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Importação de carros mostra “resiliência” do mercado automóvel português, diz Standvirtual

O número de viaturas importadas quase dobrou desde 2020, para um total de 110 mil em 2023. Em entrevista ao JE, o general manager do Standvirtual assinalou que o sector conseguiu adaptar-se à falta de veículos novos.
24 Abril 2024, 14h06

Os números do sector automóvel português demonstraram a escassez de veículos novos após o período do pandemia, mas os comerciantes souberam adaptar-se. A importação de veículos que partiram de países como Alemanha, França, Itália ou Espanha, permitiu fazer face às dificuldades e colocar a oferta a corresponder à procura.

A explicação é do general manager do Standvirtual, em entrevista ao Jornal Económico (JE). Nuno Castel-Branco afirmou que as viaturas importadas assumiram um papel de grande importância na recuperação do mercado nacional, após a queda que se iniciou em 2020, no período de pandemia.

Para 2024, aponta a uma tendência para a “estabilidade em alta” e assinala que o eventual recuo da inflação, a par do tão procurado corte nos juros do BCE deverá estimular o sector automóvel em Portugal.

Em 2023, os números do mercado português aproximaram-se dos números anteriores à pandemia de 2019. Isto é uma tendência para manter em 2024? Será possível igualar 2019?

Há uma série de fatores que é preciso ter em conta para fazermos esse enquadramento. Ou seja, a primeira coisa que está aqui em cima da mesa é que, de facto, há uma recuperação muito significativa do lado dos veículos novos. O mercado português é um mercado particularmente sofisticado e que opera de uma forma mais próxima dos mercados anglo saxónicos, onde o tema dos carros novos tem muita importância.

Antes da pandemia, em 2019, foi um ano bastante razoável em termos de ligeiros de passageiros. Andámos próximo dos 220 mil carros matriculados. Isto na altura da pandemia veio para menos de 150 mil carros em 2020 e 2021. Foi um rombo no mercado, que caiu 30 a 35%.

No ano passado voltámos a recuperar para os 200 mil carros e a nossa expetativa é que este crescimento esteja mais ou menos a atingir o platô e talvez este ano também não estejamos muito diferentes disto. Agora vamos estar nos 205 ou 210 mil, no máximo. Mas a verdade é que há uma recuperação significativa dos carros novos e o mercado como um todo também recupera.

De que forma é que isto acontece?

Há mais carros a serem entregues nas gestoras de frota e isto quer dizer que têm de renovar contratos colocam mais carros no mercado independente. A mesma coisa nos rent-a-car. Quando não tinham carros novos para substituir, andavam com os mesmos carros durante dois ou três anos em frota… e agora não. A cada seis meses ou todos os anos estão a mudar a frota, ou seja, para além dos novos que entram, há também mais usados.

Isto gerou um efeito no mercado que é relativamente particular e que vale a pena ter em atenção. O mercado português, nomeadamente o mercado independente, é um mercado relativamente resiliente.

Em que sentido é que diz isso?

Os operadores têm outras capacidades de se mexerem, ao comparar com os operadores franchisados, que é, se nesta altura o ciclo do produto de uma marca não é bom, o concessionário não vende grande coisa. Não há nada a fazer. Quando se é um operador independente, se a dada altura o público não está a querer comprar um Mercedes de 30 mil euros e o que está a vender é o [Renault] Clio, ele pode adaptar-se.

E o que aconteceu no mercado? Independentemente dessa adaptação, que já é normal dos independentes, surgiu a situação de que não havia carros no mercado. Para se ter uma ideia, antes da pandemia, em 2019, estaríamos a falar de perto de 80 mil carros importados em Portugal. Isso em 2020 caiu para 60 mil. Neste momento, estamos praticamente no dobro, ou seja, no ano passado foram cerca de 110 mil carros importados. Ou seja, o mercado português adaptou-se e, pela falta de novos, disse ‘Eu preciso de carros; o que é que vou fazer? Vou importar’. Foram à Alemanha, França, Itália e Espanha comprar carros. Como os preços também subiram, foi possível comprar carros lá fora, mesmo com os impostos que é preciso pagar para trazer os carros.

O mercado português passou a importar um bastante mais do que importava, nomeadamente há quatro anos eram cerca de 60 mil carros e no ano passado atingiu o dobro, perto dos 120 mil. Nesse sentido, criou uma dinâmica bastante positiva no mercado, o que quer dizer que, quando olhamos para as vendas domésticas a nível nacional, o mercado mostra essa resiliência. E isto quer dizer que ainda não atingimos o número de transações do IMT no ano de 2019, mas já estamos relativamente perto.

O mercado manteve-se estável e, apesar de ter caído pós-Covid, tem vindo a recuperar. O mercado dos importados praticamente dobrou, o que quer dizer que os independentes, que são os que fazem esse negócio dos importados, cresceram. O mercado doméstico dos usados manteve-se estável, mas os importados duplicaram, o que quer dizer que o mercado independente demonstra aqui um crescimento interessante.

Esse crescimento no mercado português está muito ligado aos mercados europeus, mas estes mercados também têm crescido, como o mercado português? Há uma tendência similar?

Este efeito foi transversal aos vários mercados. O que acontece é que houve mercados que eventualmente, por exemplo, a queda dos novos não impactou tanto, porque são mercados que estão menos dependentes de novos. Por exemplo, os países de Leste importam muito mais, mas os países do centro da Europa, que estão muito baseados também em novos, também sentiram isso. Todos eles estão a sentir a recuperação neste momento.

E para 2024, quais são as vossas expetativas? É de esperar que a tendência de subida dos números se mantenha?

Nós achamos que no próximo ano o mercado de novos vai crescer um bocadinho, mas nada de especial. Talvez 5%, no máximo. Vai manter-se à volta de 200 ou 210 mil carros.

Ou seja, haverá aqui alguma estabilidade. Como há uma estabilidade em alta, provavelmente vai fazer também, de alguma forma, estabilizar os importados, porque se continuasse a haver falta de carros, as pessoas iam lá fora comprar carros. E por isso é de esperar uma certa estabilização. Eu diria que é o mesmo que se espera para o mercado interno, que tem estado relativamente estável. Importados também vão estabilizar um pouco mais, se é que eu tenho alguma retração, porque com o aumento de novos vai haver mais carros no mercado nacional, ou seja, a saírem das gestoras de frota e do rent-a-car.

Eu acho que aquilo que nós podemos antecipar para este ano não é particularmente um ano de crescimento, mas é de uma certa estabilização a nível dos valores de novos. E que no fundo vai colocar mais produto a nível nacional e nesse sentido devemos esperar a mesma estabilização pelo lado dos independentes, especialmente porque, como há um movimento de os novos estabilizarem em alta, não haverá tanta necessidade de importar carros.

Mas, de qualquer das formas, o agregado da combinação dos carros usados já no país com os importados que entram provavelmente manterá alguma estabilidade no mercado independente também.

Este ambiente macroeconómico, com abrandamento da inflação e com um eventual corte nos juros que parece cada vez mais próximo beneficia a aceleração do mercado português?

É um ponto muito relevante. Estamos a assistir a uma melhoria da confiança por parte dos consumidores desde o início deste ano. Esse aumento do Índice de Confiança do Consumidor, se ele vier a ser combinado com uma redução dos juros. Naturalmente teremos aqui uma combinação que vai poder ajudar a acelerar o mercado.

De facto, o acesso ao crédito poderá ser de facto melhorado. Mesmo assim, nestes últimos anos 2020 até 2023, apesar do aumento dos juros, o número de novos contratos ao consumidor tem vindo a subir e houve pressão com o aumento das taxas de juro. Agora, se a taxa de juro baixar e o índice de confiança subir, eu acho que é de esperar mais financiamento, que vai dar mais espaço às famílias para endividarem e vai ajudar a acelerar o mercado, inevitavelmente.

A única coisa que eu acho que temos de ter em atenção é que eu acho que o Banco Central Europeu ainda não cortou os juros porque existem algumas dúvidas no mercado em relação à evolução dos preços do combustível e das energias e por isso está se um bocadinho a observar a ver se esses preços continuam a subir. Isto pode ter um impacto grande a nível das taxas de juro e também na expectativa sobre o controlo da inflação.

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