Um relatório da ONU da autoria da relatora especial para os territórios palestinianos ocupados, Francesca Albanese, argumenta que há uma série de empresas para quem “o genocídio é lucrativo”, referindo-se à ofensiva israelita em Gaza. Falando numa “economia de ocupação”, o documento aponta o dedo a inúmeras organizações, desde tecnológicas a financeiras, explicando as relações com o Estado israelita e a forma como lucram com as suas violações dos direitos humanos.
“Claramente, para alguns o genocídio é lucrativo”, afirmou Albanese na conferência de imprensa de apresentação do relatório esta quinta-feira, na Suíça, onde pediu um embargo à venda de armas a Israel, mas também que todos os países cortassem ligações económicas com aquele país, que, classifica, “é responsável por um dos genocídios mais cruéis da história moderna”.
Enquanto Gaza foi “devastada”, a “bolsa de Telavive disparou 213%, acumulando 225,7 mil milhões de dólares em ganhos, incluindo 67,8 mil milhões só no mês passado”, denuncia, num exemplo claro do “falhanço dos sistemas internacionais de negócios e legais no cumprimento dos direitos mais básicos de um dos povos mais desprovidos do mundo”.
O relatório aponta 48 empresas ou grupos, incluindo as suas empresas-mãe, subsidiárias, franchisadas ou parceiros de consórcio em vários setores. Tecnológicas como a IBM, Microsoft, Google, Amazon ou a HP lucram com contratos avultados para ajudar o Estado israelita em programas de vigilância, assistindo no desenvolvimento de sistemas de inteligência artificial (IA) para identificar alvos ou com a identificação e repressão de conteúdos pró-Palestina.
Também o software Pegasus, desenhado para vigilância dissimulada de smartphones e utilizado por vários governos e atores estatais por todo o mundo para atacar jornalistas, ativistas e defensores dos direitos humanos, foi desenvolvido por antigos membros do exército israelita, mostrando os laços entre estas empresas e as forças armadas.
Do lado industrial, empresas como a Lockheed Martin, Elbit ou Leonardo beneficiam com a venda de equipamento militar aos israelitas, permitindo-lhes publicitar os seus produtos como ‘testados em batalha’. Neste capítulo, não só empresas privadas são visadas – por um lado, vários Estados lucram com estas transações; por outro, institutos de educação e universidades como o MIT também estão envolvidos no desenvolvimento e pesquisa.
Estas empresas “permitiram que 85 mil toneladas de bombas – seis vezes a quantidade em Hiroshima – fossem lançadas sobre Gaza”, ilustra Francesca Albanese.
Também nomes como a Volvo e Hyundai se vêm envolvidas nesta “economia de ocupação”, fornecendo os bulldozers utilizados pelo Estado israelita para destruir as casas de palestinianos na Cisjordânia, onde a expansão dos colonatos ilegais israelitas não tem parado. Em maio passado, o ministro das Finanças Bezalel Smotrich, ele próprio um colono na Cisjordânia, anunciou a construção de 22 novos colonatos – uma política de ocupação repetidas vezes decretada ilegal pelo Tribunal Penal Internacional.
“Até atores aparentemente neutros, como locais turísticos, supermercados e universidades estão a normalizar o apartheid e o apagamento sistemático da vida palestiniana”, lê-se no relatório, uma acusação que visa nomes como, por exemplo, a Booking e a Airbnb, que permitem propriedades listadas em colonatos ilegais na Cisjordânia.
Todo este paradigma de lucro com violações dos direitos humanos e crimes de guerra é financiado pelo sistema financeiro internacional, desde o investimento em bonds israelitas e nestas empresas até às organizações de caridade em inúmeros países europeus e nos EUA desenhadas para financiar estes projetos ilegais, frequentemente isentas de impostos.
A ofensiva israelita em Gaza já matou mais de 57 mil pessoas, segundo o balanço mais recente do Ministério da Saúde local, levando à emissão de mandados de captura internacionais por crimes de guerra ao primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, e ao então ministro da Defesa, Yoav Gallant.
Também os líderes do Hamas Yahya Sinwar, Isma’il Haniyeh e Mohammed Deif foram acusados de crimes contra a humanidade pelo envolvimento nos ataques de 7 de outubro, tendo, entretanto, sido todos eliminados pelo exército israelita.
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