Kyriakos Koursaris, professor de Ciências da Computação, considera, em entrevista ao “Jornal Económico”, que os jogos e a música são ferramentas essenciais preparar os alunos para o futuro digital que se avizinha. No âmbito da SingularityU Portugal, no qual Koursaris é formador de empresas, o docente apontou que, atualmente, as escolas precisam de uma revolução porque ensinam pouco sobre as ferramentas que serão necessárias no futuro.
Como se faz a transição de música para tecnologia?
Começa por ser um pensamento abstrato, porque a música tem bases muito definidas e representa os tempos. No meu caso, a tecnologia sempre foi uma das minhas paixões e quando foi para decidir o que seguir na faculdade, segui música por conselho da minha mãe, apesar do meu pai ter querido que eu seguisse informática.
A verdade é que a forma como damos música e ensinamos é muito arcaica e baseia-se apenas na flauta. Eu comecei a introduzir a tecnologia, no seu formato mais simples, na interação, imersão e introduzir os videojogos e utilizar ferramentas no computador para entender e pesquisar a música.
Quando o fiz com os meus alunos notei logo um interesse diferente e ver que a abordagem tinha impacto em outras disciplinas, o que levou a escola a introduzir um plano mais estruturado com a utilização de tecnologia. Foi aqui que ocorreu na transição, muito no método de gerir a transição tecnológica na escola e dar a disciplina.
Quando iniciaram este projeto?
Iniciámos o projeto no PaRK Internacional School há cinco anos, num esquema de one to one, e desde então os resultados tem sido melhores do que os esperados e já estamos a pensar numa nova forma de introduzir da realidade virtual e aumentada , que é a tecnologia do momento.
Estamos em constante momento de aprendizagem e de desenvolvimento, mas isso não significa dizer que sim a tudo. Podemos testar, criar necessidade de explorar mas tem de ser tudo feito com o aluno na mente, pois a tecnologia é um meio e a aprendizagem do aluno é o fim.
Disse que não podemos dizer que sim a tudo. Já disse que não a algum projeto?
Claro. Eu não digo que o modelo não funcione, porque funciona em outros países, como é o exemplo do Flip Classroom, que é uma abordagem de ensino onde os alunos estudam o material em casa através do conteúdo preparado pelo professor e na escola é onde o trabalho [de casa] é feito.
A vantagem deste modelo é que os alunos conseguem explorar o conteúdo, sem os 45 minutos de aula fixos, da maneira como trabalham melhor, e o trabalho de casa é feito com base nas dúvidas e dificuldades que os alunos depois apresentam.
É importante introduzir a tecnologia uma de cada vez, e criar a necessidade da mesma para saber se funcionam, bem como deixar os alunos explorarem-na.
Como é que os pais e os educadores reagem a esta metodologia que une a tecnologia ao ensino?
Tanto para os pais e para os professores este metodologia insere-se de forma positiva. Obviamente que nem todos aceitam a mudança e há outras que a aceitam com menos tempo.
A verdade é que há cada vez mais escolas que optam por um currículo como o nosso. Em Portugal o currículo escolar sempre foi mais virado para salas mais científicas, pois as escolas que querem estar nos rankings querem ser as melhores a matemática e ciências, e é também a forma mais tradicional de ensino.
Nós continuamos a ter objetivos de aprendizagem e continuamos a ensinar boa matemática, mas no final queremos explorar novas formas dos alunos aprenderem matemáticas com outras ferramentas, de forma a manterem o interesse durante mais tempo.
Queremos que cada um desenvolva as suas competências de forma mais produtiva e não sente que fica para atrás dos seus colegas. Neste caso, não posso abordar o sistema público, porque já tive contacto com colegas e sei que é difícil.
Quais as principais diferenças entre o ensino que promove e o tradicional?
Um dos maiores desafios que temos é como se pode identificar os pontos fracos e fortes dos alunos, ajudá-los a superar as dificuldades e focar-se nas áreas e competências em que são mais fortes. O ensino é como one size fits all, em que não existem diferenças entre alunos.
Queremos que o nível de educação de cada aluno esteja ao seu nível e que eles consigam assumir e compreender as dificuldades que têm, para que consigam ser ajudados pelos professores. Devemos criar recursos adequados para o nível do aluno em questão, o que liberta o professor dando-lhe mais tempo para desenvolver as outras competências dos alunos.
É para este sistema que o ensino deveria estar a olhar, no simples facto das tecnologias terem de ser introduzidas e implementadas, mas que o professor continua a ser um mentor para os seus alunos.
O jogo Minecraft é conhecido por serem Legos digitais. Pode o Minecraft substituir os Legos?
Pode mas não vai porque são duas abordagens e experiências diferentes. É fácil comparar o Minecraft com os Legos, porque na sua essência são iguais, mas a grande diferença é que um é físico e o outro digital, com todas as vantagens e desvantagens que cada um tem.
O Minecraft por ser digital tem vantagens muito melhores. Cheguei a utilizar Legos na sala de aula ara ensinar algumas disciplinas, nomeadamente montar robôs. Mas o Lego é limitado e caro e o Minecraft consegue introduzir os conteúdos sem qualquer limite de espaço e ao mesmo tempo é possível ter alunos a estudar o mesmo conteúdo.
Em si, o Minecraft não ensina nada, à semelhaça do Lego. O Minecraft só ensina se o utilizador chegar lá e o utilizar dessa forma, dando para formar várias dinâmicas ao jogo. O aluno está totalmente imersivo na experiência da aula, com o recurso ao jogo digital.
Esta experiência também serve para os professores não se esquecerem que têm de ser criativos para ensinar os alunos, por ser um conceito tão extenso. Com o jogo Minecraft é possível ensinar como o ciclo da água funciona, criar uma cidade dos tempos romanos ou a primeira visita dos exploradores.
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