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Respostas Rápidas: da derrota em Madrid à crise institucional, como vai ficar a marca Sporting?

Por que motivo surgiu esta crise? O plantel agiu bem? Há condições para Bruno de Carvalho continuar à frente do Sporting? Afinal, que rumo seguirá o clube de Alvalade? O Jornal Económico explica como se chegou a este ponto e o que pode acontecer à marca Sporting.
9 Abril 2018, 14h26

Sem que nada o fizesse prever, o Sporting Clube de Portugal está embrulhado num conflito interno, espoletado por uma crítica do presidente do clube, Bruno de Carvalho, que fez com que o plantel principal da equipa de futebol se distanciasse do líder máximo dos leões.

Mas afinal, por que motivo surgiu esta crise? O plantel e presidente agiram bem? Ainda há condições para Bruno de Carvalho continuar à frente do Sporting? Que rumo seguirá o clube de Alvalade? O Jornal Económico explica o que está a acontecer  em Alvalade e o que se pode seguir.

O que aconteceu?
Na quinta-feira, 5, o Sporting perdeu por 2-0 frente ao Altético de Madrid, no jogo da primeira mão a contar para os quartos de final da Liga Europa. O resultado diminuiu as hipóteses do clube de Alvalade seguir em frente na prova, mas, pela estatística do encontro, a exibição dos atletas comandados por Jorge Jesus pecou só pela ineficácia.

Contudo, Bruno de Carvalho, que não tinha seguido com a equipa para Madrid, Espanha, por recomendação médica, demonstrou o seu desagrado com o desempenho da equipa, num texto publicado no Facebook que criticava abertamente alguns jogadores, por “erros grosseiros”.

Num texto que sofreu várias atualizações, Bruno de Carvalho mostrou-se desagradado com a arbitragem, mas principalmente com a prestação, em alguns lances, dos jogadores Coates, Mathieu, Gélson Martins, Fábio Contrão, Bas Dost e Montero.

Como reagiu o plantel?
Mal. As primeiras reações foram dos adeptos, com a grande parte a demonstrar indignação com as palavras do presidente do clube no Facebook, embora tenha agradecido o apoio de quatro mil “sportinguistas” presentes no estádio Wanda Metropolitano.

Quanto ao plantel do Sporting, os jogadores divulgaram na sexta-feira, 6, um comunicado conjunto que condenava as críticas e a ausência de apoio do presidente do clube.

“Espelhamos neste texto o nosso desagrado, por virem a público as declarações do nosso presidente, após o jogo de ontem [quarta-feira], no qual obtivemos um resultado que não queríamos [derrota por 2-0]. A ausência de apoio, neste momento, daquele que deveria ser o nosso líder. Apontar o dedo para culpabilizar o desempenho dos atletas publicamente, quando a união de um grupo se rege pelo esforço conjunto, seja qual for a situação que estejamos a passar, todos os assuntos resolvem-se dentro do grupo”, lê-se numa mensagem divulgada nas redes sociais oficiais de vários jogadores ‘leoninos’.

O plantel assegurou ser “um grupo unido de um grande clube”, no qual “o respeito é uma das bases necessárias a essa união”.

O ‘Correio da Manhã’ chegou a noticiar que o plantel até se tinha recusado a treinar na academia dos leões, mas um posterior comunicado do clube desmentiu essa informação.

Como reagiu Bruno de Carvalho ao comunicado dos jogadores?
Anunciando a suspensão de todos os jogadores que o contestaram. Novamente através do Facebook, Bruno de Carvalho respondeu e apelidou todos os atletas do plantel verde e branco de “miúdos amuados” e “mimados”.

“Estou farto da atitude de miúdos mimados que não respeitam nada nem ninguém. Estas crianças julgam que vão longe, mas desta vez a minha paciência esgotou-se. O Sporting não vive na República das bananas. Todos os atletas que subscreveram o que em baixo descrevo estão imediatamente suspensos, tendo de enfrentar a disciplina do clube. Já estou farto de atitudes de miúdos mimados que não respeitam nada nem ninguém, como por exemplo os adeptos relativos aos quais já ouvi comentários do mais baixo possível” escreveu o presidente leonino.

Este comunicado apenas ficou visivel para alguns dos seguidores da página de Facebook do presidente do Sporting.

Ao todo terão sido suspensos 19 jogadores do plantel principal dos verde e brancos, incluindo os capitães Rui Patricio e William Carvalho. Os jogadores Fábio Coentrão, Sebastián Coates, Cristiano Piccini, João Palhinha, Bruno César, Gelson Martins, Rafael Leão, Seydou Doumbia, Rodrigo Battaglia, Marcos Acuña, Rúben Ribeiro, Bruno Fernandes, Bryan Ruiz, Wendel e Fredy Montero, foram os restantes a contestar publicamente as palavras do presidente leonino.

O jornal desportivo ‘A Bola’ chegou a noticiar que Fábio Coentrão, jogador cedido por empréstimo pelo Real Madrid e apontado como um dos líderes da “revolta”, teria sido “devolvido” ao clube espanhol. Até agora nada foi confirmado.

O que fizeram os jogadores em resposta a Bruno de Carvalho?
O médio Rúben Ribeiro e o avançado costa-marfinenese Seydou Doumbia apagaram o comunicado do plantel e, por isso, terão sido poupados à suspensão.

No sábado, 7, na véspera do jogo com o Paços de Ferreira, a contar para a 29.ª jornada da Liga NOS, o presidente Bruno de Carvalho reuniu-se com o plantel, na presença do treinador Jorge Jesus, no estádio de Alvalade e, mais tarde, em Alcochete. Na reunião nenhuma das partes recuou nas posições assumidas, se bem que a suspensão dos jogadores foi posta de parte.  Em comunicado, o clube referiu que  o treinador Jorge Jesus está alinhado com o presidente Bruno de Carvalho.

No mesmo dia, em conferência de imprensa de antevisão ao jogo com os ‘castores’, coube a Jorge Jesus ‘meter água na fervura’.

“Tivemos uma reunião com presidente, treinador e jogadores. Tudo o que se passou fica no seio da equipa. O presidente deu-me liberdade para convocar os jogadores que eu queira. Vou fazer a convocatória de uma forma normal”, afirmou então Jorge Jesus. “Os jogadores não receberam qualquer nota de suspensão”, reforçou o técnico.

Isso significa que presidente e jogadores reconciliaram-se?
Não necessariamente. Ainda no sábado, nos espaços de opinião dos três canais informativos da SIC, TVI e RTP, circulou a ideia de que Bruno de Carvalho não teria avançado com a suspensão dos jogadores que o contestaram porque não havia unanimidade entre os elementos da direção do Sporting.

Bruno de Carvalho recuou na suspensão imediata, mas manteve a intenção de instaurar processos disciplinares a alguns jogadores. No domingo, antes do jogo entre ‘leões’ e ‘castores’, afirmou, no Facebook, que “serão mantidos os processos disciplinares” aos jogadores, que mancharam “o bom nome do presidente e do clube”. Uma decisão que só deverá ter consequências após uma reunião da direção do clube.

O jogo Sporting-Paços de Ferreira teve influuência na decisão de Bruno de Carvalho?
Aparentemente, sim. “Perante a situação grave que se viveu, com a atitude dos jogadores que acabou por manchar o bom nome do presidente e do clube, serão mantidos os processos disciplinares”, escreveu o líder dos ‘leões’, num extenso comunicado.

Bruno de Carvalho disse que “a suspensão imposta aos atletas”, que implicaria a sua ausência no jogo de hoje com o Paços de Ferreira, da 29.ª jornada da I Liga de futebol, não foi imposta porque “não teria efeito de castigo, mas apenas serviria para ser mais uma desculpa para que (os jogadores) não pudessem cumprir as suas funções e as obrigações para que são pagos”.

No mesmo comunicado, o presidente do clube de Alvalade faz mais uma série de acusações aos jogadores, entre outras de lançarem um comunicado quando estava uma reunião agendada e de fazerem passar notícias falsas para a comunicação social, sendo que, sem falar em nome, ‘ataca’ futebolistas com vários anos de ‘casa’.

“Na primeira reunião, ficaram claras duas coisas: a total lealdade do treinador perante o presidente e quem foram os grandes mentores de toda esta questão, de que fazem parte jogadores que, há anos, exigem sair do clube de todas as maneiras e feitios”, pode ler-se no comunicado de Bruno de Carvalho no Facebook.

O Sporting venceu o jogo. O resultado ajudou a clarificar a situação?
Sim e não. No Estádio Alvalade XXI, e assim que o presidente subiu ao relvado, dirigindo-se ao banco de suplentes, foi fortemente assobiado pela massa associativa, que entoou um cântico esclarecedor de imediato, clamando a sua “demissão”.

Ao contrário da generalidade do público, a mais antiga claque dos ‘leões’, a Juventude Leonina, deixou críticas aos jogadores através uma tarja: “Amar é sentir o clube, tudo o que vocês não sentem”, cantando de seguida “joguem à bola com amor à camisola”.

Nas bancadas, fora da zona das claques, foram, porém, variadas as críticas a Bruno de Carvalho, inclusivamente com alguns adeptos a mostrarem lenços brancos ao presidente.

As manifestações de desagrado com o líder do clube surgiram também em tarjas, com uma a deixar um aviso: “A nossa paciência tem limites”.

Outros pediram, claramente, o adeus de Bruno de Carvalho, com um adepto com um cartaz onde se lia “Bruno votei em ti mas… rua” e outro com um mais simples “Bye bye BdC”.

Quanto ao jogadores, após a vitória por 2-0 sob a equipa dde Paços de Ferreira, o plantel e o treinador Jorge Jesus foram aplaudidos.

O que revelaram as conferências de imprensa de Bruno de Carvalho e Jorge Jesus?
Revelaram que Bruno de Carvalho não recuou quanto à sua opinião sobre o plantel, embora não tenha esclarecido quanto à origem do problema. Já Jorge Jesus garantiu estar com o plantel e com o clube, revelando nunca ter vivido um momento assim na sua carreira.

Aos jornalistas, o presidente do Sporting manifestou a sua revolta pelos assobios e, principalmente, à forma como foi pedida a sua demissão do cargo por parte dos adeptos, acusando-os de serem “ingratos e de memória curta”. “Vim aqui porque acho que nós temos o direito de mostrar os nossos descontentamentos. Agora, o que não é admissível é o facto de me adjetivarem. Se querem demissão, há um sítio próprio. Agora, não aceito que me chamem nomes”, começou por dizer.

Questionado, o líder máximo do clube de Alvalade desvalorizou “os grupinhos” que pretendem a sua saída. “As pessoas são livres de se expressarem e de serem ingratas, como é lógico. Os grupinhos são os de sempre: os da (bancada) Poente e da (bancada) Nascente. São uma organização que significa 10%”, declarou.

Bruno de Carvalho voltou a abordar a sua primeira mensagem partilhada no Facebook, dizendo mesmo que adeptos são “de memória curta” e que o “post é normal”. “Esta ingratidão é de memória curta, faz parte da cultura do Sporting. Tenho a certeza que quem fez isto (assobiar e chamar nomes) ainda não leu o ‘post’. Vão muito cedo para as roulotes e quando lerem vão perceber. Continuo a achar que o ‘post’ é perfeitamente normal e tudo isto é normal”, argumentou.

O presidente dos ‘leões’ acusou ainda a comunicação social de ser a responsável por desencadear toda a situação, referindo que o “post só teve relevância” porque os jornalistas confrontaram o treinador Jorge Jesus com o assunto.

Já Jorge Jesus, que falou depois de Bruno de Carvalho, disse que desde o primeiro dia que entrou no clube, que está “do lado do Sporting Clube de Portugal”. “E é também o lado dos jogadores. Hoje os jogadores demonstraram que a prioridade é a defesa do clube que representam. Dentro de toda a polémica que houve depois do jogo de Madrid, os jogadores deram uma resposta profissional que sabem que à frente deles há uma instituição. Tinham que fazer o que fizeram e muito bem o fizeram”, acrescentou.

Jorge Jesus salientou que não “puxou as orelhas a ninguém” muito menos “ao líder número um da equipa”. E lembrou que pode “ter opiniões diferentes relativamente à defesa do clube”. “Ninguém podia tirar-me o direito à minha autoridade de escolher os meus jogadores, sabendo que os jogadores partilhavam a mesma ideia de defender os interesses do Sporting. Mais nada que isto”, acrescentou.

E explicou como geriu a situação: “Não foi fácil para os jogadores e para o treinador mas percebi desde a primeira hora qual é a minha responsabilidade: defender os interesses do Sporting. Foi isso que eu fiz. Sabia que estava a defender os interesses de toda a gente. As minhas opiniões — não decisões porque quem decide é o presidente, eu decido sobre a equipa — foram sempre na intenção que hoje havia jogo com o Paços de Ferreira, era importante que o treinador pudesse escolher os melhores jogadores e foi isso que eu fiz”, disse ainda Jorge Jesus.

Cinco dias depois do primeiro texto de Bruno de Carvalho, o que pode acontecer?
O presidente está a ser alvo de várias criticas. Mesmo que na conferência de imprensa de domingo após o jogo com os ‘castores’, tenha lembrado que fora legitimado duas vezes pelos ‘sportinguistas’, Bruno de Carvalho foi esta segunda-feira incentivado a afastar-se da direção do clube, pelo presidente da mesa da assembleia geral, Jaime Marta Soares.

O presidente da mesa da assembleia Geral do Sporting, Jaime Marta Soares, considerou “esgotadas as hipóteses de manutenção” de Bruno de Carvalho na presidência do Sporting.

Em resposta, Bruno de Carvalho acusou Marta Soares de dirigir a assembleia geral de forma “infantil e incompetente” , num primeiro momento, e, num segundo texto, acusou-o de o ‘atraiçoar’.

Mais: no primeiro texto, o presidente do Sporting disse que ele prórpio irá pedir à direção do clube que convoque nova assembleia geral; e no segundo, texto, anunciou que deixará de publicar e comentar as suas posições oficiais e do clube.

Ao seguir os últimos acontecimentos, Bruno de Carvalho, despropositadamente, pode ter criado condições para que a sua liderança e direção seja contestada e, consequentemente, afastada do clube.

Nas declarações que deu à ‘TSF’, Jaime Marta Soares disseque poderia vir a convocar nova assembleia geral. De acordo com o jornal desportivo ‘Record’, a Holdimo, empresa de Álvaro Sobrinho, detentora de 28,85% das ações do Sporting, poderá tomar ainda esta segunda-feira uma “posição fraturante” que “pode ter consequências” para o futuro do Sporting.

O referido “acionista importante da SAD” poderá vir a emitir um comunicado “no sentido de promover uma assembleia geral da SAD” que leve a um “desenvolvimento de um conjunto de situações que estão a acontecer”. A Holdimo é detentora de 20 milhões de ações do Sporting desde novembro de 2014, altura em que foi realizado um aumento de capital social, o que representa quase um terço do total de ações da SAD. O segundo principal acionista individual, a Olivedesportos, de Joaquim Oliveira, controla 3,19% dos títulos leoninos.
E a marca Sporting, como fica nesta situação?
Para já, há um patrocinador que demonstrou descontentamento com a situação e as negociações da Sporting SAD estão congeladas.

Logo no sábado, o Grupovarius, parceiro do clube leonino para as modalidades, revelou que nenhum representante da empresa marcaria presença no camarote de Alvalade, no domingo, na receção ao Paços de Ferreira.

“Jamais pactuamos e aceitamos que uma instituição, seja ela qual for, que tenha sócios, apoiantes, simpatizantes e adeptos, exponha publicamente os problemas internos, ainda por cima com uma das modalidades, neste caso o futebol. O que parece que ainda não entenderam, é que o Sporting é muito mais do que isto. É um dos clubes do mundo com mais resultados desportivos a nível mundial. Não fazemos julgamentos sobre quem quer que seja, no entanto como principal responsável do apoio ao judo do Sporting, e que cujo apoio foi fundamental e inequívoco para os resultados que a modalidade tem vindo a ter, informamos que não estaremos presentes no nosso camarote no próximo jogo, de forma a mostrar a nossa total indignação e vergonha. Apelamos que seja posto de imediato um ponto final neste assunto e respeitem a instituição e quem a preside, bem como os que a representam, o desporto e os valores que representa tem que ser bem maior que os egos individuais de cada um”, pode ler-se no texto assinado por Alexandre Cavalleri, presidente executivo da instituição e sócio do Sporting.

Quanto ao mercado, a negociação das ações da SAD do Sporting está “congelada” esta segunda-feira devido ao mecanismo de segurança da bolsa que trava as negociações quando pode estar iminente uma variação superior a 10%. Segundo a agência Lusa, em causa está um mecanismo automático de proteção dos investidores de “congelamento técnico” ou “consolidação de ofertas” que impede as negociações quando pode estar iminente uma variação superior a 10% (negativa ou positiva) em relação ao valor de referência.

Trata-se de algo que acontece com alguma regularidade em empresas cotadas com pouca liquidez e dispersão bolsista, como é o caso das SAD do Sporting e do Porto – cujas ações se encontram igualmente “congeladas” desde quarta-feira nos 0,55 euros – que têm uma negociação por chamada, ou seja, ocorre duas vezes por dia (às 10h30 e 15h30), embora as ordens estejam sempre a entrar no sistema.

Os títulos do Sporting SAD estão a cotar nos 0,63 euros desde sexta-feira, depois de terem estado também dois dias “congelados”.

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