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Quando o salário não chega. Russos cada vez mais adeptos de investimentos na Bolsa

Na Rússia há cada vez mais trabalhadores a jogar no mercado mobiliário, na tentativa de financiar o final do mês, quando o salário já acabou. A Bolsa de Valores de Moscovo registou 250 mil novas contas no ano passado.
  • José Manuel Ribeiro/Reuters
27 Abril 2018, 16h50

Como em várias outras geografias – Portugal dos anos 80 e 90 incluído – há na Rússia cada vez mais trabalhadores a jogar na Bolsa, na tentativa de arranjarem financiamento para os dias do mês a que o dinheiro dos salários já não chega.

A agência de notícias financeiras Bloomberg conta a história de Natalia Orlova, que trabalha numa fábrica nos arredores de Moscovo durante o dia e se torna uma trader durante o tempo livre. Orlova ganha um salário de apenas 360 ​​euros por mês, pelo que decidiu começar a negociar em produtos petrolíferos, tendo conseguido acumular uma pequena fortuna com a valorização do petróleo bruto no ano passado.

Como dezenas de milhares de russos, Orlova garante que a negociação diária é a chave para a sobrevivência económica na Rússia, uma economia punida nos últimos anos por sanções impostas pelo Ocidente, marcada a desigualdade inerente ao modelo atual da economia russa e pelas oscilações dos preços das commodities. No entanto, é precisamente com as commodities que os russos estão a aproveitar para ganharem dinheiro extra.

“Os mercados financeiros são o lugar onde se pode realmente mudar de vida e sair da pobreza. Agora, estou a ganhar 1,5 milhões de rublos (cerca de 19.900 euros)”, explica Orlova à Bloomberg.

Orlova diz que os seus investimentos são o complemento necessário para ajudar a filha e os netos: “preciso de deixar algo para eles, porque não sei se podem sobreviver no futuro sem mim”, explica a mulher, de 54 anos.

Cada vez mais dos russos têm problemas para chegarem com dinheiro ao final do mês e têm que procurar alternativas para obterem uma renda extra. Muitos optam pela forma tradicional de encontrar um segundo emprego complementar, mas um número crescente está a usar os mercados (agora com comissões muito baixas) para obterem esse  extra.

No entanto, este tipo de transação é geralmente de alto risco, saliente a Bloomberg, pelo que a própria Bolsa de Valores de Moscovo está a oferecer cursos e a organizar competições entre os traders. Com esse tipo de treino, o mercado tenta evitar que os investidores sofram grandes perdas.

Mesmo assim, há alguns casos trágicos, especialmente agora que os movimentos geopolíticos estão a envolver e a expor mais a Rússia a oscilações impossíveis de antecipar. Alexander Semenyakov, um programador de computador que investe no mercado de ações, já perdeu muito dinheiro com as últimas sanções contra a Rússia. Semenyakov perdeu metade de todos os lucros realizados em 2017 devido à queda drástica da Bolsa de Valores de Moscovo após as sanções e a desvalorização do rublo.

Embora a tendência esteja a crescer, esses investidores por necessidade usam somas relativamente pequenas de dinheiro, de modo que as suas decisões não têm peso nos mercados russos.

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