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Marques Mendes: “Nestas condições, [Costa] falhar a maioria absoluta é como no futebol falhar um penalti”

Marques Mendes falava do balanço de 3 anos de Governo. Sobre a visita do presidente de Angola, diz que “a grande novidade concreta desta visita é que a Sonangol não vai sair do BCP. O que é muito importante porque é uma aposta de confiança no potencial do banco”.
25 Novembro 2018, 23h34

Luís Marques Mendes, no seu habitual comentário de domingo na SIC, escolheu fazer a análise dos três anos de Governo.

“O Governo surpreendeu positivamente na estabilidade política e na redução do défice; fez os serviços mínimos na economia, cresce mas de forma anémica; e tem tido condições excepcionais para governar no próximo ano, incluindo o apoio do Presidente da República e o mau estado do PSD”, disse o comentador que concluiu: “Se [António Costa] com estas condições não conseguir uma maioria absoluta em 2019, é mesmo só por culpa própria, por falta de competência ou por aselhice política. Nestas condições, falhar a maioria absoluta é como no futebol um avançado falhar um penalti. Pode acontecer, mas é normalmente por culpa de quem falha”, rematou Marques Mendes.

O comentador lembrou “que o PS quer maioria absoluta”, citando Carlos César.

No seu balanço, Marques Mendes diz que “Mário Centeno saiu melhor que a encomenda”, uma vez que é “a par do primeiro-ministro,  o grande trunfo do Governo”. O comentador considera que o Ministro das Finanças traz credibilidade  e prestígio na Europa e nos mercados.

Elege ainda Augusto Santos Silva para dar nota positiva, pois “é o Ministro com mais peso político junto de Costa e aquele que tem o pensamento político mais sólido e estruturado”.

Em terceiro lugar enuncia Maria Manuel Leitão Marques, Ministra da Presidência e da Modernização Administrativa, “sempre discreta e sempre a marcar pontos. Ainda esta semana, pela sua mão, Portugal entrou para o Club D9 (o clube dos 9 países mais avançados do mundo no governo digital)”, lembrou.

Depois surge Vieira da Silva, Ministro do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, que Marques Mendes considera ser “o Ministro insubstituível em qualquer governo PS”, podendo mesmo ” ser o Ministro das Finanças do próximo Governo”. Desta forma o comentador descarta a hipóteses de ser Ricardo Mourinho Félix, Secretário de Estado Adjunto e das Finanças, o sucessor de Mário Centeno num próximo Governo, caso o PS ganhe as eleições.

João Pedro Matos Fernandes, “é uma das maiores revelações deste Governo. Dos poucos que têm espírito reformista. E sai agora reforçado com a área da energia”, lembra Marques Mendes.

Com nota suficiente surge para o comentador surge o Ministro da Agricultura, Capoulas Santos. “Praticamente dos melhores. É experiente e competente. Tem o sector sossegado e fez a importante reforma florestal”, diz.

Já Pedro Siza Vieira, o advogado que é ministro adjunto e da economia, “tem grande peso junto do primeiro-ministro. Mas falta-lhe ainda uma decisão marcante para estar entre os melhores”, diz Marques Mendes.

Por sua vez Eduardo Cabrita, “é muito melhor no MAI do que antes como Ministro Adjunto. E pode vir ainda a subir na escala”. Já Francisca Van Dunen é para Marques Mendes “uma magistrada muito competente. Mas em termos de resultados fica aquém das expectativas inicialmente criadas”.

Depois é a vez do Ministro do Planeamento e das Infraestruturas passar pelo crivo opinativo de Marques Mendes. “Pedro Marques, começou bem mas ultimamente acumula várias desilusões: atrasos nos Fundos e no novo aeroporto; e a falta de investimento nos comboios”, disse o comentador.

Já Ana Paula Vitorino é para Marques Mendes “uma técnica competente. Mas que tarda em deixar uma marca na sua governação”.

Marques Mendes escolhe para dar nota negativa o ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Manuel Heitor que “prometeu muito à partida mas à chegada acumula problemas, desilusões e grandes descontentamentos nos sectores que tutela”.

Não é novidade que Marques Mendes considera uma desilusão Tiago Brandão Rodrigues, ministro da educação a quem volta a chamar de “erro de casting”. “É um Ministro muito querido na geringonça mas um mal-amado no país” diz o comentador que o considera “melhor a investigar que a governar”.

Os ministros que só chegaram há um mês, não foram avaliados pelo comentador.

Depois, também sem surpresas, diz que Pedro Nuno Santos, “tem um peso político superior à maior parte dos ministros e um papel decisivo na coordenação parlamentar da coligação. É dos poucos que têm um pensamento próprio e apoios fortes no PS”.

“É muito provavelmente o sucessor de António Costa no PS”, diz.

Ao nível dos secretários de Estado destaca Mariana Vieira da Silva, “uma jovem de talento em ascensão”; Ana Mendes Godinho; Alexandra Leitão que diz “pode vir a ser a futura Ministra da Educação”. Mas também Cláudia Joaquim, que, segundo o comentador, “pode substituir Vieira da Silva se este transitar para as Finanças” e por fim Mourinho Félix.

Marques Mendes volta a chamar o primeiro-ministro António Costa de
“abono de família do Governo e tem feito história. Perdeu as eleições mas foi chefe de Governo. Construiu uma solução governativa inédita de Governo. Vai cumprir os quatro anos da legislatura. E deixa o país com a economia a crescer e com o défice mais baixo de sempre em democracia”.

Para o comentado, foi Costa “o grande salvador político do PS. Se não fosse o seu talento político e a ajuda inestimável do PCP e do BE o PS passaria oito anos seguidos na oposição e provavelmente estaria hoje num estado semelhante ao do PSD”, disse Marques Mendes.

Mas deixa ainda um alerta “falta agora saber como será no futuro, governando com menos facilidades, em tempo de “vacas mais magras” e já sem o contraste com o ciclo da troika”.

Em termos de pontos positivos do Governo, Marques Mendes aponta a estabilidade política desta solução governativa; a redução do défice; o crescimento da economia, embora à boleia da Europa; a devolução de rendimentos, que o comentador considera “justa, apesar do calendário apertado”; e por fim “o reforço do sistema financeiro”.

Já com nota negativa, Marques Mendes aponta ao Governo os tiques de arrogância, “são vários e podem comprometer a ideia da maioria absoluta”.

“Má gestão das questões de Estado (Tancos e fogos)”, é o “grande falhanço”, adianta.

Mas o ponto negativo mais relevante apontado pelo comentador é a “fraca redução da dívida pública”, disse acrescentado que “é a grande oportunidade desperdiçada” dado o crescimento económico.

Depois Marques Mendes aponta a ausência de medidas de fundo, dizendo que o Governo não é reformista.

Por fim como ponto negativo surge o crescimento económico aquém do desejável. “A maior parte dos países que competem connosco na Europa cresceu mais do que Portugal”.

Visita do presidente angolano a Lisboa 

Marques Mendes fez ainda a análise à visita de João Lourenço a Portugal, dizendo que no plano político “normalizou em definitivo as relações Portugal/Angola”, confirmando que “o irritante desapareceu”.

Já no plano económico, “Angola bateu no fundo e precisa de muito investimento, e rapidamente. E nessa altura vai precisar mais de Portugal do que de qualquer outro país do mundo, porque os portugueses são os que lá estão e os que conhecem melhor Angola, por isso podem garantir esse investimento rápido, criando riqueza e emprego”, realçou.

Marques Mendes diz que “os chineses, americanos, franceses ou alemães também prometem mas demoram tempo a agir”. Portanto “Angola precisa de Portugal e é uma grande oportunidade para os empresários portugueses, se tiverem visão e capacidade para investir”, disse ainda .

João Lourenço fez uma visita oficial de três dias a Portugal e assinou 13 acordos bilaterais.

Sonangol não vai sair do BCP

“A grande novidade concreta desta visita é que Angola não vai sair do BCP. Desfez assim um tabu que existia. O que é muito importante para o Millennium BCP, porque é uma aposta de confiança no potencial do Banco. Afirma-o como instrumento essencial para a relação dos empresários portugueses e angolanos no investimento em Angola”, destacou Marques Mendes.

O Presidente angolano, João Lourenço, deu ontem a entender que não é intenção da petrolífera estatal Sonangol sair da estrutura acionista do banco português BCP. Isto depois de em entrevista ao Expresso ter dito o contrário. João Lourenço na entrevista antes da visita disse que “a tendência [sair do BCP] é essa”, admitindo não seria no imediato.

O chefe de Estado de Angola desfez o tabu ontem em conferência de imprensa, em Lisboa, no encerramento da visita de três dias que realizou a Portugal, sobre a venda de vários ativos da Sonangol, tendo referido – sem mencionar nomes – que recebeu na sexta-feira, em reunião privada, os responsáveis de um banco português. “Mas já agora posso dizer que há uma empresa portuguesa que me procurou ontem [sexta-feira], muito preocupada, para saber se a Sonangol ia sair ou não. Em princípio, nós sossegamos essa empresa, dizendo que pode dormir descansada”, disse João Lourenço que acrescentou, “estou a referir-me a um banco”.

Em Portugal a Sonangol tem apenas participações diretas e indiretas no BCP (onde detém uma posição de 19,49 % do capital social, segundo a informação disponível no ‘site’ do banco datada de 30 de junho) e na Galp.

O comentador Marques Mendes diz que Angola, no plano económico, “está em passo acelerado para a instalação de uma economia de mercado”, e que “no plano político, há vários sinais positivos na liberdade de imprensa, na independência da justiça e no combate à corrupção”.

O regime anterior ligado a José Eduardo dos Santos está em desespero e há várias elites que estão preocupadas, com meio de investigações criminais e do repatriamento de capitais. É o preço a pagar por uma mudança profunda e necessária”, refere Marques Mendes que considera João Lourenço uma estrela em ascensão. “Mas o povo está feliz”, disse ainda.

Em Borba o presidente da Câmara tem de se demitir

Sobre a derrocada da pedreira de Borba que fez ruir estrada de Borba a Vila Viçosa, Marques Mendes realçou que “somos um país de contrastes”. Por um lado “organizamos a Web Summit – o expoente máximo da modernidade e revolução tecnológica, – e um mês depois temo o colapso de uma estrada e infelizmente com várias mortes”. O que para o comentado revela a falência do Estado e a falta de investimento público. Faltam recursos para “as funções básicas do Estado”.

“Os portugueses são bons a fazer obra pública nova, mas são muito maus na conservação da obra pública que já existe”, disse o comentador que acrescentou que “descuramos a função de fiscalização que é essencial”.

Por fim “passamos muito tempo a discutir o sexo dos anjos, a discutir coisas que são acessórias, por exemplo o IVA das touradas, o que, com toda a franqueza não é uma questão essencial do país e só discutimos o que é essencial (como a segurança das nossas infraestruturas) quando há uma tragédia”, disse.

Neste caso, tem de haver responsabilidades.  Ao nível das responsabilidades criminais, o Ministério Público abriu, e bem, abriu um inquérito e uma investigação. Para saber se houve culpa ou negligência. Esta é a chamada responsabilidade subjectiva.

Por outro lado, “há responsabilidades políticas”. Marques Mendes lembrou que quando caiu a Ponte de Entre-os-Rios, demitiu-se o então Ministro Jorge Coelho, assumiu a responsabilidade política porque era o ministro do setor.

“Se a estrada que colapsou em Borba fosse uma estrada nacional, algum ministro se teria demitido, ou então estaria tudo a exigir a demissão do Ministro da tutela”, disse. Como a estrada é municipal, é responsabilidade do município, “a primeira responsabilidade é do Presidente da Câmara de Borba, que se devia demitir de imediato. Já o devia ter feito assumindo a sua responsabilidade política.

“Quem está no topo da hierarquia, quem tem o poder de fechar ou não fechar a estrada, tem de assumir a sua responsabilidade política, sobretudo quando está em causa a segurança dos cidadãos”, disse.

“E, neste caso, com uma agravante, o Presidente da Câmara sabia há vários anos que havia este risco. O jornal online Observador divulgou uma acta da Assembleia Municipal de Borba, de 27 de dezembro de 2014, em que empresários dos mármores alertavam o autarca que havia perigo naquela pedreira”, disse o comentador que lembra que o autarca devia ter imediatamente mandado fechar aquela estrada, e proceder às averiguações dos riscos apontados.

O Governo podia e devia ter agido de modo diferente, defendeu. “O primeiro-ministro ou algum Ministro devia ter ido a Borba, como foi o Presidente da República, que falou logo no primeiro dia, enquanto António Costa falou no 3º dia, com frieza e calculismo político dizendo que o Governo não tem culpa”.

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