[weglot_switcher]

Greenvolt: preços no Reino Unido e instabilidade política em Espanha com impacto negativo nas contas

Lucros da Greenvolt afundaram 93% em 2023. EBITDA das grandes centrais disparou 400%, mas preços britânicos da biomassa complicaram contas da energética.
27 Março 2024, 07h30

Os resultados da Greenvolt em 2023 sofreram com a queda dos preços da biomassa em terras de Sua Majestade e também com a instabilidade política em Espanha que levou clientes a adiarem as suas decisões de investimento no segmento da geração distribuída. Os lucros afundaram 93% para 1,2 milhões de euros face a período homólogo.

Em 2023, o EBITDA atingiu 103,1 milhões de euros, 3% acima do registado em período homólogo, com a energética a destacar o “crescimento substancial no segmento Utility-Scale, principalmente devido às vendas de ativos na Polónia e ao reconhecimento das margens subjacente, ajudou a contrariar o impacto da diminuição dos preços da eletricidade no Reino Unido entre 2022 e 2023, que afetou o EBITDA do segmento de Biomassa. Além disso, o EBITDA do segmento de Utility-Scale também compensou os custos de expansão e os esforços para consolidar a plataforma no segmento de Geração Distribuída”.

A quebra no resultado deveu-se ao segmento biomassa e estrutura cujo EBITDA recuou 39% para 57 milhões de euros impactados negativamente pela queda de preços no Reino Unido. Note-se que no segmento de biomassa, as receitas recuaram 14% para mais de 168 milhões de euros.

“Os resultados do segmento de biomassa sustentável continuaram a ser impactados principalmente pelo nível de preços no Reino Unido, que foram, em média, 53% mais baixos em 2023 (95,3£/MWh), em comparação com 2022 (204,3£/MWh)”, segundo comunicado da energética divulgado na terça-feira.

Já o segmento das grandes centrais de energias renováveis (utility scale) viu o EBITDA disparar mais de 400% para mais de 51 milhões de euros, com a ajuda da venda dos ativos na Polónia. No ano passado, vendeu um total de 200 MW de ativos. Relativamente a este segmento de grandes centrais, as receitas disparam 515% para mais de 152 milhões.

“Estes resultados foram principalmente impulsionados pelas vendas de energia e green certificates dos ativos em operação, que continuam a ser uma base sólida para a estabilidade dos resultados do segmento, e pela contribuição da venda de ativos desenvolvidos e construídos durante o ano”, de acordo com a companhia que também destaca as compras das empresas Augusta Energy e subsidiárias e da Actualize.

Por seu turno, no segmento de geração distribuída o EBITDA recuou 150% para um défice de seis milhões, com o total de rendimentos operacionais a subir 135% para 71 milhões de euros, “impulsionado principalmente por atividades mais estabelecidas em Portugal, Itália e Irlanda, que estão a registar montantes cada vez mais significativos de receitas e EBITDA positivo”.

Por sua vez, o EBITDA negativo foi justificado com a “a fase de arranque desta atividade, bem como o enfoque na consolidação da infraestrutura. Esta atividade já apresenta um nível de EBITDA positivo em Itália, na Irlanda e em algumas empresas em Portugal, onde o negócio está mais desenvolvido. No entanto, em Espanha, verificou-se que muitos clientes adiaram as suas decisões devido à incerteza política e, no que diz respeito aos restantes mercados, cumpre salientar que a atividade ainda se encontra numa fase de arranque”. Já o número total de instalações de autoconsumo da empresa subiu 200% para mais de 91 MWp.

Os rendimentos operacionais subiram mais de 143% para 385 milhões de euros, com os gastos operacionais a subirem mais de 98% para um défice de 282 milhões.

A dívida financeira líquida da Greenvolt atingia mais de 691 milhões de euros no final de 2023. O rácio de dívida face ao EBITDA é de 6,2 vezes.

A empresa justifica a subida da dívida com os ” projetos de expansão, como a aquisição da Enerpower, despesas de capex nos projetos relacionados com a venda à Energa e em projetos em construção, nomeadamente na Hungria, Espanha, Portugal e Polónia”.

A companhia garante dispor de “linhas aprovadas para garantias bancárias e cauções num total de 513,9 milhões de Euros, dos quais 141,5 milhões de Euros foram utilizados, restando 372,4 milhões de Euros disponíveis em linhas não utilizadas”.

Em 2023, a empresa emitiu obrigações verdes no valor de 100 milhões de euros destinado a investidores de retalho com uma taxa de cupão de 4,65%. O custo médio da dívida é de 4,3%, com 60% a ser de taxa fixa.

A Greenvolt garante ter uma “a sólida posição de liquidez medida em caixa e linhas de crédito não utilizadas de 584,0 milhões de Euros (pro-forma de 623,2 milhões de Euros13), alimentando uma execução mais rápida dos projetos já em curso, desde o RtB ao COD”.

O pipeline de grandes centrais atinge atualmente mais de 8,4 gigawatts em 17 países, tendo a companhia já desenvolvido 2,7 gigawatts, pelo menos, até à fase ready to build, com cerca de 1,4 gigawatts a dizerem respeito a projetos de soluções de armazenamento de eletricidade na Polónia.

No ano passado, o “setor das energias renováveis foi temporariamente afetado pela subida das taxas de juro, um impacto que a Greenvolt atenuou com a sua política de cobertura de taxas e com a sua concentração em países onde os preços da eletricidade a longo prazo são muito mais elevados do que eram antes de 2022. Este aumento dos preços da eletricidade a longo prazo compensam, ou em alguns casos mais do que compensam, o efeito negativo das taxas de juro”.

Sobre a OPA lançada pelos norte-americanos da KKR, ” a Greenvolt, a KKR e os seus acionistas aguardam a aprovação regulamentar da operação”.

“A empresa vê a oferta como uma validação da sua estratégia e posição únicas na cadeia de valor das energias renováveis, refletindo também o reconhecimento do mercado”, argumenta.

Em termos de outlook, a Greenvolt “mantém-se firme e otimista em relação às suas operações futuras, nomeadamente a sua estratégia de rotação de ativos de Utility-Scale e o crescimento previsto do segmento de produção distribuída, ambos impulsionados por investimentos significativos realizados nos últimos dois anos, mantendo sempre uma gestão financeira responsável e prudente”.

RELACIONADO
Copyright © Jornal Económico. Todos os direitos reservados.