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Reino Unido: entre a cartilha liberal e o radicalismo marxista

O líder conservador apresentou o seu programa, depois de os trabalhistas o terem feito na semana passada. Duas propostas que estão quase nos antípodas uma da outra. A grande questão é até onde pode ir a maioria dos conservadores.
  • DR Daniel Leal-Olivas/ REUTERS
25 Novembro 2019, 07h37

Depois de Jeremy Corbyn, líder trabalhista, ter apresentado o seu programa – que aposta nas privatizações e no aumento de impostos para os mais ricos e para as empresas, num surpreendente regresso à cartilha marxista mais radical – foi a vez de Boris Johnson, líder dos conservadores, apresentar o seu.

Desta vez sem surpresas, o ainda primeiro-ministro recorreu a outra cartilha, a liberal, para dizer ao que vem. A ideia central é simples: Johnson quer, finalmente, o fim da austeridade. Apresentado nas Midlands – o antigo coração industrial e mineiro da Inglaterra, empobrecido e fortemente pró-Brexit – o texto é o programa oficial do próximo governo, a que Johnson presidirá se for confirmado como primeiro-ministro, de preferência com maioria absoluta.

Menos volumoso que o programa das eleições gerais de 2017, o texto promete novos recursos para o sistema público de saúde (o NHS) e a preservação do poder de compra das classes média e baixa. De algum modo, dizem os analistas, o programa prova o quanto o partido está apostando no voto popular – incluindo o tradicionalmente trabalhista – para obter uma vitória.

“É uma agenda radical”, disse Johnson. O atual primeiro-ministro prometeu contratar 50 mil novas enfermeiras para o NHS, a primeira preocupação da Grã-Bretanha com o Brexit e o recrutamento de mais seis mil médicos de clínica geral. Em termos fiscais, Johnson promete manter tudo como está: nenhum aumento nos impostos sobre os rendimentos, nenhum aumento do IVA, mas também nenhum alívio da carga fiscal – é preciso pagar o Brexit.

O programa prevê ainda dois mil milhões de libras para o buraco da NHS e o aumento do salário mínimo por hora de 8,21 para 10,50 libras, medida que vai também de encontro às camadas menos favorecidas da população. Sendo mais do mesmo – pelo menos quando comparado com os programas conservadores dos tempos anteriores à austeridade, o programa parece ter sido bem recebido em termos gerais, o que parece ser um bom sinal. Principalmente depois do ‘vendaval’ que constituiu o programa eleitoral dos trabalhistas.

De acordo com o texto, a proposta do Brexit será novamente apresentada antes do Natal, para que seja votada pelos deputados e consumado no final de janeiro do próximo ano.

Pormenor também conhecido durante o fim-de-semana – e que pode importar para as eleições de 12 de dezembro próximo: o partido Liberal, claramente anti-Brexit (recorde-se que nem todos os trabalhistas o são) está a descer nas sondagens, o que os conservadores consideram ser um sinal que o Brexit é mesmo o que os britânicos continuam a querer.

Com a campanha a entrar na reta final, os próximos dias vão ser fundamentais para se perceber qual poderá ser a resposta a grande pergunta do momento: conseguirão ou não os conservadores a maioria absoluta?

Para os analistas, o pêndulo está a convergir para o lado dos conservadores: entre a cartilha liberal e a cartilha marxista radical, os britânicos não costumam perder muito tempo a pensar. Não é nada provável – apesar de os trabalhistas quererem ‘despejar’ enormes quantidades de dinheiro nas áreas sociais – que o Reino Unido queira enveredar por um governo que tem no aumento dos impostos uma das suas traves mestras.

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