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Um emprego no surf em Portugal. Profissões acompanham crescimento do sector

António Pedro de Sá Leal, presidente da Associação Surf Social, traça ao JE a evolução de um sector que, nos últimos 30 anos, deu origem a uma indústria com alguma dimensão e fez nascer várias profissões. Só na fileira da prancha de surf existem quatro.
4 Janeiro 2021, 07h55

Empreendedor, empresário, diretor de revistas, colunista e autor de três livros – dois ligados aos surf e ”Salvadores”, um thriller histórico que acaba de chegar às livrarias -, António Pedro de Sá Leal  é licenciado em Filosofia na Universidade Nova de Lisboa, com pós-graduações em Estudos Europeus e Marketing Management e uma formação em Gestão Avançada da Economia do Mar pela AESE Business School. O seu tempo é dividido entre a presidência  da Associação Surf Social Wave, o papel de ‘chair’ da Surfrider Foundation Europe em Lisboa, ONG global de defesa do  ambiente e dos oceanos e o de professor assistente convidado na Escola Superior de Desporto de Rio Maior.

No global, quanto “vale” o mercado do surf em Portugal e quantas pessoas emprega?

A economia do surf valia em 2014, de acordo com o estudo desenvolvido pela Associação Nacional de Surfistas, 400 milhões de euros. Desde essa altura até ao final de 2019 houve um crescimento gradual do mercado. Por exemplo, as escolas de surf inscritas na Federação Portuguesa de Surf cresceram de 189 para 320, entre 2014 e 2019. Para além disto, houve um incremento no turismo ligado ao surf com a entrada de novos ‘players’ nacionais e internacionais que acabaram por ditar que este valor em finais de 2019 poderia ser já o dobro.

E em 2020?

Em 2020, apesar de uma recessão no sector, sobretudo no que diz respeito ao turismo, o que verificamos é uma resiliência da economia do mar ligada ao surf.

Que tipo de empregos existem no surf?

No início do surf tínhamos genericamente o surfista, o ‘shapper’ (pessoa que fazia a pranchas) e o fabricante dos fatos. Com o desenvolvimento do desporto nos últimos 30 anos vimos surgir uma indústria com alguma dimensão que acabou por ditar o surgimento de novas profissões. Desde o instrutor de surf, até ao marketeer, passando pelo designer, pelo responsável pela distribuição, pelo jornalista ou mesmo pelo organizador de eventos. Hoje, só a fileira da prancha de surf tem quatro profissões diferentes: o laminador, o lixador, o pintor e o vendedor. Todas estas profissões fazem parte do fabrico e comercialização da prancha. Mas o crescimento das empresas ligadas à distribuição das marcas de surf trouxe também oportunidades em várias áreas, desde a contabilidade à gestão ao armazenamento e o fenómeno do turismo trouxe também um sem número de profissões, sobretudo nos ‘surfcamps’, isto é os hostels dedicados exclusivamente ao surf.

Como se arranja um emprego no surf?

O surf é um elemento diferenciador na vida dos surfistas. Quando vamos fazer surf somos confrontados com uma série de situações onde desenvolvemos competências transversais em diferentes áreas. Temos dias em que tudo corre mal e somos resilientes, no fundo, esta lógica de voltarmos a tentar, de não desistirmos, mas não só… quando vamos surfar trabalhamos a nossa plasticidade cerebral quando nos confrontamos a todos os momentos com situações novas que exigem abordagens diferenciadas, a nossa capacidade de tomar decisões de segundos quando deslizamos na parede da onda, entre outras. Para além disso, o surf é um enorme desbloqueador de emoções que de alguma forma nos ajuda a ficar disponíveis para a mudança, sobretudo porque nos permite em determinados momentos avaliar as nossas capacidades e competências.

O Programa Cascais Surf para a Empregabilidade realizou mais uma edição. Que competências são necessárias para o frequentar?

O que procuramos nos nossos participantes são pessoas que estejam interessadas em investir o seu tempo para encontrar o seu projecto de sonho. Para nós, a seleção dos participantes reveste-se de enorme importância pois reconhecemos que se tivermos as pessoas certas, com a motivação certa, conseguimos impacta-las positivamente, razão entre outras pela qual temos uma parceria com a Randstad que nos ajuda em três momentos fundamentais no programa: a seleção dos participantes, uma sessão sobre empregabilidade e o seguimento dos participantes que procuram emprego após o programa. De outro modo, o nosso sucesso mede-se sobretudo pela capacidade de os nossos participantes realizarem os seus projectos.

Basicamente, o que é o programa? Que objectivos visa atingir?

O Programa Cascais Surf para a Empregabilidade é resultado do desenvolvimento do processo DCTM ©, (Desconstrução, Construção, Tools/Ferramentas e Mentoria). Tem a duração de cinco semanas e recebe 10 participantes. Sendo que os participantes são selecionados após candidatura. Ao longo do programa os participantes surfam duas vezes por semana, fazem Yoga, tem sessões de coaching individual e de grupo. Têm igualmente sessões em diferentes áreas, como economia, finanças e contabilidade, marketing e comunicação, gestão e planeamento, desenvolvimento de projecto, ferramentas digitais, empreendedorismo e procura ativa de emprego. Contam ainda com a presença de vários oradores cuja história de vida é verdadeiramente inspiradora. No fim do programa temos um momento a que chamamos ‘Deep into the Ocean’ que tem como objetivo fechar o ciclo de aprendizagem e dar um ‘kick-off’ para a passagem à ação. O objectivo final é dotar os participantes de ferramentas pessoais e profissionais que lhes permitam desenvolver os seus projectos pessoais com sucesso. Os nossos formadores vão desde professores da Nova SBE a especialistas nas respectivas áreas, de modo a conseguir passar uma visão mais académica, mas também uma visão mais prática e objetiva nas diferentes áreas. O programa decorre na Nova School of Business and Economics em Carcavelos.

Que adaptações tiveram que fazer devido à pandemia?

Com a pandemia da Covid-19, a Associação Surf Social Wave, consciente da sua missão, desenvolveu um programa totalmente online que decorreu entre maio e junho tendo sido um sucesso. Este programa online sofreu uma redução no número de semanas, passou para quatro, mas manteve todas as valências. Em julho, resultado do sucesso da passagem para o online fizemos um programa em regime semi-presencial. No dia 2 de novembro teve início um novo programa em regime presencial.

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