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Mário Soares: da economia como mero instrumento político

Já não espanta ninguém que a economia seja a primeira preocupação dos políticos que tentam ascender à condição de primeiro-ministro e os portugueses há já muito que deixaram de achar estranho que a política seja uma espécie de alínea possivelmente dispensável no quadro geral das disposições económicas que enchem os discursos de todos os candidatos, quase sem exceção.
20 Janeiro 2024, 08h00

Mas há muitos, muitos anos atrás, não era assim. Quando Mário Soares, de quem se comemora este ano o centenário do nascimento, era primeiro-ministro, sucedia precisamente o contrário. Ele próprio, considerado uma espécie de pai da democracia – com certeza que a função de mãe fica reservada para Francisco Sá Carneiro – “tinha sobre a economia uma visão meramente instrumental”, admite o Embaixador Francisco Seixas da Costa, que o conheceu bem, em declarações ao JE. “A economia era uma coisa para os técnicos, pensava Mário Soares, que entendia não ter de gastar muito tempo a pensar nela”. “Os técnicos que tratem disso, costumava dizer, no que era precisamente igual ao presidente francês, François Mitterrand”, recorda

E não pensou, como disciplina de preocupação diária de um governo. Mas pensou-a enquanto elemento de formação de um quadro macro que permitisse que tudo o resto seguisse o seu próprio caminho.

A gaveta do socialismo

Um dos capítulos mais emblemáticos destes 50 anos de democracia foi quando Mário Soares anunciou que estava na altura de “meter o socialismo na gaveta”. Convém recordar que, à época, 1978, o termo ‘socialismo’ não se confundia com ‘social-democracia. O socialismo era então entendido como uma espécie de fase intermédia entre a ditadura do proletariado e o comunismo – um caminho que os países teriam necessariamente que percorrer até à final apropriação de todos os meios de produção por parte do Estado enquanto síntese da mole do proletariado. Foi por isso que Mário Soares meteu o socialismo na gaveta e de lá retirou aquilo a que com alguma pompa chamou o socialismo democrático, esse sim um segundo nome para a social-democracia. Estava feito o corte com os comunistas – que nunca foram conhecidos por terem um apresso por aí além por Mário Soares, que consideravam um lacaio do capitalismo. Não foi por acaso que o PCP demoraria mais de 40 anos a admitir apoiar um governo liderado pelo Partido Socialista – esses traidores.

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