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Crescimento da produtividade passa pelo investimento

O relatório ‘Investing in produtivity growth’, o McKinsey Global Institute (MGI) analisou o desempenho, nos últimos 25 anos, da produtividade de 125 economias e, em particular, as razões para a sua estagnação.
19 Abril 2024, 13h03

O crescimento global da produtividade nos últimos 25 anos tem sido “assinalável”, com a média europeia a registar um aumento de seis vezes e mais de mil milhões de pessoas a escapar à pobreza só na China e Índia. No entanto, o crescimento abrandou de forma universal, desde a última crise financeira mundial, e cerca de 1,4 mil milhões de pessoas de economias emergentes, ditas “mais lentas”, não convergiram ou ficaram ainda mais para trás.

No recente relatório ‘Investing in produtivity growth’, o McKinsey Global Institute (MGI) analisou o desempenho, nos últimos 25 anos, da produtividade de 125 economias e, em particular, as razões para a sua estagnação. A principal conclusão retirada da investigação é que empresas e decisores políticos, quer de economias avançadas como de economias emergentes, precisam de agir para impulsionar os investimentos que conduzem à produtividade.

“Mais do que nunca urge a aposta no crescimento da produtividade. Atualmente os desafios são maiores, a começar pelas novas oportunidades aparentemente ilimitadas de tecnologias como a IA generativa, mas também pela necessidade de enfrentar o custo de vida, financiar a transição energética e continuar a prosperar à medida que as sociedades envelhecem. Sem crescimento da produtividade, as contas simplesmente não vão bater certo”, afirma Chris Bradley, sócio sénior da McKinsey e Diretor do MGI, citado em comunicado.

“É complicado apontar o que realmente impacta a produtividade, pois existem muitas variáveis. No entanto a nossa investigação apresenta um diagnóstico claro do que é realmente urgente: o investimento. Na maioria das economias, os aumentos do capital por trabalhador podem resultar em 70 a 80% do crescimento geral da produtividade.”

“Em economias avançadas, o crescimento da produtividade começou a abrandar mesmo antes da crise financeira global e mais ainda após este momento, devido a um declínio no investimento e ao fim do crescimento da produtividade na indústria transformadora”, refere Olivia White, sócia sénior da McKinsey e Diretora do MGI.

“Nos EUA, o crescimento da produtividade acelerou nos últimos três trimestres e o investimento no setor tecnológico está a atingir proporções macroeconómicas relevantes. Alguns trimestres não criam uma tendência significativa, mas este cenário pode ser um indicador da sua recuperação.”

Para as economias emergentes, há ações-chave que podem seguir o exemplo de economias de rápido crescimento como a China ou a Índia: aumentar o investimento de capital – para uma urbanização eficaz, para aumentar a dimensão e a produtividade dos setores dos serviços e da construção, para a sofisticação e a interligação global da indústria transformadora – tudo isto apoiado por um ambiente empresarial atrativo.

“O investimento é a pedra angular das economias que tentam estimular o crescimento da produtividade – desde as infraestruturas e as cidades que alimentam as economias até ao equipamento de apoio aos trabalhadores, passando pela adoção e implementação das tecnologias mais recentes”, afirma Jan Mischke, sócio do MGI.

Por outro lado, as soluções normalmente apontadas, como a relocalização da produção e a tentativa de influenciar a combinação de setores, são menos suscetíveis de reacelerar o crescimento da produtividade. Vale a pena procurar melhorar a forma como medimos o PIB e a produtividade, mas os fatores de abrandamento descritos neste estudo são reais e são sentidos de forma intensa, independentemente da medição.

Além do investimento e da tecnologia, o crescimento futuro da produtividade será moldado por cinco grandes desafios: o envelhecimento das populações, o trabalho híbrido, a importância crescente dos serviços, as tensões comerciais e as perturbações nas cadeias de abastecimento, e a transição energética.

As principais conclusões do relatório apontam para as seguintes direções. O último quarto de século foi uma história de sucesso para a produtividade global. A média de produtividade por país aumentou seis vezes. Trinta economias emergentes, com 3,5 mil milhões de pessoas, estão na fase crescente. Se mantiverem este ritmo, poderão convergir para os níveis de produtividade das economias avançadas nos próximos 25 anos.

Contudo, no meio da revolução global, muitas economias passam por uma estagnação da sua produtividade. O crescimento em economias avançadas desacelerou quase um ponto percentual desde a crise financeira global. A este ritmo, as economias emergentes consideradas mais “lentas”, onde vivem 1,4 mil milhões de pessoas, não vão ser capazes de alcançar os níveis das economias avançadas.

Atualmente, o mundo precisa mais do que nunca de crescimento da produtividade. É a única forma de elevar os padrões de vida num contexto do envelhecimento da população, da transição energética, reconfiguração da cadeia de abastecimento e dos balanços globais inflacionados.

Se investirem para recuperar o crescimento obtido antes da crise financeira mundial, as economias avançadas poderão ganhar entre 1.500 e oito mil dólares de aumento do PIB per capita até 2030. Estas economias registaram um abrandamento após duas vagas de crescimento da produtividade na indústria transformadora (impulsionadas pela lei de Moore e pelo offshoring) terem terminado. Os investimentos pós-crise financeira mundial registaram um declínio acentuado e persistente, sem criarem algo que os substituísse. No entanto, atualmente, o investimento direcionado em áreas como a digitalização, a automatização e a inteligência artificial pode alimentar novas vagas de crescimento da produtividade.

O investimento é também o principal motor para as economias emergentes alcançarem ou manterem-se no ritmo de crescimento. As atuais economias nesta fase (China, Índia, algumas zonas da Europa Central e de Leste e Ásia Emergente) mantiveram um investimento elevado, de 20 a 40% do PIB. Canalizaram-no para construir as cidades e infraestruturas que sustentam uma urbanização bem-sucedida, alto crescimento da produtividade nos setores de serviços e transformação. Países no ritmo médio e lento poderiam seguir o mesmo caminho.

Há razões para ter esperança e motivação para agir. Uma inflação e taxas de juro mais elevadas podem sinalizar uma procura mais forte e encorajar a afetação de capital produtivo – desencorajando simultaneamente o aumento da dívida e a inflação dos preços dos ativos das últimas duas décadas. A IA tem potencial para mudar o trabalho de forma rápida e alargada, criando condições férteis para esse investimento.

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