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“Goste-se ou não, Bruno de Carvalho vale um milhão de euros a mais de quotizações”

Um ano depois das agressões de Alcochete, Carlos Vieira analisa o atual momento do Sporting e sobre a pespetiva de ser campeão nos próximos anos, admite que “podem sempre existir ‘cisnes negros’”.
  • Cristina Bernardo
1 Junho 2019, 17h00

“Foi claramente a pior semana da minha vida, uma semana horribilis mesmo”. Carlos Vieira, vice-presidente do Sporting na altura da invasão à Academia de Alcochete, quebrou o silêncio em entrevista ao Jornal Económico sobre o momento que, apesar de tudo, não considera ser “o mais negro da história do clube ou do futebol português”. O antigo número dois de Bruno de Carvalho recorda que as agressões na Academia de Alcochete aconteceram num momento em que se preparava o lançamento de um empréstimo obrigacionista e “numa altura muito complicada do ponto de vista do modelo de governação do clube, tendo em conta que existia um ambiente de muita instabilidade e crispação entre órgãos sociais”. De qualquer forma, e relativamente à divulgação da auditoria (dois relatórios da auditoria de gestão relativos ao período de junho de 2013 a junho de 2018), Carlos Vieira realça ter ficado “satisfeito com o resultado” uma vez que “da minha parte, não houve nada a apontar”.

Mais um milhão de euros em quotizações

E que consequências teve esse momento na vida do Sporting e na forma como o clube se está a organizar? Para Carlos Vieira, que foi suspenso da sua condição de sócio do clube por nove meses e chegou a candidatar-se para suceder a Bruno de Carvalho, existe o reconhecimento de que “podia ter feito as coisas de maneira diferente e que os meus colegas poderiam ter agido de outra forma”. No entanto, o ex-dirigente dos ‘leões’ destaca o trabalho da anterior direção e recorda aquilo que Carlos Vieira define como “questões de liderança e de capacidade agregação”: “gostando-se ou não do estilo de Bruno de Carvalho, o antigo presidente do Sporting representava cerca de um milhão de euros a mais de quotizações. Acredito que a diferença de quotizações do ano passado para este ano vai ser menor em cerca de um milhão de euros, ou seja, menos 15% a 20% do valor atual. Dizem que os presidentes não ganham campeonatos mas podem ganhar de várias maneiras, por exemplo num mecanismo de agregação, de atração. Quando a direção de Bruno de Carvalho entrou, o Sporting faturava cinco milhões de euros em quotizações e saiu com uma receita de 10 milhões de euros em quotas”.

Sporting campeão? “Podem sempre existir ‘cisnes negros’”

Carlos Vieira, ex-vice-presidente do Sporting, abordou para o Jornal Económico aquela que deve ser, no seu entender a estratégia desportiva dos ‘leões’. Para o ex-dirigente dos ‘leões’, “sem dinheiro não há capacidade de fazer investimento e, consequentemente, não há vitórias”. E pode o Sporting ser campeão nos próximos anos? Carlos Vieira não mostra grande otimismo mas acredita que “podem sempre existir ‘cisnes negros’ como aconteceu com o Leicester City na Premier League”. Recordando o investimento no futebol da anterior direção do clube, este antigo dirigente realça que o Sporting “conseguiu equiparar-se aos rivais ao nível do investimento e principalmente no que diz respeito à massa salarial”. No entanto, e numa análise ao que pode ter desencadeado os acontecimentos em Alcochete, Carlos Vieira sublinha que “aquela derrota na Madeira resultou em menos 20 milhões de euros para o Sporting e mais 40 milhões de euros para o adversário direto que estava em terceiro lugar”. “Com isto”, prossegue Carlos Vieira, “o rival de Lisboa fica muito mais à vontade, pode dar-se ao luxo de renovar o contrato de João Félix e pagar-lhe o que o jovem jogador poderia receber na Premier League”.

Gelson? “Existiram propostas superiores”

No dia em que se cumpriu um ano sobre o ataque à Academia de Alcochete, o que resultou no pedido unilateral de rescisão de contrato de nove jogadores, o Sporting tornou público o acordo com o Atlético de Madrid por Gelson Martins. No total, e relativamente aos atletas que o clube de Alvalade conseguiu chegar a acordo com os clubes que os contrataram, esses processos geraram um retorno um pouco acima dos 60 milhões de euros. O tema das rescisões foi também alvo de comentário por parte de Carlos Vieira: “o que eu faria relativamente aos jogadores que rescindiram, seria ir ao limite porque há ali uma verba potencial. Se concordo com a operação que foi anunciada há pouco, relativamente a Gelson Martins, digo claramente que não. Sei que no período de gestão de Sousa Cintra existiram propostas superiores a estas e que havia margem para negociar”.

Para o futuro, Carlos Vieira considera que, em Portugal, os clubes ‘grandes’ “têm que tomar uma decisão”: “apostam nas competições europeias ou nas competições nacionais. Se calhar, o Sporting terá, nos próximos anos, de fazer uma aposta ao nível das competições domésticas”.

Artigo publicado na edição nº1989, de 17 de maio do Jornal Económico

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