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Letta propõe dívida conjunta, empréstimos favoráveis e apoio do BEI para defesa na UE

Enrico Letta acredita que Mecanismo Europeu de Estabilidade deve ser utilizado para um “uma linha de crédito especializada para as despesas de defesa nacional”, semelhante ao instrumento de crédito em condições favoráveis destinado a ajudar os países do euro a cobrir as despesas de saúde relacionadas com a crise pandémica.
  • STOYAN NENOV/REUTERS
17 Abril 2024, 07h41

O antigo primeiro-ministro italiano Enrico Letta defende dívida conjunta com planos de reembolsos claros, empréstimos em condições favoráveis e apoio do Banco Europeu de Investimento (BEI) para financiar o investimento da União Europeia (UE) em segurança e defesa.

A posição consta de um relatório sobre o futuro do mercado interno da UE, ao qual a agência Lusa teve acesso e que será apresentado aos líderes europeus no Conselho Europeu que decorre entre hoje e quinta-feira em Bruxelas, no qual Enrico Letta sugere “um mercado comum da indústria da defesa” para “promover a paz e reforçar a segurança”.

No documento, o também presidente do Instituto Jacques Delors salienta que, no espaço comunitário, “está a ganhar terreno um intenso debate sobre a questão das euro-obrigações de defesa”, que a seu ver pode servir para “mobilizar rapidamente recursos significativos, por um lado, e promover o desenvolvimento de projetos de colaboração, por outro, facilitando assim uma transição gradual para um mercado unificado”.

Ainda assim, devem existir “determinadas condições para atenuar as preocupações legítimas quanto à adoção desta obrigação financeira partilhada”, argumenta Enrico Letta, pedindo por exemplo “planos de reembolso claros” e “estratégias viáveis para aumentar os recursos financeiros próprios da UE”.

O relatório surge numa altura em que se estima que os Estados-membros necessitem de 100 mil milhões de euros para responder às lacunas de investimento em defesa e segurança e para reforçar a capacidade e apoiar a Ucrânia devido à invasão russa, iniciada em fevereiro de 2022.

Depois de uma emissão de dívida conjunta bem-sucedida aquando da covid-19, que permitiu suportar os Planos de Recuperação e Resiliência (PRR), discute-se agora repetir essa iniciativa na UE para obter os recursos orçamentais necessários para reforçar a indústria de defesa, algo que era impensável antes da invasão russa da Ucrânia.

Outra das medidas sugeridas por Enrico Letta é a utilização do Mecanismo Europeu de Estabilidade para um “uma linha de crédito especializada para as despesas de defesa nacional”, semelhante ao instrumento de crédito em condições favoráveis destinado a ajudar os países do euro a cobrir as despesas de saúde relacionadas com a crise pandémica.

“À semelhança do quadro de apoio à crise pandémica, esta linha de apoio à defesa poderia conceder empréstimos até 2% do PIB [Produto Interno Bruto] de um país a taxas de juro excecionalmente favoráveis, especificamente destinados a despesas de defesa e segurança”, propõe o antigo primeiro-ministro italiano, sugerindo que “o único critério para aceder a esta facilidade de crédito seja um compromisso formal do Estado-membro requerente de afetar os fundos exclusivamente aos esforços de defesa nacional”.

Além desta instituição financeira, Enrico Letta recomenda uma “capacitação do BEI” para colmatar o défice de investimento na defesa e reforçar as capacidades militares comuns da UE, quando este banco da União está impedido de apoiar diretamente atividades de defesa, podendo apenas fazê-lo com bens de dupla utilização (como ‘drones’).

Para o responsável, urge também promover o investimento privado e público em defesa.

“Na nova desordem mundial, caracterizada por uma instabilidade profunda e sistémica, o futuro da UE não pode ignorar a necessidade de garantir a segurança dos cidadãos europeus e isso implicará posições e decisões mais exigentes no domínio da defesa”, adianta Enrico Letta.

Precisamente depois da covid-19, a UE dispõe hoje de 33 biliões de euros em poupanças privadas, predominantemente detidas em moeda e depósitos, pelo que o especialista aconselha ainda à “criação de uma União da Poupança e do Investimento, desenvolvida a partir da incompleta União dos Mercados de Capitais”.

O objetivo seria “não só manter as poupanças privadas europeias na UE, mas também atrair recursos adicionais do estrangeiro”, adianta Enrico Letta, concluindo que poderia haver “uma ligação direta entre o financiamento das transições justa, ecológica e digital”.

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