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Líbano tem um novo ‘velho’ primeiro-ministro

No meio de um colapso financeiro sem precedentes, o multimilionário Najib Mikati foi nomeado primeiro-ministro, regressando a um lugar que já antes ocupou por duas vezes. O Presidente Michel Aoun parece não fazer parte do grupo de apoiantes.
  • REUTERS/ Mohamed Azakir
27 Julho 2021, 07h55

O Líbano tem a partir desta segunda-feira novo primeiro-ministro: o empresário multimilionário Najib Mikati – que foi primeiro-ministro duas vezes: por um breve período de três meses em 2005 e de 2011 a 2013 – depois de obter uma clara maioria de 72 votos na câmara.

Um dos homens mais ricos do Líbano, Mikati tornou-se o favorito para o cargo depois de ser designado pela maioria dos partidos políticos do Líbano e também pelo poderoso grupo militante Hezbollah, apoiado pelo Irão. Mikati tem também o apoio de ex-primeiros-ministros sunitas – incluindo Saad Hariri, que assim abandonou esforços para formar um governo depois de falhar um acordo nesse sentido com o Presidente libanês, Michel Aoun sobre a composição do gabinete.

Mas falta-lhe algo de fundamental: o apoio dos partidos cristãos, incluindo o do próprio de Aoun, agora liderado por seu genro Gebran Bassil. Mesmo assim, a França e os Estados Unidos já manifestaram o seu apoio à nomeação.

O impasse político produzido pela luta entre Aoun e Hariri – centrada nos direitos constitucionais, poderes e limites dos cargos de Presidente e de primeiro-ministro – aprofundou uma crise económica e financeira paralisante, que assola o país desde as explosões de agosto passado na capital, Beirute.

Os analistas colocam dúvidas sobre a capacidade de Mikati proceder ao ‘milagre’ de desenvolver a economia e paralelamente introduzir alguma acalmia na frente política: o milionário é considerado uma extensão da classe política que levou o país à falência.

A pobreza aumentou nos últimos meses, com uma terrível escassez de medicamentos, combustível e eletricidade. A moeda perdeu cerca de 90% de seu valor em relação ao dólar, o que induziu a hiperinflação.

A designação de Mikati é a terceira desde que o governo interino liderado por Hassan Diab renunciou, após a explosão no porto de Beirute. Desde então, o gabinete de Diab foi apenas interino, agravando ainda mais a situação no Líbano.

O primeiro a tentar formar um governo foi o ex-embaixador do Líbano na Alemanha, Mustafa Adib, que renunciou em setembro passado, quase um mês depois de ser designado primeiro-ministro. Saad Hariri foi nomeado de seguida mas desistiu na semana passada, após dez meses de governo.

Para além das reformas, o novo governo enfrenta também a retoma das negociações com o Fundo Monetário Internacional para a aceitação de um pacote de resgate – que será o primeiro passo para a ajuda internacional, que se recusa a regressar a um país onde a corrupção generalizada e a má gestão são os elementos mais óbvios da tensão a que a população está submetida.

A investigação sobre a explosão do porto em 4 de agosto (em que morreram mais de 200 pessoas) – desencadeada pela detonação de centenas de milhares de toneladas de nitrato de amónio indevidamente armazenado – exacerbou as tensões no país, no meio a acusações de interferência política no trabalho do judiciário.

Mikati, um sunita, fundou a empresa de telecomunicações Investcom com seu irmão Taha na década de 1980 e vendeu-a em 2006 aos sul-africanos do Grupo MTN por 5,5 mil milhões de dólares.

 

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