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Louis Saha: “Premier League pode perder talento para Espanha e Itália por causa do Brexit”

O antigo avançado do Manchester United olha com pessimismo para a saída do Reino Unido da União Europeia e tem dificuldade em aceitar que este processo não vá causar mossa à melhor liga de futebol do mundo.
12 Novembro 2019, 07h55

Retirado em 2013, Louis Saha brilhou na Premier League com muitos golos marcados ao serviço do Fulham, Manchester United e Everton na primeira década do novo milénio. O antigo avançado francês esteve na Web Summit a promover a plataforma Axis Stars que permite que os profissionais do desporto possam classificar o desempenho dos agentes e empresas com as quais trabalham, de forma a que a indústria se torne mais transparente. Em entrevista ao ‘Jornal Económico’, o antigo dianteiro francês mostra-se preocupado com o Brexit, elogia o futebol português e coloca um travão na forma como a tecnologia está a acabar com a fluidez de um jogo de futebol.

Jogou muitos anos na Premier League. O Brexit pode prejudicar esta liga?

Sim, é claramente um dos maiores desafios de todos os tempos para a Premier League, porque esta liga quer manter-se atrativa aos olhos dos melhores jogadores a nível mundial. A questão é que alguns jogadores vão necessitar de vistos para jogar na Liga inglesa e o processo de ‘permissão de trabalho’ pode tornar-se verdadeiramente desafiante. Apesar de se ouvir alguns a dizer que este processo não vai esmorecer o entusiasmo em torno da Premier League, a verdade é que muitas empresas já deixaram o Reino Unido e as que lá estão questionam o seu futuro em solo britânico e se os seus negócios estão seguros. Naturalmente, o desporto e o futebol não estão imunes a esse contexto socioeconómico e a insegurança é inimiga dos negócios. Será preciso um tempo para que as pessoas se adaptem a essa nova realidade.

Acredita que a Premier League pode perder jogadores para ligas rivais?

Sem dúvida, existe grande possibilidade de que a Premier League possa perder jogadores para Espanha e Itália, mas como antigo jogador da Liga inglesa espero que seja encontrada uma solução porque o Reino Unido é um grande mercado futebolístico em todo o mundo. Há que facilitar a movimentação de jogadores.

Que Liga mais gosta de ver na TV?

Tenho muito pouco tempo para ver futebol, seja na televisão ou no estádio. Acompanho quando posso os jogos da Premier League pela rapidez das transições e a paixão que é colocada nas partidas.

O que pode Portugal dar ao futebol?

Portugal não tem nada a provar a ninguém. Tem sido uma das grandes plataformas de talentos a nível europeu e mundial e tem uma ligação fantástica ao Brasil, sendo um país que facilita a integração dos jogadores brasileiros na Europa. O amor pelo futebol em Portugal é inigualável e não nos podemos esquecer que estamos a falar de um país de pequena dimensão na Europa. É um país que consegue inovar a cada instante. Foi inteiramente justo que Portugal tivesse conquistado o último Europeu de futebol em 2016 porque existiu um enorme investimento nas academias de talentos, sobretudo o Benfica e o Sporting. Espero que no próximo Europeu a França tenha mais sorte e possa conquistar a competição.

O que pode dar a tecnologia ao futebol?

Creio que pode dar muito a vários níveis: monitorizando a capacidade física de um jogador, corrigindo aspetos táticos dos jogadores e ensinando-lhes para onde devem correr e como devem recuperar defensivamente; também é muito importante que os jogadores estejam mais próximos dos seus adeptos e a fazer com que um adepto chinês, por exemplo, quase consiga sentir que está num estádio inglês. No entanto, como em tudo, há que dosear a quantidade de tecnologia que se traz para o desporto. Veja o videoárbitro por exemplo: ajuda, mas a forma como se usa essas ferramentas é decisiva. A videoarbitragem deve ser claramente um suporte a quem está a arbitrar mas não pode ser mais do que isso. Fico triste quando vejo um golo anulado pelo VAR porque há um dedo do avançado que está em fora de jogo… o videoárbitro destrói um pouco a fluidez do jogo porque não é normal que se esteja à espera de uma decisão para comemorar um golo.

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