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Carlos Moedas: “Probabilidade do Reino Unido sair sem acordo é muito alta”

Apesar da nova decisão de Boris Johnson que parece provocar um retrocesso num acordo europeu, Carlos Moedas defende que a “máquina de Bruxelas sabe o que fazer no day after”, bem como o que vai ser afetado. “Está tudo preparado mas apesar de estar preparado, o abanão é forte porque nada disto faz sentido”, reaçou o ex-comissário europeu.
  • Cristina Bernardo
22 Setembro 2020, 13h13

O ex-comissário europeu Carlos Moedas admite, pela primeira vez, que “a sensação que a probabilidade do Reino Unido sair sem acordo é muito alta”, uma vez que o Reino Unido levou uma nova lei ao seu parlamento que quebra o acordo já atingido.

“O que está a ser discutido [no parlamento britânico], e que vai contra o acordo que foi feito, não dá muita saída à União Europeia”, afirmou o ex-comissário português que assistiu às negociações em Bruxelas desde 2014, quando integrou a Comissão Juncker.

Apesar da nova decisão de Boris Johnson que parece provocar um retrocesso num acordo europeu, Carlos Moedas defende que a “máquina de Bruxelas sabe o que fazer no day after”, bem como o que vai ser afetado. “Está tudo preparado mas apesar de estar preparado, o abanão é forte porque nada disto faz sentido”, reaçou o ex-comissário europeu.

O executivo britânico liderado por Boris Johnson está atuar em várias frentes para tentar controlar a onda de contestação à forma como está a lidar com as negociações para o Brexit – e que motivaram já um alerta da União Europeia, mas também o rompimento das boas relações que o primeiro-ministro mantinha com o seu próprio partido.

Caso a nova proposta de Boris Johnson seja aprovada, a “União Europeia vai ter de impor tarifas e quotas, e vamos voltar a um regime antigo”, sendo que a fórmula criada por Michel Barnier, negociador do Brexit, acompanhada desde o início pelo ex-comissário europeu, “era não ter tarifas e não ter quotas”.

Ainda assim, Carlos Moedas está confiante num acordo favorável para as duas partes. “Penso que a Europa vai resvalar os prazos mas se o Reino Unido aprovar a lei, o acordo vai complicar-se”, defendeu.

Francisco Calheiros, presidente da Confederação do Turismo Português, apontou que “não haver qualquer acordo é como deixar de ter céu aberto”, uma vez que Portugal depende do turismo britânico para sobreviver, especialmente o turismo algarvio. Caso encerrem as fronteiras aéreas com o Reino Unido, os “ingleses deixam de vir a Portugal”, relembrou este dirigente.

“Lembro-me de Barnier falar que esses acordos serão um problema, porque o Reino Unido teria de fazer acordos com cada país, porque o acordo atual foi feito pelo conjunto da União Europeia”. Ou seja, caso o acordado falhe, o Reino Unido deixa de ter as fronteiras aéreas abertas com a Europa, sendo obrigado a realizar acordos singulares com todos os países europeus.

“Temos de ter calma e pensar como, bilateralmente, cada país pode começar a preparar-se para as negociações com o Reino Unido, e penso que Portugal pode começar a fazê-lo sem ultrapassar a União Europeia”, afirmou o ex-comissário europeu, acrescentando adicionalmente que o turismo, a ciência e o comércio são três pilares importantes de trocas entre Portugal e o Reino Unido.

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