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Negócio Cofina/Media Capital. Um ano de avanços e recuos

O interesse da Cofina na Media Capital tem mais de uma década, mas só no último ano a empresa de Paulo Fernandes esteve muito perto de adquirir a dona da TVI. Apesar da dona da CMTV e “Correio da Manhã” ter falhado a compra da dona da TVI, em março, o que espoletou uma troca de argumentos e um processo arbitral com a Prisa, eis que agora a Cofina foi autorizada pela CMVM a voltar à carga pela Media Capital.
12 Agosto 2020, 19h49

A Cofina, liderada por Paulo Fernandes, foi esta quarta-feira autorizada a relançar a oferta pública de aquisição (OPA), que estava suspensa desde março. Mas, agora, os termos foram alterados e a OPA é sobre a totalidade do capital acionista da Media Capital, empresa dona da TVI e cujos acionistas de referência são a Prisa e o empresário português Mário Ferreira. O regulador do mercado acedeu à ambição da Cofina, depois de um pedido de revisão das condições da oferta lançada há um ano. Mas este é um negócio que tem sofrido avanços e recuos. Desta vez, deu-se um passo importante a favor da Cofina. Conheça a cronologia dos factos do negócio Cofina-Media Capital.

14 de agosto de 2019. Há cerca de um ano, o semanário “Expresso” noticiou que a Cofina, empresa liderada por Paulo Fernandes, que detém a CMTV, o Correio da Manhã e a revista “Sábado”,estava em negociações com a Prisa pela compra da Media Capital, grupo que detém TVI, rádio Comercial e a produtora Plural Entertainment. À época, pelo que o Jornal Económico apurou, a Cofina pretendia adquirir a Media Capital para ganhar escala. O grupo de Paulo Fernandes considerava que esse era o único caminho para os grupos de media sobreviverem num ambiente cada vez mais competitivo e de mudança tecnológica. O interesse da Cofina na Media Capital tem mais de uma década.

16 de agosto de 2019. Este foi o dia que marcou a investida oficial da Cofina à Prisa pela compra da dona da TVI. A Cofina confirmou à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) que estava em negociações com a Prisa, em regime de exclusividade, tendo em vista a aquisição da Media Capital.

Apesar de se tratar de uma fase negocial preliminar, a Cofina confirmou que pretendia adquirir a totalidade do capital social da Vertix SGPS, sociedade a partir da qual a Prisa controlava 94,69% da Media Capital. “Caso as negociações com a Prisa sejam concluídas com a celebração de um contrato de compra e venda, a Cofina procederá simultaneamente à divulgação de um anúncio preliminar de oferta pública de aquisição [OPA] sobre as ações remanescentes da Media Capital”, podia ler-se, então, em comunicado.

Mais tarde a proposta surgiu, com o negócio a ter um valor inferior aos 440 milhões acordados na anterior tentativa de venda da Media Capital à Altice, que foi bloqueada pela Autoridade da Concorrência (AdC) e que foi mal recebida pelo Governo.

14 de setembro de 2019. Um mês depois do anúncio das negociações exclusivas entre a Cofina e a Prisa, o semanário “Expresso” e o jornal “Eco” noticiaram que um acordo para compra da Media Capital estaria iminente por 255 milhões de euros, o que levou o grupo de Paulo Fernandes a fazer um ponto de situação do diálogo junto da CMVM.

“Continuam a decorrer negociações com a Promotora de Informaciones [Prisa], sem que exista qualquer acordo, relativas à potencial aquisição da participação da Prisa na grupo Media Capital SGPS, detida através da Vertix SGPS”, dava conta, então, a Cofina.

Os referidos jornais noticiaram também que a Cofina contava, um mês depois, com dois financiadores internacionais – o banco espanhol Santander e o francês Société Générale – e dois novos intervenientes no negócio que apoiariam a compra da Media Capital, o Abanca e o empresário português Mário Ferreira. Uma informação que se veio a confirmar.

17 de setembro de 2019. Três dias depois, a Cofina voltou a enviar um comunicado à CMVM para informar que as conversações decorriam de forma “muito intensa” e que um acordo com a Prisa estava dependente da “aprovação prévia” das administrações de ambos os grupos de media.

21 de setembro de 2019. Neste dia a Cofina e a Prisa, através da Media Capital, anunciaram à CMVM ter fechado um acordo de compra e venda para que o grupo dono do “Correio da Manhã” e do “Jornal de Negócios” comprasse a participação maioritária da dona da TVI. O acordo firmado avaliava o negócio em 255 milhões de euros pela Media Capital.

O mesmo acordo previa a compra de 94,69% do capital social da Media Capital à Vertix SGPS, participada da Prisa, e, posteriormente, o lançamento de uma OPA às ações não controladas pela Vertix. Para comprar os 94,69% de ações controladas pela Prisa, a Cofina ofereceu 2,1322 euros (valor total de 170,6 milhões de euros). Já para comprar os quatro milhões de ações que a Prisa não controlava, a Cofina ofereceu 2,3336 euros por cada título, num valor total de 10,467 milhões de euros. Para comprar os 94,69% de ações controladas pela Prisa, a Cofina oferece um valor de 2,1322 euros: num valor total de 170,6 milhões de euros.

Desta forma, o acordo passava pelo pagamento de 180,2 milhões por 100% do capital da dona da TVI, incluindo a dívida de 74,8 milhões (valor referente à dívida da Media Capital no final do primeiro semestre de 2019).

A concretização do negócio ficava, então, dependente da autorização da Autoridade da Concorrência (AdC), da autorização da Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC), da aprovação pela assembleia-geral da Prisa do contrato de compra e venda, da aprovação da venda pelos credores da Prisa e da aprovação do aumento de capital da Cofina para financiar esta operação.

A Cofina assegurava à época ter financiamento certo para o negócio, através de “crédito bancário já aprovado e da realização de um aumento de capital”. Posteriormente, seria anunciado que o aumento de capital seria garantido pelos atuais acionistas da Cofina e pelo empresário Mário Ferreira.

21 de setembro de 2019. No mesmo dia, o Sindicato dos Jornalistas (SJ) anunciava que queria esclarecimentos sobre o impacto editorial e laboral do negócio entre os grupos de comunicação social Cofina e Prisa. Para o SJ, a excessiva concentração dos meios de comunicação social tem repercussões na “pluralidade e qualidade da informação”. “Por norma, e lamentavelmente, este tipo de fusões tem-se traduzido em cortes de pessoal e emagrecimento de redações”, referiu o sindicato.

1 de outubro de 2019. Dez dias depois do anúncio do acordo de compra e venda entre a Cofina e a Prisa, o grupo de Paulo Fernandes anunciava à CMVM a intenção de realizar um aumento de capital de 85 milhões de euros no âmbito da operação, para financiar em parte a compra da Media Capital.

6 de outubro de 2019. A AdC, depois da publicação dos elementos essenciais da operação de concentração, abriu um prazo de dez dias úteis para os eventuais interessados apresentarem comentários ou observações à eventual transmissão do controlo exclusivo do grupo Media Capital para a Cofina.

14 de outubro de 2019. O Fundo Novo Banco Portugal Ações, gerido pelo grupo Novo Banco, comprou ações da Cofina e desta forma passou a deter 2,15% da holding liderada por Paulo Fernandes.  Neste dia, a Cofina informou a CMVM sobre a participação qualificada da GNB – Sociedade Gestora de Fundos de Investimento Mobiliário.

14 de outubro de 2019. Neste dia, num artigo de opinião publicado no “Diário de Notícias”, o atual secretário de Estado do Cinema, Audiovisual e Media, Nuno Artur Silva, dias antes de assumir a pasta dos Media, escreveu que a compra da Media Capital pela Cofina é “muito mais importante do que o caso de Tancos” e que “pode vir a ser no futuro próximo a maior ameaça à democracia portuguesa”.

30 de outubro. A ERC deliberou não se opor à operação de aquisição da Media Capital pela Cofina. Ainda assim a deliberação não foi unânime. Mário Mesquita, membro do conselho regulador da ERC, votou contra o ‘ok’ dado à operação Cofina-Media Capital.

“Votei contra a deliberação do conselho regulador da ERC de não se opor à operação de concentração que se traduz na aquisição pela Cofina do grupo Media Capital SGPS. Em meu entender, a operação da Cofina comporta um sério risco de diminuir o pluralismo jornalístico e a diversidade de opiniões nos media em Portugal”, explicou Mário Mesquita, na sua declaração de voto, disponibilizada no site do regulador.

6 de novembro de 2019. A Autoridade Nacional de Comunicações (Anacom) aprovou, neste dia, a operação de concentração, dizendo que não suscitava “questões concorrenciais”.

7 de novembro de 2019. Neste dia a Cofina revelou ter alcançado um lucro líquido de 1,24 milhões de euros, no terceiro trimestre, o que correspondeu a um crescimento de 18,3% em termos homólogos. Aquando da divulgação dos resultados trimestrais entre julho e setembro, a Cofina reiterou a confiança no negócio da Media Capital e salientou que estimava obter sinergias de 46 milhões com a compra da dona da TVI.

1 de dezembro de 2019. Neste dia, o Jornal Económico noticiou que o negócio Cofina-Media Capital, avaliado em 255 milhões de euros, estava a ser assessorado por dois escritórios de advogados ibéricos. A Uría Menéndez – Proença de Carvalho (UM-PC) está a assessorava a OPA da Cofina sobre as ações da Media Capital, ao passo que a Gómez-Acebo & Pombo (GA&P) apoiava a Prisa/Media Capital.

20 de dezembro de 2019. Neste dia, a agência Lusa noticiou que no projeto de decisão de não oposição da AdC sobre a compra da Media Capital pela Cofina, constam observações das telecom Meo, NOS, Vodafone Portugal e dos grupos de media Impresa e Global Media sobre os efeitos concorrenciais que o negócio provocará.

23 de dezembro de 2019. A dona da TVI informou a CMVM que uma “auditoria voluntária” às contas da Media Capital, nos primeiros nove meses de 2019,  encontrou algumas “incorreções”. Assim, a Media Capital comunicou que o resultado líquido da Media Capital até junho estava “sobreavaliado em aproximadamente 3,2 milhões de euros”.

“Tendo em consideração a auditoria voluntária realizada às demonstrações financeiras consolidadas da sociedade a 30 de junho de 2019, por parte do auditor da sociedade foram identificadas incorreções relativas a, entre outros, erros de corte de operações àquela data, relacionadas com prestações de serviços e gastos operacionais, estando o resultado líquido consolidado a 30 de junho sobreavaliado em aproximadamente 3,2 milhões de euros”, informou a Media Capital.

23 de dezembro de 2019. Reveladas as incorreções nas contas da Media Capital, a Cofina e a Prisa chegaram a acordo para uma redução do preço de compra em 50 milhões de euros. Assim, o negócio de compra da dona da TVI pela Cofina deixou de estar avaliado em 255 milhões de euros, passando para 205 milhões de euros. Ou seja, o preço de aquisição foi revisto em baixa para 123,29 milhões de euros, ao qual se soma a dívida de 74,8 milhões de euros.

30 de dezembro de 2019. A Autoridade da Concorrência (AdC) anunciou oficialmente ter dado luz verde à venda da Media Capital à Cofina, considerando que o negócio “não é suscetível de criar entraves significativos à concorrência em qualquer um dos mercados relevantes considerados”. A decisão da AdC foi conjecida depois de ter sido avançado em 12 de dezembro que o regulador já tinha emitido um projeto de decisão favorável ao negócio. A AdC tinha sido notificada da compra da Media Capital pela Cofina no dia 3 de outubro.

3 de janeiro de 2020. Enquanto o negócio Cofina/Media Capital avançava, a SIC, concorrente da TVI, lançava mais uma investida sobre a estação de Queluz de Baixo. Um ano depois de Cristina Ferreira, a SIC contratou Ricardo Araújo Pereira. Além do humorista, a estação liderada por Francisco Pedro Balsemão foi à TVI recrutar Pedro Mexia, João Miguel Tavares e Carlos Vaz Marques, levando o “Governo Sombra, então um dos programas de maior destaque da TVI 24, para Paço d’Arcos.

29 de janeiro de 2020. Pouco mais de três meses após o anúncio oficial do acordo de compra e venda entre a Cofina e a Prisa pela Media Capital, os acionistas da Cofina e da Prisa aprovaram, nas respetivas assembleias gerais, o negócio. Da parte da Cofina, neste dia, também os acionistas da dona da CMTV aprovaram o aumento de capital de 85 milhões de euros no âmbito da aquisição da Media Capital à Prisa.

6 de fevereiro de 2020. Uma auditoria à oferta pública de aquisição da Cofina à Media Capital avaliou as ações da dona da TVI em 1,90 euros, sendo que a Cofina aceitou 2,33 euros por cada título.

No relatório, então divulgado pela CMVM, o auditor esclareceu que “considerando o trabalho desenvolvido pelos diferentes métodos e as limitações identificadas, nomeadamente ao nível do método dos múltiplos de transação (face à impossibilidade de aplicação de alguns dos rácios pretendidos)”, apurou-se que “o valor médio da ação da Média Capital, para 100% do capital, corresponde a 1,90 euros, que resulta da ponderação equitativa das duas abordagens (múltiplos de cotação e de transação)”.

7 de fevereiro de 2020. Neste dia o Jornal Económico noticiou que todo o processo de aquisição da Media Capital pela Cofina estava encaminhado. Mas enquanto os acionistas de ambos os grupos esperavam pela concretização do negócio até março, nas redações dos vários títulos detidos pela Cofina e Media Capital, respetivamente, o futuro das direções administrativas e editoriais era um enigma que tem suscitado dúvidas e rumores.  Ao que o Jornal Económico tinha então apurado, junto de fontes próximas do processo, o objetivo inicial da Cofina passava por muito pouco ou nada mudar na Media Capital, mantendo direções e linhas editoriais nos primeiros dois ou três anos. Segundo fontes, Nuno Santos, hoje diretor-geral da TVI, que entrou na TVI em janeiro de 2020, fora já uma contratação com o crivo da Cofina.

10 de fevereiro de 2020. Cláudio Ramos, que fazia dupla com Cristina Ferreira, no então programa das manhãs da SIC “Casa da Cristina”, é contratado pela TVI. num momento em que a Cofina fechava a compra da Media Capital e depois de Nuno Santos – uma contratação da Media Capital alinhavada com a Cofina – ter assumido a direção de programas da estação de Queluz de Baixo.

17 de fevereiro de 2020. Neste dia, a CMVM aprovou o prospeto da oferta pública de subscrição (OPS), submetido pela Cofina depois da assembleia geral extraordinária de acionistas de 29 de janeiro, criando condições para um aumento de capital em 85 milhões de euros para a dona do Correio da Manhã e CMTV. O aumento de capital serviria para financiar a compra da Media Capital. A OPS previa a emissão de 188.888.889 novas ações da Cofina, tendo o preço de subscrição sido fixado em 0,45 euros.

Dos 85 milhões de euros, perto de 60 milhões de euros seriam assegurados pela estrutura acionista da Cofina (Promendo Investimentos; Caderno Azul; Actium Capital; Livrefluxo e Valor Autentico) e pela sociedade Pluris Investments do empresário Mário Ferreira.

Para entrar no sindicato de investidores, Mário Ferreira teve de investir quase dois milhões de euros na aquisição de mais de 18 milhões de títulos da Cofina. Segundo o comunicado pela CMVM, o dono da Douro Azul comprometeu-se com a Cofina a “investir um total máximo de 20 milhões de euros na subscrição de novas ações”, decorrentes do aumento de capital, “contanto que as ações a serem subscritas representem um mínimo de 15,25% do capital social e dos direitos de voto do emitente”. Assim, Mário Ferreira tornar-se-ia no segundo maior acionista da Media Capital.

No prospeto do aumento de capital, a Cofina previa também que o Abanca passaria a deter 7,6% do capital da dona da TVI, concluído aumento de capital.

21 de fevereiro de 2020. Depois de ter decidido não se opor à aquisição da Media Capital pela Cofina, a ERC autorizou “a alteração do controlo dos meios detidos pela Prisa, através da Vertix (veículo do grupo espanhol que detém 94,69% do Grupo Media Capital), para a Cofina”, segundo o comunicado então à CMVM.

25 de fevereiro de 2020. Arranca exercício dos direitos de subscrição de novas ações da Cofina. O período de exercício dos direitos de subscrição de novas ações da Cofina, no âmbito do aumento de capital do grupo para a compra da Media Capital, arrancou pelas 8h30 deste dia e terminou pelas 15h00 de 10 de março.

26 de fevereiro de 2020. Um dia depois de ter arrancado o aumento de capital, a dona da TVI divulgou as contas anuais de 2019. A Media Capital registou um resultado líquido acumulado negativo de 54,7 milhões de euros, uma quebra significativa face ao lucro de 21,6 milhões de euros verificado em 2018. De acordo com as contas reportadas à CMVM, a quebra deveu-se, “na maior parte, do reconhecimento de imparidades de goodwill, bem como do desempenho operacional” do grupo.

10 de março de 2020. Fechado o período da oferta pública de subscrição de novas ações da Cofina, a dona da CMTV anunciou o insucesso do aumento de capital em 85 milhões em bolsa e, consequentemente, a compra da dona da TVI ficou sem efeito. Faltaram 2,86 milhões de euros para a concretização do aumento de capital.

11 de março de 2020. Um dia depois da desistência da aquisição da Media Capital pela Cofina, a Prisa anunciou pretendia acionar medidas contra a Cofina por violação do contrato de compra e venda da dona da TVI ao desistir do aumento de capital previsto “sem aviso prévio”.

Já o empresário Mário Ferreira mostrou-se “surpreendido” com insucesso da operação e garantiu ter entrado com todo o capital pedido, sinalizando que estava disponível para cobrir o que faltava para a Cofina seguir com a aquisição da dona da TVI. Apesar do fracasso da OPS, Mário Ferreira ficou com 2,072% da Cofina.

O Abanca, por sua vez, decidiu manter-se em silêncio sobre o insucesso do aumento de capital da Cofina, tendo em vista a compra da dona da TVI. O banco espanhol preparava-se para acompanhar o aumento de capital da Cofina de 85 milhões de euros – que acabou cancelado – para ficar com 10% da Cofina.

O Abanca, que é acionista da Media Capital, com uma participação de 5,05%, tinha previsto vender esta posição na OPA lançada pela Cofina. Depois, o dinheiro arrecadado seria usado para o banco galego comprar uma posição de 7,60% da Cofina, no âmbito do aumento de capital da empresa liderada por Paulo Fernandes.

13 de março de 2020. Devido ao insucesso do aumento de capital, a Cofina perdeu a caução de dez milhões de euros que já havia avançado no negócio. Mas, neste dia, a empresa de Paulo Fernandes disse à CMVM que não devia à Prisa o valor da caução da operação, revelando que a compra da Media Capital “não caducou por insucesso do aumento de capital da Cofina”. Desta forma, Paulo Fernandes sinalizou que continuava interessado na compra da dona da TVI.

13 de março de 2020. Neste dia, a Cofina divulgou que obteve um resultado líquido anual de 7,2 milhões de euros em 2019, valor que se traduz num crescimento de 15,3% (excluindo operações descontinuadas) quando comparado com o ano de 2018.

16 de março de 2020. Prisa reitera avançar com todas as ações contra a Cofina e rejeita abrir porta a novas negociações com a Cofina pela Media Capital.

“A companhia reitera (i) o seu entendimento de que a Cofina violou o contrato de compra e venda datado de 20 de setembro e alterado em 23 de dezembro de 2019 referente à venda de toda a participação detida pela Prisa na sua subsidiária Vertix SGPS, S.A., que por sua vez detém 94,69% da empresa portuguesa cotada Grupo Media Capital SGPS, S.A, tendo em vista os termos comunicados pela própria Cofina em 10 de março de 2020 após sua renúncia voluntária a continuar com o aumento de capital aprovado por seus acionistas em 29 de janeiro de 2020; e (ii) que a companhia começou e vai continuar a procurar todas as medidas e ações contra a Cofina em defesa dos seus interesses, dos de seus acionistas e quaisquer outros afetados pela situação criada pela Cofina”, comunicou a Prisa, via Media Capital, à CMVM.

O grupo de media espanhol anunciou, ainda, rejeitar a argumentação apresentada pela Cofina sobre a resolução do contrato de compra e venda da Media Capital, no dia 13 de março, e indicou que “não é apropriado, como a Cofina parece pretender”, alterar o os termos do contrato para “restabelecer o equilíbrio dos respetivos benefícios recíprocos, de acordo com os princípios de boa fé”. Para a Prisa “houve uma violação prévia do referido acordo” por parte da Cofina.

17 de março de 2020. Um dia depois de a Prisa ter rejeitado voltar a negociar com a Cofina, o Jornal Económico apurou que o grupo dono da TVI designou três reconhecidos escritórios de advogados – Pérez Llorca, Vieira de Almeida e Gomez de Acebo – para defender os interesses do grupo espanhol e dos seus acionistas, tanto em Portugal como em Espanha, nas iniciativas judiciais e administrativas que se prepara para intentar contra a Cofina de Paulo Fernandes, depois de a operação de aquisição da Media Capital ter ficado sem efeito.

20 de março de 2020. Após a troca de argumentos com a Prisa, a Cofina indicou que a aquisição da Media Capital ficou sem efeito e justificou a resolução do contrato de compra e venda com a “inesperada e muito significativa degradação da situação financeira e perspetivas da Vertix e Media Capital”.

A empresa de Paulo Fernandes anunciou à CMVM que “na sequência da comunicação de 13 de março relativa à operação de aquisição da participação detida pela Promotora de Informaciones (Prisa) no Grupo Media Capital SGPS, a Cofina SGPS, informa que, na falta de qualquer acordo relativo à modificação do contrato de compra e venda de ações representativas de 100% do capital social e dos direitos de voto da Vertix SGPS, celebrado no dia 20 de setembro de 2019, tal como alterado de forma a restabelecer um equilíbrio das prestações recíprocas conforme com os princípios da boa-fé, a notificação de resolução do contrato produziu os seus efeitos”.

A Cofina acusou, ainda, a Prisa de ter incorrido “em violações contratuais graves e, por último, manifestou expressamente a intenção de não cumprir o contrato, o que afetou irremediavelmente a relação de confiança entre as partes”.

20 de março de 2020. Prisa confirma fim da operação de venda da Media Capital à Cofina. No mesmo dia, a Prisa confirmou a rescisão do contrato de venda e compra com a Cofina, que tinha como objetivo vender a Media Capital, dona da TVI, à empresa dona do Correio da Manhã e CMTV. Devido ao insucesso do aumento de capital da Cofina, a Prisa reiterou que entende que a Cofina violou “voluntariamente” a sua obrigação contratual, estabelecida no referido contrato de venda e compra.

24 de março de 2020. A Cofina pediu à CMVM para considerar “extinto o procedimento” da OPA ao grupo Média Capital, que detém a TVI. O requerimento enviado ao regulador pela dona do “Correio da Manhã” deve-se à “impossibilidade definitiva de verificação de um dos requisitos de que dependia o respetivo lançamento, e, subsidariamente, a revogação de tal oferta, por alteração das circunstâncias”, lia-se na nota enviada ao regulador do mercado.

16 de abril de 2020. A Prisa, dona da Media Capital, iniciou um processo arbitral contra a Cofina, por esta não ter libertado os dez milhões de euros relativos à caução do negócio da venda e compra da dona da TVI.

24 de abril de 2020. O empresário Mário Ferreira, que integrava o sindicato de investidores da Cofina para realizar o aumento de capital em 85 milhões, assegurou negociações exclusivas, até 15 de maio, com a Prisa para comprar 30,22% da Media Capital.

A proposta de Mário Ferreira por parte da Media Capital surgiu dois dias depois de o grupo Bel, acionista do Jornal Económico, ter manifestado à Prisa interesse na compra da dona da TVI.

15 de maio de 2020. Mário Ferreira fechou acordo com a Prisa e comprou 30,22% da dona da TVI por 10,5 milhões de euros. O dono da Douro Azul tornou-se, desta forma, o segundo maior acionista da Media Capital, continuando a Prisa como acionista maioritário com 64,47%.

16 de maio de 2020. A CMVM comunicou neste dia que não vai cancelaria a OPA da Cofina à Media Capital, tal como tinha sido requerido pela dona da TVI no dia 24 de março. Em comunicado, o regulador do mercado referiu que a Cofina deve “esclarecer os aspetos suscitados” e que fundamentem, “nomeadamente em virtude da conclusão preliminar de que a conduta da Cofina contribuiu decisivamente para a não colocação de um número residual de ações no âmbito do referido aumento de capital”.

Isto é, a CMVM não cancelou a OPA inscrita pela dona da CMTV à dona da TVI e pediu, ainda, à Cofina que justifique melhor o requerimento de cancelamento da OPA. A Cofina tinha justificado o seu pedido alegando “alterações de circunstâncias”. A CMVM deu dez dias para apresentação de provas das alterações das circunstâncias face ao início da OPA. O Jornal Económico sabe que a Cofina já apresentou novos argumentos e que está a aguardar resposta do regulador do mercado.

10 de julho de 2020. A Media Capital anunciou que o jornalista Sérgio Figueiredo deixou de ser diretor de informação da TVI.

16 de julho de 2020. A Média Capital anunciou que Luís Cabral deixou de ser o presidente executivo da dona da TVI, sendo substituído por Manuel Alves Monteiro. O sucessor de Luís Cabral foi presidente da Bolsa de Valores de Lisboa e é, atualmente, vogal na Mystic Investments, uma das empresas controladas pelo empresário Mário Ferreira.

Também neste dia, a dona da TVI comunicou que Nuno Santos foi promovido a diretor-geral da TVI. Nuno Santos passa a ter a tutela sobre todos os conteúdos da TVI, incluindo a informação. O novo diretor-geral entrou na Media Capital, em janeiro, para assumir o cargo de diretor de programas da TVI.

17 de julho de 2020. Depois de ter sido comunicada a saída de Sérgio Figueiredo, a promoção de Nuno Santos a diretor-geral da TVI e a nomeação de Alves Monteiro para CEO da Media Capital, a ERC anunciou que está a avaliar as mudanças que têm sido promovidas pela Media Capital na estrutura da TVI. A ERC quer perceber quem está por trás do que considera tratar-se de “mudanças relevantes na estrutura da TVI”.

17 de julho de 2020. Dois anos depois de ter trocado a TVI pela SIC, Cristina Ferreira voltou à casa de partida. A escolha de Cristina Ferreira caiu como uma bomba na SIC, que lamentou decisão “abrupta e surpreendente”. Mas para a TVI o regresso de Cristina Ferreira pode significar mais mudanças na TVI, o emblemático rosto dos programas da manhã voltou a Queluz de Baixo como diretor de Entretenimento e Ficção, tendo já manifestado intenção de comprar uma participação acionista na Media Capital.

22 de julho de 2020. De acordo com uma notícia da Lusa, a Cofina continua interessada na compra da maioria do capital da Media Capital.

24 de julho de 2020. A Media Capital anunciou uma nova equipa para a direção de informação da TVI. O jornalista Anselmo Crespo foi contratado para assumir funções de diretor de informação e a jornalista Lurdes Baeta – já nos quadros da TVI – foi promovida a diretora-adjunta. Entre os quadros da estação, Joaquim Sousa Martins foi promovido a subdiretor, enquanto a TVI foi ao Observador e à SIC contratar Pedro Benevides e Pedro Mourinho, respetivamente, também para assumirem cargos de subdiretores. A nova equipa inicia funções no dia 1 de setembro.

27 de julho de 2020. Mário Ferreira anunciou que pretende deixar de ser acionista da Cofina. Em comunicado à CMVM, o grupo de Paulo Fernandes informou que recebeu uma notificação da Pluris Investments, empresa de Mário Ferreira, a dar conta que deixou de deter uma participação qualificada no capital social da Cofina.

A Pluris Investments, detida em 94,99% por Mário Ferreira e em 4,99% por Paula Dias Ferreira, era detentora de uma participação de 2,07% da Cofina. Agora, essa percentagem foi reduzida para menos de 2%.

É também através da Pluris Investments que Mário Ferreira detém pouco mais de 30% do capital da Media Capital.

3 de agosto de 2020. A Media Capital anunciou a contratação do jornalista João Fernando Ramos. O jornalista que ainda apresenta e coordena do Jornal 2 da RTP2 vai ser “o responsável executivo” pela operação e expansão da estação de Queluz de Baixo na região norte de Portugal, trabalhando em articulação direta com o diretor-geral da TVI, Nuno Santos, com “responsabilidades transversais, com o foco nas áreas de conteúdos”. O jornalista inicia o novo desafio no dia 1 de setembro.

12 de agosto de 2020. A CMVM reviu as condições da oferta lançada em setembro de 2019 e decidiu autorizar a Cofina a lançar uma OPA sobre 100% do capital da Media Capital. O novo preço de 0,415 euros por ação, representa uma revisão em baixa de 82% face aos 2,336 euros oferecidos na primeira versão da OPA, antes da pandemia. Oferta avalia TVI em 35 milhões de euros.

CMVM autoriza Cofina a rever OPA sobre Media Capital, com novo preço de 0,415 euros por ação

 

 

 

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