua rentabilidade e terão de começar a conceder empréstimos com base no seu próprio balanço, enquanto acedem simultaneamente a fundos de custo mais baixo, sendo um dos métodos a aquisição de licenças bancárias, defende o estudo da BCG.

“Um desafio significativo é o facto de os incumbentes se encontrarem a investir fortemente em tecnologia para melhorar a experiência de cliente e as cadeias de valor, dificultando a diferenciação dos neobancos”, acrescenta a mesma análise.

Com cerca de 2,8 mil milhões de pessoas a recorrer a serviços financeiros alternativos (50% das quais residem em economias emergentes) e mais 1,5 mil milhões de adultos sem conta bancária (75% dos quais residem em economias emergentes) no mundo, “os neobancos desempenharão um papel fundamental na expansão do acesso financeiro”, conclui o estudo.

O “Fintech Report 2023: Reimagining the Future of Finance” diz que as estratégias das fintechs e dos incumbentes terão de se adaptar ao cenário macroeconómico. “Face ao atual cenário de ‘inverno de financiamento’, é esperado, em contraste com anos anteriores, que as fintechs precisem de economizar para não terem de recorrer a financiamento a uma baixa avaliação”.

O estudo refere que as fintechs devem “reforçar a sua competitividade e procurar estratégias como a aquisição de talento, aumentar quota de mercado com a entrada em novas geografias/mercados e explorar oportunidades de fusão e aquisição” e que “simultaneamente, deverão assumir um papel ativo na formação e adoção de regulamentações viradas para o futuro”.

O relatório assinala ainda que, historicamente, os incumbentes tentaram ganhar competências através da aquisição de fintechs.

As consultoras defendem que “para evitar aquisições fracassadas e reduzir o tempo de lançamento das fintechs no mercado, ambas as entidades deverão formar parcerias baseadas em valor que permitam que as fintechs permaneçam independentes sob um acordo comercial que beneficie ambos”.

“Tradicionalmente, a regulamentação das fintechs tem sido relativamente ligeira, não proativa, fragmentada e, em alguns casos, até atrasada”, lembra a BCG.

Embora as recentes crises bancárias tenham tornado as entidades reguladoras mais sensíveis à gestão de ativos/passivos, “estas, além de criarem mecanismos de proteção, devem garantir que não estão a regulamentar excessivamente o setor, sufocando assim a inovação”. Assim, as entidades reguladoras “devem considerar a possibilidade de nivelar as condições de concorrência através de ações como a facilitação da obtenção de licenças bancárias e de instituições de pagamento, o apoio a infraestruturas públicas digitais e a facilitação de um ecossistema bancário aberto”, defende a Boston Consulting Group.

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