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Votação JE: Marcelo Rebelo de Sousa é a personalidade do ano

Orçamento, défice, incêndios ou Costa. O ano de 2017 foi “contraditório” para o presidente Marcelo Rebelo de Sousa, eleito a figura do ano pelos leitores do Jornal Económico.
  • Cristina Bernardo
29 Dezembro 2017, 07h35

“Ficou claro que, num ano de sucesso, havia fragilidades estruturais que vieram ao de cima, umas mais antigas, outras mais recentes, em matérias como a florestação, o ordenamento florestal, o combate em termos de segurança”.
Para o presidente o percurso deu resultados positivos mas o trabalho não pode parar. Se Portugal vivia “uma hora de alegria”, depois da saída da divida pública da classificação de “lixo”, logo avisou que é “preciso continuar o esforço”. Em relação à eleição de Mário Centeno, considerou-a “um sinal importante e positivo”, mas reiterou de imediato que traz mais responsabilidades para Portugal.

Deixou vários avisos para o futuro quando promolgou a lei do Orçamento do Estado para 2018, espera que o próximo ano seja “descontaminado” do clima eleitoral e que “nada está definitivamente ganho” – à excepção das palavras que felicitaram o futebolista português Cristiano Ronaldo pela conquista da sua quinta Bola de Ouro.
Marcelo pediu condições para os jovens serem o futuro, deu o exemplo de Portugal na área dos Direitos Humanos e até apelou à paz na Autoeuropa. Elogiou o primeiro-ministro, António Costa (sem nunca esquecer os problemas e as tragédias), deixou-lhe alguns recados e criticou-lhe o excessivo otimismo.

Perante as tragédias que se abateram em Portugal neste ano de 2017 o chefe de Estado sublinhou o dever cívico de  memória. À saída da missa de Natal, em Pedrógão Grande, pediu aos portugueses para que visitem os territórios afetados durante o próximo ano, contribuindo assim para a reconstrução. O Presidente plantou igualmente um sobreiro durante a inauguração da nova sede da Associação de Vítimas do Incêndio de Pedrógão, em Figueira.
“Penso que o que é preciso, no futuro próximo, na próxima primavera, no próximo verão, é as pessoas virem, estarem cá. Contribuírem para esta mudança em curso, este reconstruir o futuro, é muito importante”. Uma outra nota, divulgada na página oficial da Presidência da República, evoca o “acontecimento de proporções dramáticas” que ocorreu há 50 anos (cheias de 1967), quando a “região de Lisboa sofreu a maior catástrofe natural de que há memória desde o grande terramoto de 1755”.

Num tom mais descontraído, o presidente foi igual a si próprio: aproveitou para fazer a barba, com espuma e navalha na berbearia do senhor Júlio Cunha (Intendente); ajudou num centro social, passou a noite na rua com os sem-abrigo e vacinou-se contra a gripe, pedindo a todos os portugueses que seguissem o seu exemplo.

O acontecimento de 2017

Em seis meses, o incêndio de Pedrógão Grande (que se estendeu por nove concelhos da região centro do país) quase nunca saiu das notícias. Os números impressionam: 64 vítimas mortais (divulgado pela PGR), 491 casas ficaram total ou parcialmente destruídas, 43.201 hectares de floresta (43 mil campos de futebol ou 4,3 vezes a cidade de Lisboa) arderam e centenas de postos de trabalho em risco.

A NASA, agência espacial norte-americana, publicou uma fotografia de satélite dos fogos que atingiram a zona centro do país, a exemplo dos outros grandes incêndios de 2003 e 2005. Na imagem, vê-se a região centro do país, os distritos de Coimbra, Leiria, Castelo Branco, assinalando-se a vermelho as áreas em chamas, e mostram-se também algumas partes de Espanha, onde é visível o fumo dos incêndios. A fotografia está no “site” da NASA com o título “Incêndios de grandes proporções fazem mortos em Portugal”.

O alerta precoce poderia ter evitado maioria das mortes em Pedrógão Grande. Foram estas as conclusões do relatório da comissão técnica independente designada para analisar os fogos de junho na região Centro. Por agora já foram constituídos vários arguidos no fogo mais mortal da história portuguesa. A presidente da Associação das Vítimas do Incêndio de Pedrógão Grande acredita que “muitos mais” arguidos vão ser constituídos no âmbito do processo. Para a ex-ministra da Administração Interna, Constança Urbano de Sousa, que se demitiu do cargo em outubro, este incêndio foi o “momento mais difícil” da sua vida.

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