As chamas que consomem há mais de 20 dias as florestas da Amazónia viraram todas as atenções para as políticas ambientais de Jair Bolsonaro. Porém, num espaço de 48 horas, o Brasil foi apenas o terceiro país que mais ardeu no mundo. Angola aparece a liderar o ranking constituído com dados satélite do Moderate Resolution Imaging Spectroradiometer (MODIS) e analisados pela Weather Source.
De acordo com a Bloomberg, que cita dados do satélite MODIS da NASA, lançado em 1999, Angola registou 6.902 incêndios entre 22 e 23 de agosto, o que é mais que o dobro dos 3.395 incêndios na República Democrática do Congo e mais que o triplo dos 2.227 incêndios registados no Brasil no mesmo período. A Zâmbia é o quarto país com mais fogos nos últimos dois dias. Em quinto surge a Austrália enquanto a Bolívia, vizinho do Brasil na Amazónia, vem em sexto.
Apesar de não ser um cenário invulgar na África Central, a agência de notícias escreve que em apenas uma semana, no mês de junho, foram registados 67 mil incêndios enquanto os agricultores faziam queimadas.
O ministro angolano da Comunicação Social, João Melo, desvalorizou as notícias que colocam Angola no topo dos países com incêndios e diz que “não faz sentido comparar com a situação na Amazónia”.
As queimadas em África, incluindo, obviamente, Angola são um problema, que precisa de ser resolvido. Mas confundir fotos de capim a arder na nossa região com incêndios massivos em florestas é brincadeira. E misturar isso com politiquice barata, é pior ainda. Lamentável.
— João Melo (@joaomelo_ao) August 24, 2019
Também o mapa do Global Forest Watch Fires (GFWF), um sistema dinâmico de monitorização de fogos e alerta de incêndios com informação quase em tempo real, retrata bem o cenário. É certo que a área correspondente à Amazónia constitui uma mancha vermelha assinalável mas o centro e o sul do continente africano estão ainda mais carregados.
De acordo com o GFWF, no período compreendido entre 19 e 26 de agosto, Angola figurava no topo da tabela de alertas de fogo, com 135.195, o Congo vinha em segundo, com 104.243, e só depois o Brasil, com 88.135. Zâmbia, Rússia, Bolívia, Moçambique, Austrália, Tanzânia e Indonésia compunham o top 10 de alertas mundiais
71% dos fogos florestais globais ocorrem em África
O continente africano é vítima de 71% dos fogos globais, constata a NASA. A maioria dos fogos acontece com o objetivo de preparar o solo para a época da colheita. Há duas épocas distintas, devido às características do clima: entre novembro e março, na África subsariana, e de junho a setembro, no Sul de África.
Estes fogos acontecem várias vezes ao ano e em diferentes partes do continente e são, sobretudo, fogos agrícolas, com alguns a ficarem descontrolados. Contribuem para fertilizar a Amazónia, a milhares de quilómetros de distância, com fósforo, dizem os especialistas, e até ajudam a arrefecer o planeta. Mas também contribuem para o efeito de estufa.
Algumas estimativas sugerem que as emissões de carbono destes incêndios podem exceder 400 milhões de toneladas todos os anos, das quais 6.7 milhões são partículas microscópicas, escreveu o site The Conversation. Entre estas, há 375 toneladas de partículas negras capazes de absorver a luz solar. “Calcula-se que os incêndios contribuem entre 25 a 35% para as emissões anuais de gases de efeito de estufa”, afirma a NASA.
Os fogos na Amazónia parecem também contribuir para o aumento das emissões de dióxido de carbono. De acordo com o Serviço de Monitorização Atmosférico Copernicus (Cams), o fumo, que chegou até escurecer os céus em São Paulo, está a viajar na direção do Atlântico.
Os incêndios têm libertado uma grande quantidade de dióxido de carbono, equivalente a 228 megatoneladas até agora num só ano, segundo o Cams, atingindo o nível mais elevado desde 2010. Além disso, estão a emitir monóxido de carbono, um gás libertado quando a madeira é queimada e não tem muito acesso ao oxigénio.
Os mapas da Cams mostram que este monóxido de carbono, que é altamente tóxico, está a ser transportado além do litoral da América do Sul.
From the other side of Earth, here’s the latest on the Amazonia fires ?
— World Meteorological Organization (@WMO) August 20, 2019
Produced by @CopernicusEU’s atmosphere monitoring service, it shows the smoke reaching the Atlantic coast and São Paulo ??
DATA HERE▶️https://t.co/Q6qzFdPfIT pic.twitter.com/aJKU2YwRpJ
Bolsonaro aceita ajuda de Israel e G7 aprova pacote de combate aos incêndios
O presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, anunciou neste domingo que aceitou o envio de um avião por parte de Israel para dar “apoio especializado” ao trabalho das Forças Armadas brasileiras no combate aos incêndios na Amazónia.
“Aceitamos o envio, por parte de Israel, de uma aeronave com apoio especializado para colaborar connosco nesta operação”, escreveu Bolsonaro, na rede social Twitter, depois de um telefonema com o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu.
As imagens da Amazónia em chamas suscitaram uma comoção mundial e colocaram o assunto no centro das discussões do G7, que decorreu este fim-de-semana, apesar da relutância inicial do Brasil.
Contudo, e apesar dos conflitos entre Bolsonaro e o presidente francês Emmanuel Macron, os países do G7 aprovaram um pacote de emergência, no valor de 20 milhões de dólares (18 milhões de euros), para ajudar os países a combater os incêndios na Amazónia. Macron adiantou que a medida foi apoiada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, embora este não tenha comparecido na sessão de trabalho sobre o ambiente. Macron disse que a Amazónia representa os “pulmões” do planeta e que os líderes do G7 estavam também a ponderar a possibilidade de providenciar o mesmo tipo de ajuda a países africanos, que também estão a sofrer incêndios nas suas florestas.
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