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Inflação dá força à procura por seguros de crédito e mercadoria

As seguradoras garantem a proteção das empresas em caso de incumprimento dos clientes. Uma “rede” que é cada vez mais procurada, naquele que é um cenário de aumento dos riscos.
18 Março 2023, 09h30

Os seguros de crédito e de transporte de mercadorias são uma ferramenta importante para as empresas que procuram uma cobertura de risco adicional quando querem expandir os mercados onde operam e conquistar novos clientes. De acordo com as entidades ouvidas pelo JE, são uma solução que tem sido aposta das seguradoras, tentando responder à procura que ganhou força com a retoma da economia no período pós-Covid, mas também com o atual cenário de incerteza.

São várias as entidades que comercializam seguros de crédito – que abrangem negócio doméstico e exportação – com o objetivo de garantir que as empresas não são afetadas pelo incumprimento dos clientes, ajudando também a gerir os riscos associados. Riscos que têm aumentado, primeiro com a pandemia e depois com a escalada da inflação e incerteza económica.

“No contexto em que vivemos, o seguro de crédito é muito importante para as empresas porque, globalmente, estamos a atravessar um período pouco favorável do ponto de vista económico e geopolítico. Isto tem duas vertentes: significa que as empresas que exportam têm de assegurar que o cliente no país de destino lhes paga e, se não pagar, que haja alguém que possa substituí-lo nesse pagamento”, diz José Monteiro, country manager da Coface, uma das companhias de seguro de crédito que opera em Portugal.

Aliás, este contexto de aumento dos riscos reflete-se nas projeções apresentadas pela Allianz Trade no final de 2022, que “apontavam para um aumento de 20% das insolvências em Portugal até 2023, devido ao agravamento das pressões inflacionistas, à crise energética e às perturbações nas cadeias de abastecimento”, indica a Cosec, outro dos players no mercado de seguros de crédito.

Para responder a isto, as seguradoras têm trabalhado para disponibilizar uma oferta, nomeadamente de seguros de crédito à exportação, que vá ao encontro das necessidades dos clientes. “Há muito que é uma aposta do sector segurador nacional”, garante o presidente da Associação Portuguesa de Seguradores (APS), José Galamba de Oliveira. “Mas mais relevante é saber se é uma aposta do sector exportador nacional. E deveria ser, especialmente neste quadro de enorme incerteza global que se estende a muitos dos seus mercados de destino”, frisa.

Na Coface, o seguro de crédito à exportação tem várias vertentes, nomeadamente evitar situações fraudulentas. “Estão a verificar-se agora algumas fraudes por usurpação de identidade”, que têm conseguido evitar, explica José Monteiro, isto através da confirmação, com a ajuda da seguradora, da existência efetiva das empresas onde as mercadorias são entregues. Além da cobertura dos riscos catastróficos, “no ambiente em que vivemos, é importante que as empresas façam uma cobertura do risco político”, salienta.

Já a Cosec tem um seguro de crédito comercial de curto prazo que cobre as vendas a crédito para que o seu fluxo de caixa seja salvaguardado, evitando dívidas incobráveis, outro adaptado às pequenas empresas e um produto específico para grandes empresas que operam em dois ou mais países.

Também a Crédito y Caución, companhia de seguros de crédito que está presente em Portugal há 25 anos, “funciona como um departamento de gestão de riscos para os segurados em que estuda, analisa e classifica cada cliente do seu segurado e indica quais as linhas de crédito comercial passíveis de cobertura pelo seguro de crédito e o valor máximo da cobertura”, diz Paulo Morais, regional manager da companhia em Portugal e no Brasil.

Proteção das mercadorias
Nos seguros de transporte de mercadoria, estas entidades contam com a parceria de seguradoras que os comercializam. “A oferta da Allianz Portugal para seguro de transporte de mercadorias dá resposta às diversas modalidades em que esse transporte possa ser realizado”, diz Edite Borges, Marine Senior Underwriter da seguradora, “qualquer que seja o meio de transporte, a mercadoria, o âmbito territorial ou a periodicidade”.

Esta solução pode aplicar-se tanto ao importador, “nos casos em que a mercadoria é vendida à saída da fábrica”, como ao exportador, “nos casos em que a venda inclui o transporte e o seguro”, diz a Tranquilidade. Por outro lado, a Fidelidade faz “contratos personalizados e adequados ao tipo de risco”, mesmo “no caso de empresas que transportam vários tipos de mercadorias, para destinos diferentes e em elevada frequência”.

Este produto, garantem as companhias de seguro de crédito, tem registado um aumento da procura. “Após os anos difíceis da pandemia, o mercado retomou com um crescimento expressivo de 12,6% em 2022, representando já cerca de 30 milhões de euros em prémios”, afirma a Tranquilidade.

O mesmo tem acontecido nos seguros de crédito à exportação. “Há uma maior consciência por parte das empresas que o seguro de crédito constitui uma ferramenta de boa gestão que apoia e protege a liquidez das empresas”, diz Paulo Morais, da Crédito y Caución.

Nesse sentido, refere José Monteiro, da Coface, “existe uma procura maior do seguro, com o risco a crescer ainda mais com a inflação”, uma vez que “uma empresa com a mesma mercadoria está a vender mais em termos de valor, e por vezes não em volume, e está a ter custos mais acrescidos”, com o impacto a ser maior em caso de falta de pagamento. Já a Fidelidade diz estar a “trabalhar para criar as melhores soluções de seguros de crédito, que contamos disponibilizar oportunamente”.

Perante um crescente interesse, a oferta é suficiente? A APS garante que sim, mas Catarina Vivo, Trade Credit Specialist da Marsh Portugal, afirma que “uma das grandes queixas dos exportadores é que não têm um apoio suficiente do sector segurador privado”.

Tecnologia ajuda a medir risco
Esta aposta das seguradoras é feita num período marcado por novas tendências, nomeadamente pela “utilização crescente da tecnologia na avaliação do risco de crédito e na gestão de sinistros”, diz Paulo Morais, da Crédito y Caución.

Já Edite Borges, da Allianz, refere que “com a pandemia, a procura e utilização de compras on-line teve um aumento exponencial” que “se materializa na possibilidade de a qualquer momento, qualquer pessoa, poder ser proprietária de alguma mercadoria em trânsito”. José Galamba de Oliveira, da APS, frisa que além de mitigarem os riscos de crédito, os seguros prestam “informação especializada sobre os mercados e os clientes, a partir de bases de dados que registam e atualizam milhões de transações à escala global, que não só facilitam a avaliação e escolha dos clientes no que respeita à sua capacidade creditícia, como providenciam uma monitorização constante dos respetivos níveis de cumprimento e de riscos a que estão expostos”.

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