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António Costa: “Temos de colocar a agricultura no centro das nossas preocupações”

Primeiro-ministro liderou cerimónia de apresentação da Agenda para a Inovação para a Agricultura 20|30, que está a decorrer esta sexta-feira no Cartaxo.
  • António Pedro Santos / Lusa
11 Setembro 2020, 13h24

“A inovação na agricultura tem sido absolutamente decisiva. É graças a essa inovação que durante a última década, Portugal reduziu em cerca de 400 milhões de euros por ano o seu défice alimentar. Foi graças a essa inovação que ao longo da última década as nossas exportações no setor agroalimentar cresceram, em média 5% ao ano. No ano passado, em 2019, as exportações do setor agroalimentar representaram 11% da totalidade das exportações de bens do nosso país”, assinalou hoje, dia 11 de setembro, o primeiro-ministro António Costa, durante a cerimónia de apresentação oficial da Agenda para a Inovação para a Agricultura 20|30, que está a decorrer no Cartaxo.

O primeiro-ministro salientou que as exportações agrícola nacionais estão este momento a decorrer para 185 mercados, mais de 50 abertos nos últimos cinco anos.

“E isto só é possível, de facto, colocando a inovação no centro do processo de produção agrícola. E, ao contrário do que muitos dizem, a agricultura não é uma atividade do passado. É, seguramente, uma atividade que tem e terá sempre um enorme futuro, porque enquanto houver seres vivos, os seres vivos terão que se alimentar, e para se alimentarem terá que haver a produção que a agricultura nos permite assegurar, defendeu António Costa.

António Costa entende que “é por isso que o investimento em inovação é crítico para o futuro da agricultura”.

“Temos de produzir mais num contexto em que os recursos escasseiam e em que sabemos que as alterações climáticas, designadamente num país como Portugal, nos colocam desafios muito particulares. Nós somos dos países da União Europeia que mais sofreremos com os riscos das alterações climáticas. Sofreremos com a escassez da água e com a erosão da costa. Sofreremos com os riscos dos incêndios florestais, também com o risco da imprevisibilidade daquilo que é o clima, que se traduz, desde logo, num enorme risco para a agricultura. E, por isso, ao contrário daquilo que muitas vezes vejo referido, nós não podemos ver a agricultura e o ambiente como inimigos. Só os posso ver como aliados, porque a agricultura dá um contributo inestimável para a regulação das alterações climáticas e a regulação das alterações climáticas é uma condição indispensável para a subsistência da agricultura”, advoga o primeiro-ministro.

António Costa considerou que “não é por acaso que esta pandemia nos obrigou a todos a recentrar as prioridades, a perceber bem o que é essencial do que não é essencial; a separar o trigo do joio e a concentrar-nos naquilo que é absolutamente fundamental”.

“Não é por acaso que entre a grande quebra de procura interna que houve, houve setores, designadamente nos bens alimentares, onde essa quebra não só não se verificou relativamente às famílias e só sofreu o impacto brutal do que aconteceu e do que tem vindo a acontecer com o setor do turismo”, explicou.

Para António Costa, “isto significa que temos de colocar a agricultura no centros das nossas preocupações”.

“E neste esforço de recuperação, a estratégia que a União Europeia definiu assenta em duas ideias fundamentais: em primeiro lugar, temos de reforçar a resiliência da Europa e, da mesma forma, acelerar a dupla transição, digital e climática. E a resiliência da Europa é certamente estarmos mais resilientes aos riscos das alterações climáticas. Mas estarmos também mais resilientes para aumentar a nossa autonomia estratégica, porque se algo ficou claro nestes meses é que nós não podemos depender de cadeias de valor de tal forma globalizadas, que pela sua extensão, há risco de interrupção em cada um dos elos dessa cadeia, o que nos coloca numa numa situação de rotura de abastecimentos de bens absolutamente essenciais. E se há bem essencial são mesmo os bens agroalimentares”, assumiu o líder do Executivo.

Na opinião de António Costa, “a Europa vai ter de saber produzir mais e de produzir necessariamente melhor e, por isso é que aliar essa resiliência à dupla transição digital e climática é mesmo um desafio ganhador e que reforça o sentido de futuro desta atividade”.

“Porque o digital não é o oposto de trabalho agrícola. Cada vez mais, as tecnologias de informação são uma ferramenta de trabalho tão importante como a enxada para o trabalho agrícola. É assim que podemos saber melhor a qualidade dos solos, a humidade dos solos, medir a temperatura, selecionar melhor as colheitas, acompanhar a evolução das colheitas, saber quando é a melhor altura para fazer a vindima. Tenho visto em muitas regiões do país como, de facto, esta inovação na agricultura tem sido, de facto, sustentada na incorporação no processo de produção do agroalimentar, destas novas tecnologias e destes novos recursos. Não é seguramente por acaso que dos 26 laboratórios colaborativos que foram criados nos últimos anos, sete são precisamente no setor agroalimentar, um deles, aliás, precisamente aqui, no distrito de Santarém, o FeedInov, vocacionado para a otimização da produção animal de um modo sustentável”, adiantou António Costa.

No entender do primeiro-ministro, “é por isso que a visão que o professor António Costa e Silva apresentou como visão estratégica para aquilo que deve ser a recuperação do país ao longo da próxima década, um dos eixos principais é precisamente o da coesão, agricultura e floresta”.

“E esse eixo vai seguramente ter tradução naquilo que é o esforço que nos caberá, a nós Governo, a vós autarcas, a todos aqueles que são empresários e aos cidadãos em geral, que é a conversão desta visão em instrumentos de política, em projetos de investimento, em atividade”, destacou.

Segundo António Costa, “nesse esforço, seguramente a inovação vai ter um papel fundamental para continuar a assegurar que a alimentação contribui cada vez mais para uma melhor saúde, para assegurar uma maior coesão territorial, para poder assegurar maior sustentabilidade ambiental, essencial para preservar os recursos necessários ao desenvolvimento da agricultura para produzirmos bens que acrescentem cada vez maior valor, não só para o vendedor mas desde logo para o produtor, que com esse maior rendimento seja possível contribuir ainda mais para o rejuvenescimento desta atividade, o que significa que simplesmente o que aconteceu ao longo dos tempos, que é haver um nova geração que sucede à geração que a precedeu”.

“E aí, em todo este processo, a inovação tem um papel central. E é por isso que, sabendo bem qual é o papel das políticas públicas na criação de melhores condições para que as empresas e os empresários, e neste caso os empresários do setor de toda a fileira agroalimentar, têm, nós sabemos bem que que temos de trabalhar em parceria. Na relação diplomática, ajudando a abrir mercados. Temos de trabalhar em parceria assegurando melhor utilização e disponibilização de recursos fundamentais, como foi o investimento do Alqueva e como é aquilo que está em curso, em execução, que é o Plano Nacional de Regadios. Na proteção de recursos fundamentais, como a execução da reforma  da floresta, que é absolutamente fundamental para que a floresta deixe de ser notícia pelos incêndios que aí ocorrem e passe cada vez mais a ser notícia pela riqueza que acrescenta ao território e ao nosso desenvolvimento”, salientou António Costa.

Na opinião do primeiro-ministro, “para a parceria que temos que ter para assegurar que o país tem os melhores recursos humanos e, por isso, temos de continuar a aumentar o seu investimento, desde o jardim de infância à frequência do ensino superior. O investimento crescente que temos de fazer na ciência para aumentar o conhecimento e na transferência desse conhecimento para o concreto, neste caso, para a terra, para o trabalho agrícola. É esse mais conhecimento que tem o vinho, que têm os azeites, que têm os frescos, que tem toda a produção agroalimentar, que pode efetivamente assegurar-se que temos uma agricultura no futuro mais sustentável, mais saudável e que seja produtora de mais rendimento para quem trabalha na agricultura. Por isso, a nossa prioridade foi aprovar uma Agenda para a Inovação para a Agricultura para esta década 20, 30, que foi ontem aprovada em Conselho de Ministros”, defendeu António Costa.

O primeiro-ministro explicou ainda que a apresentação deste documento estratégico para a agricultura decorreu no que é considerado o maior evento de promoção da inovação da agricultura em Portugal.

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