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Reter talento e sustentabilidade são os próximos desafios da consultoria

Especialistas acreditam que as inovações tecnológicas vão possibilitar uma melhor adaptação à realidade digital, juntamente com a procura de novas parcerias para servirem melhor os seus clientes. por rodolfo Alexandre Reis
26 Março 2023, 17h00

1. Quais os grandes desafios que a sua empresa enfrenta em 2023? 2. Qual será o impacto, no sector, da criação de sociedades multidisciplinares?

Gonçalo Caseiro
Fundador
da GConsulting
1. Aparentemente, o sector da consultoria está dentro do seu tempo de ouro. Existem novas tecnológicas, o movimento da sustentabilidade, e fundos como os do PRR. Mesmo com a reorganização das empresas tecnológicas, que levou a vários despedimentos, as consultoras são chamadas para ajudar e criar projetos de redução de custos e gestão de lay off, e o mesmo acontece com a crise bancária a que estamos a assistir, onde se soma o apoio na compra e venda de ativos. Porém, existe uma face escondida e amaldiçoada. As empresas que recorrem a consultoras para inovar, criar processos, substituir capacidade de gestão, podem não estar a comprar algo distintivo, mas sim algo já experimentado por outras organizações. Se os clubes de futebol fizessem outsourcing da capacidade de “olheiro” para descobrir novos talentos, todos iriam descobrir os mesmos novos talentos, com as mesmas metodologias. As empresas querem viver a sua missão, ter uma visão própria, e a contratação de consultores tem de ir ao encontro desta premissa. O grande desafio de uma consultora não é ter conhecimento numa determinada área. O desafio é saber interpretar o ADN do seu cliente, a visão, a cultura, e produzir ideias, apoiar a criação de produtos, melhorar a operação, de acordo com esse mesmo ADN. No caso da GConsulting, os desafios são radicalmente distintos. É uma consultora de nicho, dedicada a projetos na Administração Pública, ou seja, não ocupa espaço de outras consultoras com dimensão, uma vez que desempenha um papel mais na área da assessoria e apoio à gestão de grandes iniciativas. No entanto, enfrenta o desafio de ter uma visão externa e independente com capacidade para identificar as melhores oportunidades, os processos com maior potencial e necessidade de desenvolvimento, alocação de investimento, e ao mesmo tempo saber identificar possíveis “elefantes na sala”.

2. Os próximos anos vão ser desafiantes pelas inovações tecnológicas em presença e pelas expectativas cada vez mais elevadas, bem como pela maior experiência dos clientes, inclusive na área do digital. As grandes consultoras internacionais que sempre tiveram uma abordagem por indústria, terão como desafios adicionais a gestão e coordenação das diferentes áreas de atuação e garantir talento suficiente para operarem. E decisivo será também a melhoria dos mecanismos internos de governo e controlo, para que os níveis de confiança nesta indústria não sejam afetados pelos recentes casos mediatizados internacionalmente.

Bernardo Maciel
CEO
da Yunit Consulting
1. O nosso maior desafio é, e continuará sem dúvida a ser, conseguirmos ser relevantes para as empresas e acompanhá-las na sua exigência de ter um parceiro com as competências certas, cada vez mais transversais e diversificadas e disponível para estar ao seu lado em todos os momentos-chave de tomada de decisões, acrescentando valor ao nível do negócio, no que à capitalização e ao investimento diz respeito. Assumimos como estratégia a combinação de recursos da área económico-financeira com diferentes especialidades de engenharia. E esta opção tem sido crítica para dar resposta aos desafios cada vez mais complexos das empresas. Por um lado, temos de ser capazes de nos envolvermos na reflexão estratégica e no apoio à tomada de decisão dos gestores e, por outro, ter capacidade e compromisso na execução dos diferentes projetos, onde a profundidade técnica e competência faz toda a diferença. Esta tem sido a nossa principal diferenciação, mais que isso, o nosso compromisso. Em simultâneo, a atração e retenção de talentos continua a ser um desafio para organizações como a nossa. Desde a pandemia, que a necessidade de olhar com maior atenção para esta temática se acentuou. Great resignation, quite quitting, entre outras dinâmicas, passaram a integrar o léxico e a agenda das organizações. Na Yunit, temos acompanhado estas questões com muita atenção porque estamos convictos que a construção do espaço ideal para a definição e concretização do nosso propósito assentará no equilíbrio entre a satisfação dos nossos clientes e, sobretudo, a realização das nossas pessoas. Para sermos bem-sucedidos, é fundamental o contributo de todos para que o compromisso com as nossas iniciativas estratégicas seja ainda mais forte e mais competente.

2. A regra geral no que toca a sociedades multidisciplinares ou multiprofissionais, como alguns preferem, tem por base a liberdade de iniciativa económica privada e a liberdade de associação, ambas constitucionalmente garantidas, assegurando a possibilidade de vários profissionais de diferentes áreas se poderem associar para prestar serviços ao público. A existência de sociedades multidisciplinares já é uma realidade em alguns países europeus e, sem dúvida, que abre novas perspetivas para a atividade das consultoras. Além disso, nos últimos anos também temos vindo a assistir em Portugal a uma crescente ligação entre consultoras e escritórios de advogados, inicialmente pela prestação de serviços e mais recentemente pelas ligações a sociedades de advogados. Se, por um lado, já é um facto que as consultoras se apoiam nas sociedades de advogados para dar resposta às necessidades dos clientes para, dessa forma, disponibilizarem um serviço mais completo, por outro lado há que garantir o estatuto de sigilo profissional e independência dos advogados. As sociedades multidisciplinares oferecem sem dúvida uma vantagem para o cliente pela (i) diversificação dos serviços oferecidos permitindo, por exemplo, que uma sociedade de advogados se transforme numa one-stop-shop com (ii) maior capacidade de resposta a preços mais competitivos pela agregação e escala dos serviços com (iii) melhoria de qualidade do serviço prestado devido à integração de várias especialidades com visão transversal e global dos assuntos e (iv) maior comodidade e facilidade. Na verdade, é um tema que está longe de ser consensual e no âmbito do qual seria importante refletir sobre a definição de uma política de governance adequada que suporte a estruturação deste tipo de sociedade e salvaguarde riscos e potenciais conflitos de interesse.

João Viana Ferreira
Partner and Head of Business Consulting NTT DATA Portugal
1. Para a NTT DATA Portugal os grandes desafios de 2023 são quatro: (1) captação e retenção de talento, continuando a aposta no equilíbrio entre a vida profissional e a vida pessoal dos colaboradores, através do modelo híbrido, dinâmico e flexível, que nos caracteriza; (2) gerir a complexidade inerente a uma empresa em crescimento e cada vez maior, com mais temas, e na qual a oferta é cada vez mais integrada; (3) foco nos temas que consideramos estratégicos e, por fim, (4) aumentar a pegada internacional, tirando partido da dimensão global da companhia e da crescente integração, que tendencialmente vai favorecer o aumento da nossa relevância.

2. A NTT DATA sempre foi uma empresa agregadora de diferentes áreas de conhecimento, que vive de integrar pessoas com diferentes capacidades e valências numa oferta integrada. Por isso, sentimos que o mercado se está a orientar para aquilo que nós somos, para a forma como sempre olhámos para a organização e para aquilo que os clientes necessitam. Esta movimentação do mercado vai privilegiar empresas que saibam trabalhar ofertas de forma integrada, que tenham a capacidade de atrair perfis não tradicionais e que consigam construir oferta para os clientes com esta diversidade de pessoas. Mas não basta integrar esta multiplicidade de perfis e fontes de conhecimento nas organizações, é fundamental que as pessoas encontrem espaço para evoluir, que sejam ouvidas e que as organizações aproveitem esta variedade de backgrounds – cujos perfis têm expectativas distintas – para mudar em termos de métodos de trabalho, oferta e modelos de gestão.

Pedro Bento
Executive
Director da Axians Portugal
1. Na perspetiva da Axians, 2023 vai ser mais um ano de forte investimento no Digital, com grandes oportunidades e também alguns desafios para todas as organizações. O rápido ritmo da evolução da tecnologia é em si mesmo um desafio que exige constante atualização de conhecimento e aperfeiçoamento de competências. Todos os dias surgem novas tecnologias e as empresas precisam de garantir que as suas equipas e ecossistema de parceiros têm as capacidades necessárias para fornecer soluções completas e adequadas aos seus clientes. Outro desafio importante é a capacidade para abraçar a inteligência artificial de forma consciente e responsável. O potencial da Inteligência Artificial é enorme, mas implica que em cada projeto se pense para além do negócio e da tecnologia, nomeadamente nas dimensões éticas, de privacidade e da segurança. As consultoras têm elas próprias o desafio de adaptar as suas práticas, de forma a conjugar humanos e máquinas inteligentes, num modelo simbiótico, controlado e que garanta qualidade. Também na Consultoria e no Digital a sustentabilidade é crítica. Num contexto de forte e continuado investimento no Digital é importante garantir que as iniciativas endereçam, não só os problemas imediatos e visíveis, mas também estão alicerçadas em princípios de sustentabilidade, não só económica, mas também ambiental e social. Por último destaco o talento. Num contexto de forte procura e oferta limitada, o principal desafio passa pela atratividade/retenção. Consideramos que a chave está na flexibilidade e capacidade de adaptação das organizações, na sua cultura, nas formas como valorizam e tratam cada pessoa e na forma como recompensam. São temas que têm de ser pensados e ajustados com agilidade e continuamente para manter a competitividade. Estes são alguns dos desafios em que a Axians vai continuar a investir em 2023.

Luísa Franco
Direção de Fundos e Investimento
da Moss&Cooper
1. Nos últimos anos, acontecimentos trágicos como a pandemia Covid-19, e mais recentemente, a guerra na Ucrânia, têm desencadeado mudanças significativas na economia global. A pandemia alterou o paradigma empresarial e acelerou a digitalização dos processos e serviços, levando as empresas a procurar novas formas de inovar os seus modelos de negócios. A guerra na Ucrânia tem gerado instabilidade geopolítica, impactando negativamente a economia de diversos países e setores. Estes contextos têm desafiado empresas e governos a procurar soluções eficientes que permitam a adaptação a um cenário económico em constante mudança. A digitalização dos processos e serviços surgiu como uma solução necessária à sobrevivência de organizações dos mais variados setores, surgindo como uma oportunidade para inovarem nos seus modelos de negócios. A consultoria tem enfrentado muitos desafios, no que se refere especificamente à adaptação da prestação dos seus serviços à nova realidade digital, na formação dos recursos humanos existentes em tecnologias de informação e na necessidade de novos modos de atuação no mercado. Neste ecossistema cada vez mais desafiante, a Moss&Cooper, tem trabalhado de uma forma contínua, promovendo a eficiência dos seus processos de forma a disponibilizar soluções inovadoras aos seus clientes, potenciando assim, a competitividade do tecido económico.

2. A criação de sociedades multidisciplinares poderá ser uma forma eficiente de diferenciar as empresas na área da consultoria por meio da prestação de novos serviços, alcançando novos mercados. Países como Espanha, Reino Unido e Alemanha já permitem que as empresas de consultoria operem como sociedades multidisciplinares, permitindo que ofereçam uma ampla gama de serviços aos seus clientes. Portugal tem sido alertado por múltiplos organismos internacionais, entre os quais a Comissão Europeia e a OCDE, para a necessidade de eliminar restrições excessivas à liberdade de acesso e de exercício de atividades profissionais altamente reguladas, que prejudicam a economia do país. Esta questão foi intensificada pelo Plano de Recuperação e Resiliência com a Reforma RE-r16 “Redução das restrições nas profissões altamente reguladas”, que visa desregulamentar as ordens profissionais. A multidisciplinaridade pode facilitar o acesso ao mercado de trabalho para profissionais qualificados, uma vez que poderão atuar em diferentes áreas e serem contratados por empresas que procuram diversificar as suas áreas de atuação. Eliminar as restrições excessivas no acesso e exercício de atividades profissionais altamente regulamentadas em Portugal poderá ter um impacto significativo na nossa economia. Esta alteração irá permitir que profissionais qualificados tenham mais facilidade em entrar no mercado de trabalho, alavancando o posicionamento de Portugal na economia global.

Tiago Ribeiro
Managing Director
da Ten Twenty One
1. Um dos nossos grandes desafios é transversal ao mercado, o da atração e desenvolvimento de talento. A Ten Twenty One arranca com uma equipa de 60 pessoas que quer duplicar até ao final deste ano. Neste caso, falamos de pessoas que têm de ter um conhecimento sólido de negócio e de setor ou um elevado nível de especialização de TI e especificamente em cloud, automação e Data / Analytics. Não sendo fácil encontrar pessoas com este tipo de competências e tendo em conta que operamos num mercado de atração de talento global e muito competitivo, estamos a apostar, não só em contratação, mas também na formação e upskilling, investindo nas nossas pessoas de elevado potencial, mas também atuando como player dinamizador e criador de novo capital intelectual no setor.

Outro desafio relacionado com o anterior, prende-se com a necessidade de, para além do talento interno, garantirmos que temos as parcerias certas para prestarmos o melhor serviço aos nossos clientes. Neste campo, orgulhamo-nos de sermos a única empresa portuguesa com um elevado nível de parceria com os principais players de cloud. Um último grande desafio tem que ver com o conseguirmos transmitir as mais-valias e, sobretudo, a absoluta essencialidade desta transformação digital para uma maior eficiência, flexibilidade e resiliência do negócio. Numa altura de grande pressão para as empresas, com a instabilidade e desafios cada vez mais complexos, a modernização e agilização dos processos tem de ser uma prioridade, por ser vital para o sucesso do negócio.

CRISTINA SOUSA DIAS
Partner
da BDO
1. Os principais desafios que a BDO enfrenta estão relacionados com os recursos humanos, a transformação digital e a inteligência artificial. Do ponto de vista do mercado de trabalho, os desafios colocados hoje em dia são bastante diferentes dos desafios de há uns anos atrás. A rotatividade e o teletrabalho vieram para ficar. Para esta alta rotatividade contribuem questões como emigração (hoje não competimos só com as empresas nacionais mas também com empresas estrangeiras) e o teletrabalho (muitos trabalham em Portugal para empresas estrangeiras). Os desafios passam assim por reter talentos, adaptando-nos ao que mais valorizam, sendo que estamos especialmente atentos a questões como sejam a flexibilidade, o work balance, a boa comunicação e a capacidade de evolução pessoal e profissional. Na área da tecnologia, o mundo vive hoje outro grande desafio não só pela transformação digital como principalmente a Inteligência Artificial (IA). A transformação digital é algo que está em curso há vários anos e é um processo continuo. Já a IA pode vir a revolucionar o mundo e pode afetar os nossos clientes e vários dos nossos serviços.

2. A criação de sociedades multidisciplinares é inevitável. É uma questão de tempo, de discussão alargada e de criação de todo o ambiente regulatório que as torne eficientes e seguras. É inevitável porque é uma resposta às necessidades de mercado. Os assuntos são cada vez mais multidisciplinares, as respostas têm de ser mais rápidas e as empresas estão cada vez mais internacionais, procurando os mesmos assessores nos diversos países em que operam. Questões críticas das sociedades multidisciplinares como conflito de interesses, sigilo profissional, incompatibilidade e independência são já temas que lidamos todos os dias em sociedades como a BDO, ao prestar serviços de consultoria e auditoria. São temas, entre outros, que naturalmente carecem de aprofundamento e regulação específica.

Para o sector da consultoria entendemos como uma forte oportunidade a criação de sociedades multidisciplinares, dado ser uma necessidade dos clientes. No caso da BDO, como estamos presentes em 164 países, conseguimos prestar serviços, por exemplo de consultoria e fiscalidade a clientes internacionais de uma forma global. Já não o conseguimos fazer nas áreas legais. A BDO, por esta larga dispersão global e pela própria dimensão é uma das sociedades mais bem posicionadas em Portugal para esta nova realidade das sociedade multidisciplinares.

Vânia Soares
Business Development Manager da Moneris
1. Falar em desafios para 2023 sem mencionar o talento e as questões de atração e retenção nas organizações seria, no mínimo, imprudente. Impossível não considerar este como “O” grande desafio, mas a verdade é que este é um problema transversal a todas as indústrias, a todos os setores de atividade, não apenas em consultoria. Por isso, parece-me em 2023 essencial olhar um pouco a montante deste desafio estrutural que são as pessoas. Na Moneris, assumimos uma aposta evidente e robusta na tecnologia, como veículo transformador da profissão e das carreiras, assim como a adoção de uma estratégia norteada pelos princípios do ESG – Environmental Social Governance, que garanta um propósito à organização e às suas pessoas. Na área tecnológica, estamos a realizar um investimento muito significativo em plataformas colaborativas e processos automatizados e desmaterializados, cujo principal impacto será libertar o nosso talento para assumir projetos mais complexos, mais ambiciosos, que exijam maior capacidade analítica e tragam maior valorização do seu trabalho, já que as tarefas repetitivas e monótonas passam a ser garantidas por robots e automatismos. Estamos muito confiantes que a continuidade desta estratégia de transformação digital na Moneris vai proporcionar um maior crescimento profissional dos nossos colaboradores, vai atrair novo talento para as nossas Unidades de Negócio e vai potenciar um maior interesse pela carreira de contabilidade e consultoria, que demonstra um envelhecimento preocupante. Adicionalmente, ter uma organização alinhada com os princípios de ESG é fundamental para criar um clima atrativo, especialmente para as gerações Y e Z, que representam já mais de um terço da força de trabalho mundial. Os colaboradores procuram mais do que uma empresa que pague um salário ao final do mês – embora a competitividade salarial seja naturalmente relevante; eles procuram empresas justas, com princípios éticos, saudáveis e democráticos, que valorizem a sua participação e contribuição. Procuram empresas que se preocupem com a sua pegada ambiental e possam contribuir para uma economia mais sustentável. Procuram empresas que pratiquem a diversidade e inclusão, que advoguem a igualdade de género e que garantam os direitos humanos, a liberdade e a democracia em toda a sua cadeia de valor. Atualmente as pessoas sentem falta de um propósito, de contribuírem para algo relevante e que possa fazer a diferença. E nesse caminho, é fundamental construir uma organização alinhada e capaz de dar resposta as estes desígnios. E não será irrelevante considerar que toda esta estratégia conflui para uma prestação de serviços mais funcional, mais competente, de maior qualidade, com enorme benefício para os nossos clientes.

2. O impacto da criação de sociedades multidisciplinares poderá ser positivo para a transparência, colaboração e profissionalização do mercado o mercado. Atualmente, é comum que uma empresa tenha que procurar vários prestadores para um serviço único, perdendo eficácia, eficiência e celeridade. A possibilidade de termos num futuro próximo a criação de sociedades multidisciplinares vem, neste sentido, facilitar o acesso aos serviços profissionais especializados. Prevê-se também que possa trazer maior dinamismo ao mercado, com uma potencial dinâmica de fusões e aquisições, que se prevê se possa traduzir em organizações de serviços profissionais mais competitivas e globais. Na minha opinião, pode ter também impactos positivos na atração de talento jovem, que vê nestas sociedades dinâmicas a possibilidade de integrar projetos mais abrangentes, com equipas cujo conhecimento complementar acrescentam muito a cada um dos seus elementos. Não sendo um tema consensual, na Moneris vemos a multidisciplinariedade como uma caminho de evolução natural, pois vem dar resposta às necessidades de um mercado cada vez mais global e exigente, alinhado com as políticas europeias. Atualmente temos já alguns projetos multidisciplinares a decorrer, especialmente na área de Risco e Compliance, onde desenvolvemos uma proposição de valor conjunta (com parceiros na área jurídica e tecnológica, por exemplo) para endereçar temáticas como o RGPD – Regulamento Geral de Proteção de Dados, ou o RGPDI – Regime Geral de Proteção de Denunciantes de Infrações. Porque nestas e em tantas outras matérias de interesse para empresas e negócios, a consultoria cruza-se com outras áreas do saber. Porquê criar barreiras, quando podemos criar pontes?

Nasser Sattar
Head of Advisory
da KPMG Portugal
1. Fruto da necessidade de adaptação de novos modelos de negócio, da introdução da transformação digital, da adoção de AI e da automação, o mundo de consultoria já sofria alterações significativas na oferta de serviços, mesmo antes da pandemia de Covid-19. Naturalmente, a pandemia transformou ainda mais estes desafios, com a necessidade de alterar a forma de prestação de serviços, de maneira remota ou presencial, como também potenciou a deslocação geográfica dessa mesma prestação – por exemplo, Portugal passou a ser um destino cada vez mais procurado por profissionais do setor para estabelecerem a sua residência e/ou a criação de hubs near shore.
A KPMG investe desde sempre em inovação, em novas soluções tecnológicas e nas novas áreas que os nossos clientes procuram, nomeadamente, Regulação, Cyber Security, Sustentabilidade, ESG, Transformação Digital e Corporate Finance. Sabemos que é determinante que estejamos à altura das expectativas e da complexidade cada vez maior dos nossos projetos. Neste contexto, reter os recursos mais talentosos, e também contratar, é outro grande desafio que tenho que realçar. Os processos de transformação digital exigem que tenhamos equipas com perfis tecnológicos específicos e com profundo conhecimento das várias áreas de negócio e, sendo este um desafio comum a todo o universo da consultoria, este talento é altamente procurado em Portugal e no estrangeiro, o que torna ainda mais desafiante o esforço de retenção. O modelo híbrido de trabalho trouxe também os seus desafios: permite uma maior flexibilidade e gestão de tempo e torna necessário o equilíbrio entre as questões relacionadas com o DNA da Empresa, on the job training, e a maior integração dos recursos e networking. A consultoria é, por isso, tudo isto, o reflexo do mundo em que vivemos: nos seus desafios, no elevado grau de competitividade e, cada vez mais, na transversalidade de todas estas questões, nos mercados doméstico e internacional. A fasquia da exigência, que sempre esteve elevada, está agora a um ritmo de mutação impressionante e o nosso maior propósito continua a ser o de fornecer soluções eficazes e relevantes para os nossos clientes. Por este motivo, temos que investir continuamente para sermos os mais inovadores, os mais relevantes e com qualidade ímpar nos mercados em que operamos. É com muito orgulho que a KPMG Portugal tem conseguido, nos últimos anos, manter uma taxa de crescimento double digit na média.

2. Ao fim de mais de dez anos desde que o tema foi suscitado, tudo se prepara para que, finalmente, Portugal admita a constituição e a atividade das denominadas “sociedades multidisciplinares”, tal como acontece na generalidade dos países europeus e em muitas outras geografias. Em síntese, o que está em causa é a possibilidade de uma mesma entidade passar a poder prestar serviços de diferente natureza (ex: consultoria fiscal, de gestão, financeira, imobiliária, jurídica, etc.) e/ou de qualquer pessoa poder ser sócia ou acionista de entidades que prestem aqueles serviços. A alteração à Lei que atualmente ainda veda aquelas duas possibilidades relativamente a quase 20 profissões ditas “reguladas”, acaba de ser promulgada, assim acolhendo finalmente a Diretiva comunitária que impõe este modelo. No que respeita à atividade da KPMG, o principal efeito útil desta alteração deverá resultar da possibilidade de poder integrar na respetiva oferta, a prestação de serviços de consultoria legal, incluindo a advocacia. As sinergias entre a oferta atual da KPMG e os serviços de natureza legal, são evidentes. Por isso mesmo, são também óbvias as ineficiências que hoje ainda se verificam pela necessidade de as empresas recorrerem a diferentes providers para as assessorarem numa determinada operação. Tendo em conta a realidade de outros países, o nosso conhecimento do mercado nacional e a visão que temos do tema, acreditamos que a prestação de serviços de natureza jurídica vai reforçar substancialmente a nossa operação no apoio às empresas, permitindo também atrair e reter muito talento com formação jurídica. Numa perspetiva organizacional, esta evolução irá reforçar o conceito de multidisciplinaridade defendido pela KPMG.

 

 

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