[weglot_switcher]

TAP – Trapalhada Aérea Portuguesa!

Fica a pergunta óbvia. Se era para ser privatizada, porquê que o governo se deu ao trabalho de a renacionalizar em 2020?! E no caso de novamente privatizada ficarão asseguradas as ligações às regiões autónomas e à diáspora? E o que será feito dos três mil milhões de euros em exportações?
19 Abril 2023, 07h15

A TAP ao longo dos últimos anos tem sido alvo de polémicas, umas atrás das outras e este ano não é exceção. Desde que o Estado renacionalizou parcialmente a companhia aérea em 2015, ficou a dúvida em muitos portugueses se deveria ter sido nacionalizada ou não. Tive a oportunidade de analisar há uns anos o relatório de contas da TAP SGPS, e verificava-se na altura que um dos ramos de prejudicava fortemente a empresa era a TAP Manutenção e Engenharia Brasil, um negócio que já nasceu torto e foi como um cancro a contaminar o resto do grupo. Nada foi feito na altura para cortar o mal pela raiz.

Em 2020, com a paragem do turismo e do setor da aviação devido à pandemia, a TAP levou um rombo nas suas contas, com quebra significativa nas receitas, passando a ter uma operação residual. O Estado como acionista principal viu-se obrigado a aumentar o capital. O acionista privado não acompanhou, tendo sido pago para sair da companhia aérea. 3,2 mil milhões de euros foi o montante de aumento do capital e ressalva-se que não é empréstimo, é dinheiro que o Estado só poderá reaver todo ou parte dele com a privatização total da companhia aérea. A justificação dada, foi que a companhia era responsável por três mil milhões de euros em exportações, daí a intervenção do Estado.

Muitos criticam esta decisão que é onerosa para o contribuinte e que ao invés da injeção de dinheiro, a empresa deveria ser considerada uma empresa “too big to hold” e o Estado deveria deixá-la falir, criando uma empresa nova ao lado utilizando parte dos recursos (slots, aviões e recursos humanos) à semelhança do que a Itália fez com a Alitália ou que a Suíça fez com a Swissair. Esta situação permitiria que o Estado não tivesse de injetar tanto dinheiro na transportadora aérea.

Na altura foi mencionado que com a saída do acionista privado a TAP iria ter um novo conselho de administração, cujo CEO iria ser recrutado no mercado internacional através duma empresa de recrutamento especializada. Pois bem, foi contratada uma CEO francesa já com experiência no ramo da aviação, foi desenhado um plano de reestruturação, foram despedidas pessoas e finalmente foi fechado o ramo da manutenção e engenharia do Brasil, mas por exigência da Comissão Europeia.

Um ano depois novas polémicas sobre o renting de uma frota de carros premium, quando a empresa está em processo de reestruturação e sobre a demissão de uma administradora que sai com uma indemnização de quase 500 mil euros, para pouco tempo depois ser nomeada para o governo como secretária de Estado. Tutelas que não sabiam, mas afinal souberam e aprovaram por Whatsapp, e que levaram à demissão de um ministro. Pouco tempo depois a CEO é demitida “informalmente” pelo governo quando a TAP apresenta lucros operacionais e cumpre o faseamento do plano de reestruturação, numa decisão que nem sequer passou pela assembleia geral. Parece que a ideia agora é privatizar novamente a TAP para que seja integrada num grande grupo de aviação, talvez a Air France/KLM, a Lufthansa ou o grupo IAG.

Enfim uma autêntica trapalhada! Fica a pergunta óbvia. Se era para ser privatizada, porquê que o governo se deu ao trabalho de a renacionalizar em 2020?!

E no caso de novamente privatizada ficarão asseguradas as ligações às regiões autónomas e à diáspora? E o que será feito dos três mil milhões de euros em exportações?

Copyright © Jornal Económico. Todos os direitos reservados.