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Itália: Bruxelas ganhou o braço de ferro com Roma

O governo italiano lança mensagens de abertura sobre os pedidos da Comissão Europeia para correção e redução do défice.
  • Giuseppe Conte
27 Novembro 2018, 07h38

“O défice? Não vamos ficar obcecados por umas décimas”. Foi com estas palavras que o líder da extrema-direita da Liga e vice-primeiro-ministro de Itália (para além de ministro do Interior) pretendeu produzir mais uma frase engraçada sobre a União Europeia, mas só conseguiu dar a entender que a resistência do governo de Roma está a ceder perante a pressão contra o Orçamento de Estado enviado há umas semana para Bruxelas e liminarmente recusado em toda a linha.

Está assim prestes a desfazer-se aquilo que parecia ser uma fronteira inexpugnável: os pressupostos principais do Orçamento italiano, que determinavam o aumento dos salários, uma baixa dos impostos e uma alegre despreocupação face ao défice e à dívida – na convicção de que uma economia a crescer consegue pagar tudo.

Matteo Salvini abriu as portas a mudanças substanciais na política orçamental – precisamente porque, para Bruxelas, como Portugal bem sabe, todas as décimas contam – e todas eles são capazes de gerar procedimentos disciplinares – o que desde logo quer dizer menores transferência de Bruxelas para o país prevaricador.

Salvini disse em entrevista que “se os orçamentos fazem o país crescer, o défice pode ser de 2,2% ou 2,6%… Não é um problema de décimas, mas de seriedade e concretização”.

Nas fileiras do M5S, o partido que está coligado com a Liga no governo liderado por Giuseppe Conte, parece haver também um afrouxamento da disciplina em torno das contas apresentadas e reprovadas por Bruxelas: depois de ter dado várias entrevistas em que afirmava que os pilares do Orçamento não seriam tocados, o líder do movimento, Luígi Di Maio parece estar mais capaz de diálogos.

O ponto de viragem parece ter sido uma reunião entre Giuseppe Conte e o presidente da Comissão Europeia, Jean Claude Juncker, durante este fim-de-semana. E desta vez ambos os líderes partidários mostraram sinais de quererem encontrar uma solução que evite o processo por violação de défices excessivos aberto contra a Itália.

O M5S, muito mais fechado às alterações do Orçamento, teme uma crise do governo que leve a eleições antecipadas e à erosão dos seus bons resultados – em favor do partido de Salvini, que pode chegar aos 33% dos votos, segundo as últimas sondagens. A Liga, menos pressionada pelas sondagens (antes pelo contrário), pode estar à espera dos resultados económicos de 2018 para tomar uma decisão sobre esse assunto sempre presente: as eleições antecipadas.

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