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António Saraiva: “É preciso um Simplex-Covid, porque só 3% das empresas receberam financiamentos”

A CIP divulgou esta tarde o resultado de um inquérito às empresas que se candidataram a empréstimos para enfrentarem as dificuldades provocadas pela crise da Covid-19. Dos 9,3 mil milhões de euros pedidos, apenas tinham sido aprovados 3,5 mil milhões de euros no final de abril. No entanto, desse valor, apenas chegaram às empresas 84 milhões de euros, revelou o presidente da CIP, António Saraiva.
  • Cristina Bernardo
4 Maio 2020, 18h27

Da totalidade das empresas que pediram apoios e empréstimos bancários – que corresponde a cerca de um terço das empresas portuguesas – destinados a enfrentar os problemas decorrentes da crise da Covid-19, “apenas 3% já receberam o financiamento”, revela o inquérito “Sinais Vitais – Financiamento Bancário” divulgado esta tarde pelo presidente da CIP, António Saraiva. “No final de abril, contabilizaram-se 43.830 empresas que se tinham candidatado a empréstimos e linhas de apoio no montante de 9,3 mil milhões de euros, para enfrentarem as dificuldades que sentem e, dessas, houve 16.708 propostas aprovadas, no valor de 3,5 mil milhões de euros, mas apenas 505 contratadas, o que corresponde a 84 milhões de euros”, referiu o presidente da CIP ao Jornal Económico. “A carga da burocracia pedida a estas candidaturas é imensa, com muitas fichas para preencher e certidões a apresentar, o que entrava as respostas e dificulta a entrega do dinheiro, que é o que as empresas mais precisam neste momento”, adianta o presidente da CIP, considerando que era preciso um “Simplex-Covid para agilizar o pagamento dos empréstimos”.

Além disso, “o montante disponibilizado nestas linhas de apoio ascende a 6,2 mil milhões de euros, quando a CIP estima que as necessidades das empresas ascendam a 20 mil milhões de euros, pelo que se percebe que 84% das empresas tenha respondido no inquérito que os programas de apoio estão aquém, ou muito aquém, do que necessitam”, refere António Saraiva.

“O pacote concedido a Portugal ascende a 13 mil milhões de euros, razão pela qual há margem para conceder os 9,3 mil milhões de euros que as empresas precisam para já”, considera António Saraiva, comentando que “não se entende porque razão foram avançados montantes tão reduzidos de apoios, que começaram em 100 milhões de euros, para depois passarem para os 200 milhões e a seguir para 400 milhões, saltando depois para três mil milhões e agora estamos ligeiramente acima dos seis mil milhões de euros”.

Mais detalhadamente, o inquérito refere que 56,6% das respostas disseram que os programas de apoio do Estado português estão “aquém do que é preciso”, 26,8% estão “muito aquém do que é preciso” e apenas 15,9% “estão à altura das dificuldades”. Só 0,8% das respostas consideraram que os apoios “superam as expectativas”.

Sobre o tipo de financiamentos a que as empresas se candidataram, 56% das empresas que já solicitaram financiamento bancário recorreram à Linha de Crédito Capitalizar – Covid (geral). Cerca de 38% das empresas solicitaram apoio à linha Covid-19 Apoio à Indústria – Apoio à Atividade Económica. Mais: 2% candidataram-se à linha Covid-19 Apoio a empresas da restauração e similares; 1,5% candidataram-se à linha Covid-19 Apoio a agências de viagem, animação turística, organizadores de eventos e similares; mais 1,3% de empresas candidatadas à linha Covid Turismo (para microempresas); e igualmente 1,3% candidatadas à linha Covid-19 Apoio a empresas turísticas (empreendimentos e alojamentos)

Sobre o funcionamento das empresas, o inquérito refere que cerca de metade das empresas – 49,8% -, mantêm-se em pleno funcionamento, 33,8% estavam parcialmente encerradas e 16,4% estavam encerradas.

O inquérito teve um universo de 150 mil empresas, com uma amostra de 1.582 empresas e um erro de mais ou menos 2,5%, refere a CIP. A amostra foi constituída em 45% por micro empresas, 35% por pequenas empresas, que empregam até 50 trabalhadores ou apresentam um volume de negócios inferior ou igual a 10 milhões de euros e 4,5% por grandes empresas. O respetivo questionário foi efetuado entre 28 e 30 de abril, com respostas online.

Sobre o financiamento bancário, o inquérito adianta que um terço das empresas portuguesas já pediu financiamento bancário (concretamente, 35,6% das empresas), 24% não pediram financiamento bancário, mas pensam vir a pedir e 40,5% não pediram, nem pensam vir a pedir financiamento.

António Saraiva explicou que este inquérito foi o primeiro feito no âmbito do “Projeto Sinais Vitais”, desenvolvido pela CIP – Confederação Empresarial de Portugal, em parceria com o Marketing FutureCast Lab do ISCTE e teve como objetivo recolher informação “credível e atualizada sobre o que pensam os empresários e gestores de topo das empresas portuguesas e analisar informação quantitativa fornecida pelas empresas sobre temas específicos”.

O “Projeto Sinais Vitais” foi desenvolvido, segundo a CIP, “para ter, nesta altura, uma periodicidade semanal, agregando conhecimento sobre o tecido económico e permitir uma ação mais rápida no contexto de estado de exceção que afeta cidadãos e empresas” na atual crise da Covid-19. Adianta a CIP que “neste projeto, alia-se a capacidade da CIP de contacto com as empresas portuguesas, através das associações, à capacidade técnica do Marketing FutureCast Lab do ISCTE”.

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