Joe Biden deve Casa Branca ao condado mais populoso de nove estados

A tendência de os democratas levarem vantagem sobre os republicanos nos principais centros urbanos sempre que chega a hora de votar verificou-se nas presidenciais da terça-feira passada, ao ponto de Joe Biden dever a declaração de vitória enquanto 46.º presidente dos Estados Unidos ao avanço sobre Donald Trump a apenas nove condados de outros tantos estados, incluindo cinco onde o então candidato republicano derrotou Hillary Clinton em 2016.

Para a reconstrução do “muro azul” de estados que contribuiu para a vitória eleitoral de Biden – ainda não reconhecida pelo presidente em exercício e dependente de contagens e (pelo menos na Georgia) recontagens de votos – foram decisivas as vantagens esmagadoras do candidato democrata nos condados que correspondem às cidades de Filadélfia (Pensilvânia), Detroit (Michigan), Milwaukee (Wisconsin), Phoenix (Arizona), Atlanta (Georgia) e Las Vegas (Nevada). Apesar de Trump ter obtido mais votos do que o rival democrata no cômputo de todos os outros condados nesses estados, não amealhou votos suficientes nas zonas rurais, subúrbios e algumas cidades para contrabalançar o enorme número de eleitores desses centros urbanos, ainda mais potenciado pelo envio de boletins pelo correio.

De tal forma os bastiões democratas coincidem com as maiores cidades que mesmo estados muito avessos a contribuir para candidatos presidenciais republicanos teriam pendido para Trump não fosse o peso dos condados mais populosos. O exemplo mais flagrante é o Illinois, cujo condado de Cook, onde se integra Chicago, deu quase um milhão de votos a mais a Biden do que ao incumbente (1.403.246 contra 487.338 votos), mas o mesmo aconteceu no Minnesota, onde os democratas mais do que duplicaram a votação republicana no condado de Hennepin, graças à cidade de Minneapolis. E o mesmo no insuspeito Delaware, justamente o estado que Biden representou ao longo de décadas no Senado, retirar da equação o condado de New Castle resultaria em vitória de Trump, que somaria 344 grandes eleitores no colégio eleitoral, contra 194 do adversário democrata, assegurando facilmente o segundo mandato presidencial se o condado com maior número de eleitores em cada um dos estados não fosse considerado.

MAPA ELEITORAL ALTERNATIVO SEM O CONDADO MAIS POPULOSO DE CADA ESTADO

E se fosse ao contrário, contando apenas o condado mais populoso de cada estado para decidir quem fica na sala oval da Casa Branca? Nesse caso haveria um verdadeiro massacre, pois Trump não iria além de 47 votos no colégio eleitoral, partindo do princípio que manteria a habitual vantagem no Alasca, enquanto Biden somaria esmagadores 491. Analisando a votação nos condados mais populosos de cada um dos 50 estados norte-americanos, conclui-se que Trump só conseguiu ser o mais votado em nove, ficando atrás do antigo vice-presidente de Barack Obama mesmo naqueles que correspondem às principais cidades de alguns dos estados em que teve as maiores vitórias, como Houston (Texas), Miami (Florida) e Colombus (Ohio).

Outros estados que deram a vitória a Trump nestas presidenciais, mas onde Biden foi o mais votado no condado principal incluem o Utah (Salt Lake City), o Tennessee (Shelby, que integra Memphis), o Indiana (Marion, onde se encontra Indianapolis) e a Carolina do Norte (Wake, cuja principal cidade é Raleigh), onde a contagem de votos ainda está a decorrer, devendo manter-se na coluna do presidente em exercício no colégio eleitoral, bastante mais curta do que a de 2016.

Entre os nove estados que permaneceriam fiéis ao candidato republicano mesmo se o critério fosse a votação do condado mais populoso nenhum chegaria à dezena de votos no colégio eleitoral, sendo a Carolina do Sul (Greenville) e o Oklahoma (Oklahoma City) aqueles que mais se aproximariam. Os outros seriam o Arkansas, a Virginia Ocidental, o Dacota do Norte, o Dacota do Sul, o Alasca, o Idaho, o Montana e o Wyoming. No entanto, o condado com maior número de eleitores republicanos foi o de Los Angeles, com 984.383 votos numa altura em que ainda decorre o escrutínio, embora o candidato democrata some já mais de 2,6 milhões de votos na cidade californiana.

MAPA ELEITORAL ALTERNATIVO SÓ COM O CONDADO MAIS POPULOSO DE CADA ESTADO