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Cinco lições que as tecnológicas deviam tirar da crise

Alexandra Borchardt, diretora de desenvolvimento estratégico do Reuters Institute for the Study of Journalism, aponta as semelhanças entre a banca antes da crise financeira de 2008 e o atual setor tecnológico.
30 Abril 2018, 19h50

A crise económica e financeira, que se iniciou nos Estados Unidos em 2008 e se alastrou a nível global, deixou não só cicatrizes profundas, mas também lições, que deveriam ser aproveitadas pelas gigantes tecnológicas, segundo a diretora de desenvolvimento estratégico do Reuters Institute for the Study of Journalism, Alexandra Borchardt.”Existem muitas semelhanças entre o défice de confiança que ainda assola o setor financeiro e o que está a começar a prejudicar as empresas de tecnologia. Empresas como a Amazon, o Facebook e a Google deviam estudar cinco lições que a maioria dos bancos nunca aprendeu após a crise de 2008″, defende Borchardt, num artigo de opinião publicado no site Project Syndicate.As lições que aponta são as seguintes:

1. “A iliteracia dos consumidores pode ser cara“, diz, sublinhando que pouco antes da explosão da bolha imobiliária, muitos investidores perceberam que não tinham conhecimento dos produtos que adquiriram. Da mesma forma, considera que o engagement tecnológico é semelhante já que empresas, governos e empresas conectam operações inteiras a plataformas que não podem controlar. “A única maneira de mitigar os riscos das novas tecnologias é ser totalmente instruído sobre o que poderia dar errado”, refere.

2. “A segunda lição é que os custos ocultos somam-se“, aponta. Antes da crise financeira, muitos clientes vendiam produtos com taxas escondidas e complementos financeiros que se tornavam passivos massivos. Hoje, mais investidores reconhecem que retornos mais altos implicam riscos mais elevados, mas no negócio de tecnologia, os custos ocultos continuam a atrair consumidores, refere, apontando para custos sociais (como pressão de anunciantes para comprar produtos) ou tangíveis (como entrega de dados pessoais em troca de acesso a um serviço).

3. “Em terceiro lugar, as estruturas de remuneração e incentivos injustas são prejudiciais para os negócios“, explica. Apesar de muito se escrever sobre os bónus recebidos por banqueiros durante o auge da crise financeira, Borchardt sublinha que os CEO do Silicon Valley também não são “Robin Hoods”. “Os empreendedores de tecnologia podem dizer aos investidores que querem mudar o mundo, mas muitos estão intoxicados com a ideia de que o mundo será melhor quando venderem os seus negócios à maior oferta”, alerta.

4. A quarta lição é as empresas estão dominadas por homens que assumem riscos desnecessários. Lembra que durante a crise, muitos argumentaram que uma maior diversidade de género teria mitigado os danos. Em 2010, dois anos após o colapso do Lehman Brothers, Christine Lagarde, então ministra das Finanças da França, brincou, dizendo que a crise teria sido menos dolorosa se a “Lehman Sisters” gerissem o negócio. “A mesma lógica aplica-se ao setor da tecnologia hoje”, refere.

5. Finalmente, sublinha que a economia global está profundamente interconectada: nenhum banco era grande demais para falhar ou ser resgatado. “Isso também é verdade para as maiores empresas de tecnologia”, defende, explicando que o colapso da Amazon ou da Google – por mais invulneráveis que possam parecer – teria efeitos devastadores. “Embora muitos argumentem que seria insensato regulamentar as empresas de tecnologia devido a preocupações com censura e acesso ao conhecimento, essas empresas, assim como as contra-partes no setor financeiro, cresceram demais para serem deixadas à própria sorte”, acrescenta.

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